segunda-feira, 27 de outubro de 2014

CINEMA - c r í t i c a / d i c a - "Celeste E Jesse Para Sempre" - por Tito Oliveira

Lançado em 2012, "Celeste E Jesse Para Sempre" é a tradução literal do título original de um filme dirigido pelo jovem Lee Toland Krieger, também idealizador do premiado "The Vicious Kind", de 2009.

O roteiro é escrito por Rashida Jones e Will McCormack, que atua no filme interpretando Skillz, fornecedor de maconha do casal. 

Para roteiristas iniciantes, o trabalho é visivelmente espirituoso, ainda que esbarre em clichês. 

Alguns problemas nas falas são questionáveis. O personagem Celeste, da atriz Rashida Jones, por exemplo, é uma especie de prognosticador da tendência bem sucedida que repete jargões cansativamente.  

A fotografia não sugere nada.

Porém não existem grandes erros de continuidade, a não ser pela situação de quando Paul (Cris Messina) pede cervejas para ele e Celeste no bar, e a este é entregue uma garrafa que está com a quantidade do líquido pela metade.

Celeste e Jesse (Andy Samberg) namoraram na escola, se casaram e no momento estão se divorciando. 

Seus melhores amigos não acreditam que eles possam manter a amizade por conta de toda dissolução que implicou no fim do casamento, mas Celeste e Jesse não acham que este será um problema. 

Até Jesse entrar num relacionamento que Celeste entende ser demasiado para a responsabilidade dele. 

Logo Celeste encontra-se com mais dificuldade de seguir em frente com sua vida do que pensava inicialmente.

Do ponto de vista de alguém externo à intimidade entre os personagens, Celeste e Jesse são o casal perfeito. São divertidos, cantam juntos e se conhecem há muito tempo. 

No entanto, por motivos não aparentes no filme, estão se separando. 

Jesse, entre os dois, ainda não é bem sucedido profissionalmente. 

Com a separação, mudou-se de casa para o quarto de hóspedes, um estúdio na parte de trás da casa. 

É um artista desempregado e mal situado emocionalmente. Pois se confunde entre a necessidade de projetar-se no mercado de trabalho e viver livremente quem realmente deseja. Logo, não define sua posição em estar ou não com Celeste. 

Perante tamanha confusão, Celeste acabava o apreendendo previsivelmente. Então optou por estar ali o experienciando até não sentir mais vontade de tê-lo próximo. Mas ele se foi. Então Celeste já não sabia quem era sem Jesse.

No trabalho Celeste tem uma relação confortável com Scott (Elijah Wood), um homossexual que faz piadas gays bregas para se afirmar ainda mais homossexual. Além de fazer previsões de tendências promovendo seu novo livro 'Hitegeist ", que consiste na morte da cultura pop com qualidade. 

Sua empresa também explora o mercado de novas marcas e novos artistas. E é nesse contexto que surge a nova cliente, Banks Riley (Emma Roberts), porém Celeste e Riley não se entendem e o desdobramento da produção se dá em solo infértil. 

O desastroso desempenho no trabalho é um reflexo das dúvidas e arrependimentos que perturbam Celeste diante da vida pessoal. Que a faz refletir se Jesse era assim realmente negativo. 

E agora que ele está fora de sua vida, Celeste questiona seu amadurecimento e busca preencher a lacuna existencial com a presença repentina de outra pessoa.

Com a maioria de suas tomadas dada na repetição de uma câmera de ombro dinâmica recorrente no modo cinematográfico contemporâneo, elenco que nos insere numa atmosfera de uma quarta-feira à tarde; comendo pipoca e assistindo um seriado na TV a cabo, além de conter todos os ingredientes de um romance, o longa surpreende por consistir, de fato, numa comédia dramática que discute o amadurecimento na convivência com o próprio Eu.

Apropriado para ver antes da reunião social no fim de semana, ou num domingo de ressaca.

PROVOCAÇÃO - "Diabo Espirituoso" - por Tito Oliveira

Por Tito Oliveira - objeto-instalação da série
Composto De Um Tempo Documentado -
"Embalagem Tetra Pak" -
pote de vidro, boneca de borracha -
água, óleo, pigmento torneira de gás, solda -
17x55cm - Portugal - 2013 
As eleições no Brasil, antes, eram realizadas no dia 15 de novembro, mesmo dia em que se comemora a proclamação da república.

Atualmente esta se dá no mês de celebração à democracia, dia 25 de outubro.

Sendo assim, o país só tem à comemorar.

Comemorar não apenas uma vitória que simboliza a continuidade do Governo Dilma Rousseff, mas, em suma, comemorar um Brasil mais transparente.

Transparência esta que pode parecer inóspita aos que pensam-se inteligentes na afirmação de que, muitas vezes, ser ignorante é igual a sofrer menos.

Bom, se a ignorância nada mais é do que um olhar míope interposto entre o direito de saber e um estado inerte que coíbe a consciente escolha, o que seria tal afirmação se não uma aparente tolice?!

Dispensando a ignorância, que para nada serve, estaremos aptos à analisar toda subjetividade intrínseca na transparência do novo Brasil.

O novo Brasil transparente não é um país sem corrupções, enganações, etc. Aliás, não foi por estar exímio de tal traço que deu-se a continuidade para o atual Governo, uma vez ocorrências de fraudes milionárias habitarem o meio de seu curso.

A transparência que me refiro se dá na insinuação de uma crise inerente ao sentido de democracia.

E foi por este enunciado que fez a oposição perder as eleições para ela própria. Já que não haveriam motivos plausíveis que justificassem o fracasso perante um Governo imperfeito.

Diogo Mainardi, entre tantos outros, é uma das representações deste declínio proclamado numa política de direita que tende negar sua origem tupiniquim.

Este, além de ser comentarista do Manhattan Connection, programa da TV fechada brasileira, é colunista, dizendo-se também escritor e roteirista de cinema.

Não conheço seu trabalho enquanto escritor, menos ainda enquanto roteirista de cinema. No entanto, digamos que, se a arte nos aproxima da visualização habitada no imaginário, o artista, por sua vez, quando não oponente à subversão de um posto negligente, não será capaz de libertá-la do fato que a resume num mero escopo em exposição.

Comentando sobre a vitória de Dilma AQUI, Diogo disse que "... Essa eleição é a prova de que o Brasil ficou no passado", disse também que "... O Nordeste sempre foi retrogrado, sempre foi governista, sempre foi subalterno em relação ao poder; durante a ditadura militar, depois com o reinado do PFL e agora com o PT", concluindo que "É uma região atrasada, pouco educada, pouco instruída e que tem uma grande dificuldade de se modernizar, seja na linguagem etc".

Diogo tem toda razão em apresentar, apadrinhado por uma mídia tendenciosa, seu caráter de preconceito explícito, rancoroso, pois este tem a audiência de metade do país que pensa e sente igualmente.

Ele só esqueceu de certificar-se, na instituição que lhe concedeu o emblema do nível "superior", sobre o real conceito de educação, modernização, submissão, ou de atraso.

Por Tito Oliveira - objeto-instalação da série
Composto De Um Tempo Documentado -
"Embalagem Tetra Pak" -
pote de vidro, boneca de borracha -
água, óleo, pigmento torneira de gás, solda -
17x55cm - Portugal - 2013 - anglo II
Onde nasceu e vive o Diogo?

Na Noruega?

Suíça?

Não?!

Há tá... Nasceu em São Paulo, que não é Dubai, mas só oferece qualidade de vida para empresários donos de helicópteros.

Aqui no Nordeste, como na Europa, não é necessário muito dinheiro para se ter qualidade de vida.

Então vive entre as balas perdidas do Rio de Janeiro?! Que não é Paris, mas oferece o eufemismo da obsessiva necessidade de afirmação.

Entendo. Diogo quer dizer que modernização é igual a pensar como uma anta incoerente.

Já que não há outra forma de raciocínio, resta informar ao Aurélio que ele precisa retificar o grave erro que cometeu quando descreveu o substantivo no dicionário da língua portuguesa.

Não só o fato de saber com exatidão o sentido das palavras tornou mais curto o trajeto até a conclusão de que o Nordeste é retrógrado, para isso, Diogo também teve que nascer e conviver com a tão indiscutível ausência de vanguardismo vigente no Sudeste, que até então manteve-se envolto à mediocridade da repetição. Fazendo-se, contudo, mais um território da geografia que hospeda o generalizado atraso brasileiro.

Demasiado sacrifício e genialidade deu a Diogo o prestigiado posto de comentarista de TV.

Genialidade esta que também o fez consciente de que a Bahia, recinto onde reinou o liberal PFL, não abrange toda região Nordeste, já que é apenas um de seus fragmentos.

Por outro lado, o que é compreensivo, demasiado conhecimento o impediu de recordar a monarquia iniciada nos mandatos estaduais de Mario Covas (PSDB), remanescente na reeleição de Alckmim (PSDB), ambos em São Paulo, coração per capita do país.

Quer dizer, entre as prosas proibidas na cozinha da casa-grande, a nordestina encontra-se à frente, pois tem tido concessão sobre seu pedido de alforria.

Talvez o declínio da instituição de ensino superior mais conceituada da Ibero-America, causado pelo atual governo de São Paulo, que é PSDB, explique o equivocado conceito de educação de Diogo, que não sabe que aqui no Nordeste crianças têm tido pouco tempo para trabalhar em semáforos porque estão matriculadas nas escolas, sendo possível também encontrar mais cortesia nos ônibus coletivos porque seus motoristas estão menos estressados, já que possuem mais esperança em relação a seus futuros por conta do tempo que dedicam estudando em universidades.

Sobre a nossa linguagem, esta é e sempre será a mesma que concebeu artistas habilitados à proporcionar, aos sudestinos superficiais, o status de pseudo-cultos para, assim sendo, serem emergentes aceitos na roda da piada adornada com a inutilidade da luxúria que temem um dia ter que abdicar.

Desta forma, só temos a agradecer ao Diogo por deixar, aos olhos do povo, um Brasil mais transparente.

Pois sendo a democracia um sistema produtor de direitos e, estando pessoas como o Diogo desejando nos privar deste benefício assim, tão explicitamente; nos informando a respeito de sua lamentável intenção, nos dá, simultaneamente, a oportunidade de nos manter atentos e, nas próximas eleições, estimularmos ainda mais a liberdade de ir e vir possível apenas numa democracia todavia mais amadurecida.

Portanto, brindarei ao espirituoso anjo Lúcifer, que por nos mostrar o caráter de pessoas como o Diogo Mainardi, viabiliza, democraticamente, nosso direito de defesa.

sábado, 25 de outubro de 2014

CRÔNICA - "Sermão À Repulsa" - por Tito Oliveira

Por Tito Oliveira - Ilustração de Machado De Assis - Guache sobre papel -
30x20cm - publicação da Revista 360 -
 São Paulo - 2009 
O ato pró-Aécio passa por todas as avenidas do país e seu público não perde a oportunidade de sair chamando todos que votam em Dilma de vagabundos.

Em geral são ricos e brancos que compõem sua multidão, negros, se houver no meio, carregam bandeiras.

Portam-se violentos quando perante opiniões diferentes das suas. Fato.

Usam Cuba ironicamente em seus cânticos.

Assim: "Que maravilha, Dilma vai pra Cuba, Aécio para Brasilia".

Arriscam-se cantar uma espécie de adaptação de Geraldo Vandré.

Dizem que "não votam em 'sapatão'".

Colam adesivos do Aécio em automóveis que passam com bandeiras vermelhas etc.

Assim sendo, como apoio o atual Governo, aproveitarei a energia raivosa da oposição para mostrar que também sei dar sermão.

Será para uma Moça que conheci hoje.

Então vamos lá:

Escuta aqui ô, linda Moça! Pensa que pode chegar assim e apresentar seus encantos de anjo protetor sem avisar?!

Meu coração não é tão robusto a ponto de resistir o magnetismo da paixão.

Como é possível inserir-se na forma de uma Vênus, em meio a um grupo de pessoas que proseavam sobre quem vencerá as eleições fazendo a melhor definição do que significará a vitória de Dilma Rousseff para o Brasil?!

Por um acaso andou bebendo para ficar assim tão simplesmente bela e genial?!

Como pode afirmar que a "Dilma vai ganhar e criar o Ministério do Amor"?!

Tá, preciso confessar que quando a escutei dizer isso tive a visão de um jasmim brotando e exalando o harmonioso aroma de um novo tempo.

Essa Dilma...

Fica ai à perambular e abalando nossa estrutura emocional...

Calma aê ô... Senhora cupido!

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

COLABORADORES - p o u c a s & b o a s - "Futuro Indolente" - por Ludwig Ravest

Por Tito Oliveira - desenho da série Nuances - "Menina" -
pastel seco e guache sobre papel - 30x45cm - Salvador - 2006
A desinformação acerca da política reinante no país é catastrófica, para não dizer hecatômbica e apoteótica. 

Quem ganhar no segundo turno das eleições no Brasil não vai mudar nada, pois, de fato, não mudará porque o Congresso, em sua maioria, está edificado por velhos elefantes do poder e da máfia nacional, em Norte e Sul do país. 

A Direita Política já tomou o poder, por assalto, da nação mais uma vez e tudo o que tem acontecido até agora é uma montagem de um mega-show de dois supostos bandos que se dizem antagônicos cujo suporte será a pauta de como ganhar mais dinheiro e mais poder para garantir o futuro de todos esses que estão muito bem de vida, que se alimentam bem, que possuem propriedades à destra e sinistra dos verdes campos semeados com o esforço de uma maioria que nem sequer tem uma educação e saúde de qualidades. 

Governarão com os mesmos calhordas de 50 anos atrás. 

É por isso, meus caros, que o povo que tem que assaltar o Congresso e não o contrario. 

Os filhos desta nação, daqui a 100 anos, agradecerão....

Um exemplo claro, acerca do que tento dizer, é o depoimento de uma menina de 11 anos que estuda numa escolinha aqui em Guararema (prestem atenção) Ela diz:

"Nós tínhamos um professor de inglês muito bom; ensinava a gente a língua inglesa com música, teatro, atividades cênicas onde todos participavam e aprendíamos rapidamente. Não durou três dias (isso mesmo, 3 dias) e tiraram ele de lá. Colocaram, no lugar desse professor, um outro, já mais chato e repetitivo que ficou grudado no verbo "to be", ninguém aprende mais nada ou se interessa em continuar a aprender inglês".


Pois bem, a quem interessa uma educação de qualidade?!


A ninguém, ora pois, a ninguém!! 

Um sistema educacional com pautas retrógradas e obsoletas, onde as crianças fazem a desordem na sala de aulas de inglês, ou de aulas quaisquer, como significante do protesto que poderia ser feito pelos próprios adultos, pela Diretoria da escolinha e por toda população.

Não adianta, ou o povo toma o Congresso por assalto, ou o assalto dos velhos e retrógrados políticos tomarão por assalto suas consciências sinuosas sobre a educação de seus filhos!



Ludwig Ravest é chileno, escritor, estudou filosofia na Universidade de Santiago e atualmente vive e trabalha em São Paulo.

terça-feira, 21 de outubro de 2014

GALERIA DE COLABORADORES INTERNACIONAIS - f o t o g r a f i a - por Maya Fiala Grau (Espanha)

Era uma discoteca chamada Sala BeCool, tocava indie music no andar de cima e um DJ regia um Deep House de muito bom gosto na pista principal situada em baixo.

Foi onde conheci, há dois anos, a bela e talentosa artista espanhola Maya, em Barcelona, na Espanha.

Não nos vimos por muito tempo, coisas aconteciam, circunstâncias...

A dona de uma cútis encantadora e de elegância exalada nos poros que nasceu em um pueblo (povo) espanhol, dizendo sentir a necessidade de arbol (árvore) hoje reside em Londres e imerge numa investigação que explora a fotografia não enquanto esta ensimesmadamente, mas, também, como mero suporte para expor sua rica retina.

Ainda que a convivência dada em nossa amizade tenha percorrido em pouca frequência por conta da distância, um carinho estimulado na admiração mútua sobre nossos gestos e sugestões artísticas expandiu-se até aqui e, ao convidá-la para fazer parte da GALERIA DE COLABORADORES do Recortes, a mocinha com idade surpreendentemente menor do que a dimensão alargada na maturidade intrínseca em suas fotografias, respondeu-me com um sorriso adornado por satisfação.

Assim, gestualmente, os convido à prestigiar, na galeria abaixo, o sumo imagético de uma sensualidade jocosa e enigmática inserido na expressão da artista.

A humanidade agradece por sua existência sensível, Maya Fiala Grau!

Degustem!!!


Texto de apresentação por Tito Oliveira 


Tradução


It was a nightclub named Sala BeCool, played indie music upstairs while a DJ played a good Deep House on the main track below.

There I met, two years ago, the beautiful and talented Spanish artist Maya, in Barcelona , Spain.

Not seen in a long time, things happened, circumstances...

The owner of a lovely face and elegant posture born in a pueblo ( people ) Spanish, saying feel the need to arboreal ( tree) now resides in London and immersed in an investigation that explores photography as a support to expose the magic of what to see.

We live our friendship infrequently because of the distance, but a caring stimulated the admiration we have for our gestures and artistic suggestions expanded and, when I invited Maya to join the GALLERY OF EMPLOYEES OF THE RECORTES, the girl with age surprisingly smaller than the intrinsic dimension of maturity in  she photographs answered with apparent satisfaction.

And now I invite you to honor, in the gallery below, the imagery juice sensuality playful and enigmatic inserted in the expression of the artist.

The humanity thanks for your sensible existence, Maya Fiala Grau!

Enjoy!


Para saber mais sobre o trabalho e pesquisa de Maya basta acessar ESTE e este LINK





















segunda-feira, 20 de outubro de 2014

CINEMA - c r í t i c a / d i c a - "Meu Mestre, Minha Vida" - por Tito Oliveira

O diretor americano John G. Avildsen foi um dos principais responsáveis pelo Prêmio da Academia de 1979 creditado ao clássico "Rocky - Um Lutador".

Eu o cito porque, em 1989, este mesmo diretor foi responsável pela direção do também clássico "Lean On Me", traduzido para o Brasil como "Meu Mestre, Minha Vida", descrevendo; baseado em uma história real e ainda sem abdicar de um caráter então já ultrapassado de narrativa, a realidade de um professor arrogante e pouco ortodoxo que retorna como diretor de uma escola idílica da qual já havia sido demitido.

Joe Clark (Morgan Freeman) teria pela frente o desafio de controlar e fazer desenvolver um antro de abuso de drogas, violência de gangues e desespero social, urbano.

Eventualmente, os métodos por este utilizados possuíam brasão bem-sucedido, porém agredia os paradigmas da norma tradicional pedagógica. O que, por vez, se faz um dos bons pontos de interesse no filme.

Para isso, entra em confronto com os funcionários municipais que, insatisfeitos, ameaçam desfazer todos os seus esforços.

Algumas curiosidades tornaram o filme ainda mais atrativo, pois na realidade Joe Clark havia renunciado ao cargo de diretor da Eastside High Scool logo após seu lançamento.

A partir daí Clark seguiu a carreira de palestrante motivacional.

Tendo sido contratado, em 1995, para dirigir um centro de detenção juvenil em Newark, New Jersey, posição que ocupou até renunciar em 2002.

Durante sua passagem na direção do centro de reabilitação, mais uma vez envolveu-se em fogo cruzado por conta de seus métodos controversos.

O ator Morgan Freeman optou, enquanto pesquisa, por passar um período acompanhando a vida real de Joe Clark para capturar seus ditos e maneirismos.

Além disso, estudantes e professores reais de Eastside High Scool estiveram presentes como figurantes do filme.

Em uma de suas cenas (enquanto segurava um taco de beisebol ), o personagem interpretado por Morgan Freeman diz: "Eles costumavam me chamar de louco Joe. Pois agora poderão me chamar Batman!"....

Coincidentemente, ou não, anos mais tarde Freeman iria interpretar o personagem de Lucius Fox, aliado ao Batman, na trilogia Batman, do bom diretor Christopher Nolan.

"Meu Mestre, Minha Vida" ficou sob intensa crítica devido a especulações que alteraram a realidade da história do diretor Clark.

Um dos exemplos apresenta a subtrama do requisito de proficiência de que um mínimo de 75 % dos alunos tinham que passar no Teste de Competências Básicas, o que, segundo no filme, impediria o que eles denominam de um "Take -Over" do Estado americano. Traduzindo, implicaria no fechamento da instituição de ensino. Uma inverdade.

Outro fato que contrapõe a origem nos desdobramentos reais ocorridos na gestão pedagógica de Clark é que este nunca melhorou os resultados dos testes durante o seu mandato no Eastside.

O filme também peca com os muitos erros de continuidade, traço recorrente nas produções cinematográficas da década de oitenta.

Um deles se dá quando o superintendente está discutindo sobre quem contrataria como diretor e o prefeito pergunta "Qual foi a pontuação do ano passado?".  O Superintendente responde que era " 38% ". Mais tarde, quando Joe Clark já em gestão deixa o palco depois de expulsar os maus alunos, há um gráfico que mostra ter sido a pontuação do ano passado 30%.

Contudo, não se trata de um filme perfeito, ou talvez eu não o recomendasse se não fosse, antes, por ter sido contemplado com a oferenda significada no registro de uma das melhores performances já realizadas por um ator na história do cinema.

Morgan Freeman encarnou o diretor Joe Clark em sua função tão extraordinariamente que não se pode imaginar outro ator em seu lugar.

Ao nos depararmos com o contexto situacional do filme, chegamos a nos perguntar como é possível aquele cara chegar como uma espécie de xerife numa cidade pequena sem a noção de que o velho oste já não mais existe, em contraponto, suscitado por uma avalanche descontrolada na defesa de sua tese, acaba por refletir em nós espectadores a dúvida sobre uma possível reformulação na ideia pedagógica, tanto na escola quanto no próprio lar.

Morgan Freeman, ao hospedar-se no corpo do personagem Clark, se mostra tão exuberante em cena que nos salva da desnecessária convicção sobre as formas permissíveis de amar o mundo. Seja numa capa meramente enfadonha, seja por sua aparente confusão.

Embora, como a crítica americana chegou a salientar, seu estado beire uma espécie de personagem indigesto, Freeman utiliza Clark enquanto forma metafórica para aproximar a humanidade de um, digamos, louvor do perdão em detrimento dos julgamentos perante defeitos comuns do Homem.

Além de Freeman, o elenco do filme também esbanja talento com as presenças de atores como Robert Guillame e Michael Beverly Todd.

Bom filme!

domingo, 19 de outubro de 2014

CINEMA - c r í t i c a / d i c a - "Loucamente Apaixonados" - por Tito Oliveira

Lançado em 2011, o filme "Like Crase" do jovem diretor Drake Doremus foi traduzido para o Brasil como "Loucamente Apaixonados".

Trata-se da narrativa de um romance denso e com intensidade efêmera nos sentimentos entre Anna (Felicity Jones) e Jacob (Anton Yelchin).

Ambos se apaixonaram imediatamente ao se encontrarem enquanto estudantes de uma universidade em Los Angeles.

Porém Anna é britânica e, quando a formatura se aproxima, decide permanecer e violar o tempo de permanência disposto em seu visto de estudante.

Em meio ao namoro de paixão profunda, vai fazer uma visita domiciliar e se dá conta de que não é capaz de voltar para os Estados Unidos por conta dos problemas em sua documentação.

Enquanto luta contra os costumes e as batalhas de imigração, Anna e Jacob precisam decidir se seu relacionamento vale à pena, já que tem a dificuldade na superação da distância.

Curiosamente, no Toronto International Film Festival de 2011, o jovem diretor admitiu que a maior parte do filme foi improvisado.

Disse que o roteiro delineava o que aconteceria, porém os atores Felicity Jones e Anton Yelchin tiveram que improvisar muito de seus diálogos.

Drake Doremus disse também que foi obrigado a fazer um corte brusco no filme antes de enviá-lo para o Sundance Film Festival.

Auxiliado por Ben Iorque Jones na escrita do texto, argumentou que foi necessário observar alguns dos relacionamentos como uma especie de invasor da privacidade dos casais que utilizou como inspiração para a realização de "Loucamente Apaixonados".

Alguns erros de continuidade são imaturos e de fácil captura.

Um dos exemplos se dá quando Jacob está na cozinha de Anna enviando uma mensagem de texto para Sam (Jennifer Lawrence), personagem que se envolve com ele formando um triangulo amaroso.

Ao ser questionado por ela sobre para quem estava enviando a mensagem de texto ele posiciona o telefone para baixo e o coloca na frente do computador portátil que estava sobre a mesa, saindo da sala em seguida. Na próxima cena, Anna vai imediatamente conferir para quem a mensagem estava sendo enviada e percebe-se que o telefone estava em outra posição.

Na geografia do filme, onde as cenas deveriam representar o cenário na passagem de uma situação, é um pouco mais agravante.

Algumas cenas são rodadas em um apartamento no Reino Unido. No entanto, um interruptor de luz americano é visto, e um iPhone usado na rede da AT & T, recorrente nos Estados Unidos e não em Londres, revela que a cena foi gravada na America.

Não obstante, durante a cena da festa em que Jacob conhece Sam e está recebendo textos de Anna, a data de seu primeiro texto é de 01 de dezembro. Já o segundo, que ocorre na mesma ocasião porém em um momento mais tarde, é datado no dia 23 de maio.

Dentre às dificuldades em sua produção e também residentes no improviso, "Loucamente Apaixonados" foi tido como um dos filmes mais densos do Sundance Film Festival ocorrido no mesmo ano de seu lançamento.

A história de amor apresentada no filme expõe-se de maneira tão real que é hipótese possível na vida de qualquer pessoa.

Suponho que, ao assisti-lo, muitos espectadores desgostem do que lhes é mostrado pelo simples fato que os distanciam da experiência registrada. No entanto, isso seria constatar a falta de sorte por nunca ter sentido a beleza do amor, que por vez encontra-se angustiado na barreira da separação geográfica.

Não que haja algo de errado com o fato de, talvez, não estar apto a entender uma situação que envolve sensibilidade, por outro lado, ir ao encontro desse exemplo intenso de paixão e não se envolver seria como estar submetido a um preciso termômetro que notificará sua capacidade, ou não, de amar alguém.

A despeito de um roteiro limitado, os atores estão soltos, espontâneos e contundentes em suas performances.

Havia, basicamente, apenas uma situação para cada cena, logo tiveram que explorar a intuição e imprimir muito do que realmente são nos diálogos.

Não é fácil produzir um filme permeado na conjuntura de dois atores jovens que, ainda que transitem sobre entrecortes, emanam química e profundidade discorrendo sobre um teor intimista.

Portanto, degustem!

PROVOCAÇÃO - "Opostos Não Se Atraem" - por Tito Oliveira

Por Tito Oliveira - instalação da série Composto De Um Tempo Documentado
- "Gesto Demasiado Humano" - pele de ovelha e vinil adesivo sobre chão -
Portugal - 2013
Antes de começar a introdução do pensamento que apresentarei nas seguintes linhas de escrita quero dizer que tentava encontrar um título para melhor representar o conteúdo do texto.

Como não despertei num dia reluzente, não foi fácil encontrar algo que me satisfizesse.

Então optei por "Opostos Não Se Atraem".

Também acho que soa inadequado, uma vez que beira à inverdade.

Opostos atraem-se sim...

Subitamente!

Quando insinuo tal reflexão, não estou tentando restringir a provocação à relações conjugais, mas relações quaisquer, até mesmo familiares, porque não?!

Se acha imprudência inserir a família enquanto exemplo para o contexto, ou ação supostamente semelhante à heresia, que seja, não tem problema...

Aliás, melhor dizendo, não há problema, sobretudo, porque o que poderia levar o leitor a sentir-se incomodado não é um problema meu, e sim deste que necessitará, para satisfazer-se em sua zona de conforto, alterar o trânsito percorrido por toda história da humanidade até os dias atuais.

Retomando e, já que citei heresia, podemos começar com a religião.

Em grossa alusão, ao recorrermos à história inserida no que denomino de mito bíblico, teríamos, em memória, lá no Êxodo, o registro da bonita relação infanto-juvenil entre dois irmãos herdeiros de um império faraônico, algoz e escravagista por 400 anos.

Até um deles tornar-se consciente a ponto de começar entender que o sustento de sua suntuosa diversão, luxúria, é a exploração dada na desgraça alheia.

Logo, uma discussão a respeito vem à tona, o laço se rompe, a guerra é enunciada.

Se uma criança de raízes judia conhecesse uma criança de raízes nazista em um parque de diversões, ainda que a relação entre estas fluísse na espontaneidade correspondente à bonita e ingênua natureza infantil, seria muito provável que os pais interviriam e não permitiriam que a sensação entre ambas passasse de um momento inconsciente.

Numa relação conjugal, por vez, é possível encontrar uma mulher, ou uma mulher encontrar um homem e, além de atraírem-se fisicamente um pelo outro, também encontram naquele(a) o que não tem em si enquanto mais um ponto atrativo que os façam compartilhar experiências juntos.

Tudo isso é muito excitante e bonito de narrar entre os amigos íntimos e familiares.

Imagina-se, e diz-se, até mesmo sobre a diferença suscitar evolução espiritual em ambos.

É claro que isso é possível.

Porém, é preciso que toda excitação da paixão, da novidade imagética na anatomia que estimula o frisson da química física e o frequente hedonismo perdurem até o estágio onde a fase juvenil dá lugar à fase adulta; onde sonhos são atropelados pela emergência das necessidades; ou, mais importante, até o momento em que são forçados à perguntarem-se se aquilo que nunca tiveram e os atraiu por encontrar no outro(a) é realmente o que desejavam ter em si.

Para tornar a vida proveitosa fazendo o que gosta é necessário, antes, saber sobre o que gosta.

Tal noção impedirá, por exemplo, de envolver-se com alguém habitado numa diferença que o(a) agride e evitará a ilusão.

Expandir o quesito discorrendo sobre o lado banal que apresenta motivos recorrentes na realidade contemporânea e que "justificam" a continuidade de um casal com ideais divergentes, seria igual a mergulhar em um poço de pouca profundidade. Melhor não.

Quanto à política partidária, meus caros, isso é coisa séria, muito séria.

Ela transforma, manipula, usurpa e beneficia a vida de alguns em detrimento da harmonia na vida de outros.

A discussão sobre partidarismo político pode ser muito maior do que, talvez, possamos pensar por aqui. Uma vez esta envolver uma infinitude de hipóteses que implicariam no tenso antagonismo das relações.

No entanto, existe em seu corpo um traço que podemos sintetizar utilizando-o como forma representativa de seu poder na construção e destruição de um estado de coisas.

Ainda que não encontre forma sedutora em meio ao discurso reacionário; ao contrário, já que o apreendo desprezivelmente, posso tentar entender a guerra entre um reacionário perante outro.

Em contrapartida, é difícil, para mim, compreender a guerra construída no discurso reacionário quando este se posta contrário à consciência defensora dos direitos humanos apenas para manter sua torpe necessidade.

Quer dizer, se o atual Governo do Brasil tem problemas de postura, contradições e urgência em aperfeiçoar sua gestão sobre isso não restam dúvidas. Porém, é o Governo responsável pelo maior desenvolvimento social na história política do país. Fato.

Se calcularmos o período que se deu na pré e pós-ditadura militar do Brasil, passando pelo voto direto que elegeu Fernando Color de Mello e os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso somam quase um século de poder e pouco foi realizado em benefício do povo, mas em prol de uma classe liberal restrita e fascista.

Se pensa que estou exagerando em associar comportamento de direita ao fascismo, posso, em minha defesa, argumentar: quantas universidades foram criadas no tão aclamado governo de FHC? Fácil de responder: nenhuma. Ao contrário, seu governo deixou de investir na expansão de escolas federais dessa modalidade de ensino que estimulava a criação de escolas estaduais e comunitárias. 

Quantas universidades foram criadas no governo do PT? Mais fácil ainda de responder: 4 universidades federais novas, transformou outras 6 faculdades em universidades e criou 42 extensões universitárias.

Quanto cresceu o Brasil economicamente quando a direita estava no poder? 0,067% em quase um século?! 

Quanto cresceu o país nas quase duas décadas de governo do PT? 2,5%. Entendendo, sobretudo, que isso era possível com a diminuição da disparidade entre as classes sociais e criou um programa de combate à pobreza extrema.

Ou seja, o que se vê numa sociedade de classe burguesa e conservadora que acredita na direita brasileira é uma explícita ausência de argumentos plausíveis que justifiquem o retorno desta ao poder, contrariando acintosamente o atual Governo que, em contramão, defende igualdade. O que seria isso se não fascismo?!

Eleitores de esquerda reconhecem seus feitos, porém também admitem os absurdos de sua gestão e a necessidade urgente de aperfeiçoamento num possível mandato seguinte. Os de direita não propõem, posicionam-se como paladinos impiedosos quando são apontadas falhas de corrupção e descaso em suas gestões, além de concentrarem-se na exclusiva depreciação de seu oponente, emanando, contudo, raiva desmedida.

Conclusão, numa existência onde as relações se dão em meio ao chão de cedas artificiais, rasgadas e sobrepostas no funeral da honestidade mostrar a epiderme sem maquiagem é ato revolucionário.

Assim sendo aqui se constitui o início da minha revolução.

Aproximar-se de mim é saber que lidará com a verdade da minha essência.

Não sou fragmento de uma vontade obsessiva de aceitação. Ser aceito é importante, mas não suficiente.

Sou, enquanto artista e educador, designado à atenuar as dores do mundo. Portanto não posso submeter a dimensão e beleza do meu sacrifício ao pobre tamanho da mesquinhez.

Não ignorarei aqueles que não me entenderão, não ignoro nada. Uma vez ser a sabedoria adquirida na linha do tempo que vivi capaz de fazer-me compreender a inexistência de perguntas estúpidas.

Entretanto, para que me dispunha à uma relação social amistosa, é preciso que as dúvidas sejam evocadas e esclarecidas até a compreensão mútua. Do contrário não poderei sentir-me bem estando aliado daquele que cuida apenas de mim, mas, amigo estarei daquele que defende as condições básicas de sobrevivência enquanto um direito de todas as crianças, animais, mulheres, homens, idosos, da natureza.

Não poderei ser amigo daquele que se opõe percorrer em busca dos benefícios provocados pelo amor. Este não seria capaz de compreender e aceitar meus gestos.  

O que me trouxe aqui elucidado não foi convicção alguma, mas a sensação que tive ao refugiar-me em meu coração, onde foi possível escutar a canção tocada por notas que descreviam ser a qualidade sempre mais valiosa do que uma quantidade mórbida.

Dilma não é perfeita, seu Governo não é perfeito, mas é o que o Brasil tem de melhor.

E nós, enquanto nação, precisamos continuar sofrendo com a dor da restauração de um curso dado equivocadamente há 500 anos.

Não precisamos do desaforo inerente à uma sociedade pasteurizada, mas composta na peculiaridade de opinião e expressão de cada cidadão.

Precisamos formar pensadores, artistas (de preferência marginais) e nos tornar livres ao menos dentro de nossas casas.

Portanto, é com a convicção que antes dizia ser inexistente no refúgio do meu coração, que digo ser esse sonho possível apenas na esperança de continuidade do atual Governo.

Assim sendo, força Dilminha!

sábado, 18 de outubro de 2014

POUCAS & BOAS - "Segundo Eles, Utopia Não Existe" - por Tito Oliveira

Por Tito Oliveira - instalação da série Composto De Um Tempo Documentado
- "Catarse" - luminárias de cabeceira sobre cama - dimensões variáveis -
Portugal - 2013 
Em meados de 2013 uma notícia assustava, no bom sentido, presumo, quando discorria sobre pouco mais de 300 mil habitantes fazer da Islândia uma ilha que rompe com a convicção taxativa a respeito da utopia ser mero sonho fabuloso.

Sua pequena nação desafiou o imaginário e deu forma tridimensional à democracia.

Não. Não é o cálice de vinho que degustou.

Aliás, vinho não é alucinógeno.

O que você está lendo é a mais pura verdade já comprovada (pesquise sobre).

O motivo, para quem duvida, não tem lá grandes explicações.

Este é, por sinal, muito claro.

O país foi um dos pioneiros na transgressão da crise financeira que balançou a estrutura econômica mundial em 2008.

Estando ausente na lista negra de devedores a maior parte do tempo, em publicações de veículos de comunicação específicos do assunto em questão.

Dizia-se que, por conta disso, coisas pouco comuns se passavam na atmosfera da pequena (grandiosa) nação.

Entre estas, a situação em que seu presidente submeteu a plebiscito sugestões de apoio estatal a bancos fracassados.

George Papandreou, ex-primeiro ministro na Grécia, foi excluído do governo quando esboçou ideia semelhante.

Na Islândia, sua nação não se rogou e disse com transparência o contrário de pagar as dívidas dos bancos falidos.

Foi um bom bocado além, provocou a prisão dos respectivos executivos e levou a julgamento e condenação o primeiro-ministro que geria a ocasião da crise no país.

Contrariando todo resto da Europa, que passava (ou passa) pelo mesmo declínio econômico. Uma vez que seus executivos, responsáveis pelo ocaso da economia mundial, dirigiram-se às suas casas com bolsos estufados de benefícios pessoais (imagino que um brasileiro lendo isso se sinta familiarizado, sem ofensas).

Não obstante, a "pequena" Ilha decidiu idealizar uma reforma em sua constituição.

É claro que não foi, assim, tão fácil. Já que teve que ser submetida ao crivo daqueles lá que compõem o G Não Sei Quantos Mais Estão Por Sair Do Clero. Porém, acabou por ser aprovada.

Esta, não passou por parlamentares ou juristas, ao contrário, sua concepção emergiu de uma reunião entre 25 cidadãos comuns eleitos diretamente ao posto decisivo.

Durante seu desdobramento, qualquer pessoa poderia opinar via redes sociais. Ou enviando sugestões de leis, ou simplesmente questionando projetos já sugeridos.

Membros do Conselho Constitucional tinham suas discussões expostas ao acompanhamento em tempo real no monitor do eleitorado.

A conclusão se deu numa constituição estatizadora de recursos naturais, que dificulta o Estado de manter segredos sobre documentos fundamentais para o desenvolvimento da hegemonia social no país, criando, contudo, o pilar de uma democracia direta. Onde, para mantê-la, basta a aprovação de 10% da população para que uma lei parlamentar se torne objeto de plebiscito.

Por conta de tal subversão constitucional, o país, em meio a toda xenofobia remanescente na Europa; que por vez potencializava todavia mais sua crise, o país cresceu 2,7% em um ano. Em grossa comparação, o Brasil demorou mais de dez anos para crescer menos que isso economicamente.

Bom, não serei aqui desmedido a ponto de concluir o texto sem fazer a mais importante das ressalvas: o maior responsável por tão relevante feito foi uma sociedade educada, esclarecida.

Sem mais.

CINEMA - c r í t i c a / d i c a - “Kagemusha, a Sombra do Samurai” - por Tito Oliveira

Quando um guerreiro poderoso no Japão medieval morre, um ladrão pobre, recrutado para personificá-lo, encontra dificuldades para assumir seu papel em confrontos com o espírito do senhor da guerra durante tempos turbulentos em seu reino.

Dirigido por Akira Kurosawa, o longa “Kagemusha, a Sombra do Samurai”, de título original homônimo, é ambientado no Japão medieval.

Vencedor da Palma de Ouro de 1980, o filme narra, com riqueza de detalhes, passagens verídicas na história japonesa, como a batalha de Nagashino, em 1575. Situado durante o período Sengoku da história japonesa. Também conhecido como o Período dos Reinos Combatentes.

Passou, a partir de meados do século XVI (1500), para o início do século XVII (1600).

Foi um período de turbulência política constante, rebelião social e guerra militar.

Ele acabou resultando na criação do xogunato Tokugawa, que unificou a força regional e deu estabilidade política para o Japão.

O ator Tatsuya Nakadai desempenhou dois papéis no filme: Kagemusha e Shingen Takeda.

Nakadai, categoricamente, construiu um jogo de gestos tão harmonioso que nos confunde sobre o ator ter concebido o personagem ou o personagem ter se apropriado do caráter do ator.

O senhor da guerra que o Kagemusha personifica foi baseado no Japão feudal daimyo (senhor territorial ) Takeda Shingen.

Curiosamente, foi necessário, para a composição do cenário e do figurino, o auxílio de museus japoneses no empréstimo de tesouros nacionais importantes, a exemplo de trajes e armaduras reais.

Duzentos cavalos foram especialmente treinados e transportados dos EUA até a região onde o filme foi rodado.

Para a época, tratava de uma produção audaciosamente colossal.

Discorrer sobre a hermética cinematográfica de Akira Kurosawa não é, digamos, tarefa fácil.

No entanto, para estar perante um gênio é necessário, antes, admitir sua imperfeição.

No decorrer desta obra clássica do cinema mundial,  outro fato que invoca maior observação se dá quando o personagem Kagemusha está sendo ejetado do composto clã Takeda, e é visto com o braço esquerdo em um pano de fundo na cor roxa escura, que cobre a maior parte da mão e antebraço.

Como a câmera registrou o plano com alterações em um tiro de filmagem um pouco mais longo, o sling (ou estilingue) é, de repente, muito mais estreito, o que, por consequência, expôs muito mais de sua mão e antebraço do que realmente desejava mostrar.

Nada que abale a majestade de sua sugestão, obviamente.

Boa parte do filme narra eventos históricos reais, incluindo a morte de Shingen e os dois anos de segredo, além da batalha do clímax de Nagashino, em 1575.

Estas cenas também são modeladas de perto sobre as contas detalhadas da batalha.

Na batalha dada no final do longa, há pelo menos 100 fuzileiros mostrados enquanto disparam seus rifles.

O fumo gerado pelos mosquetes se dissiparam quase que em imediato.

Isso indica uma pólvora mais moderna do que a costumeira utilizada nos efeitos da cinematografia no período em ocasião.

Também foram utilizados nos mosquetes, como carga historicamente correta, a pólvora negra que deveria cobrir o campo de batalha com uma espessa fumaça, depois de um punhado de voleios.

"Kagemusha" foi considerado um filme provocador e de direção tipicamente criteriosa.

Além de vencer o conceituado prêmio Palma de Ouro em Cannes e o César de melhor filme, também foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro.

Aqui está, sem dúvidas, o convite para o registro de um dos mais adequados filmes a introduzi-lo no universo denso, histórico e extraordinário de Kurosawa.

COLABORADORES - c r ô n i c a - “Direitos Humanos Para Humanos Direitos” - por Matheus Pichonelli

Almeidinha era o sujeito inventado pelos amigos de faculdade para personalizar tudo o que não queríamos nos transformar ao longo dos anos. A projeção era a de um cidadão médio: resmungão em casa, satisfeito com o emprego na “firma” e à espera da aposentadoria para poder tomar banho, colocar pijama às quatro da tarde, assistir ao Datena e reclamar da janta preparada pela esposa. O Almeidinha é aquele sujeito capaz de rir de qualquer piada de português, negro, gay e loira. Que guarda revistas pornográficas no armário, baba nas pernas da vizinha desquitada (é assim que ele fala) mas implica quando a filha coloca um vestido mais curto. Que não perde a chance de dizer o quanto a esposa (ele chama de “patroa”) engordou desde o casamento.

O Almeidinha, ativista virtual e cidadão de bem.
Por Tito Oliveira - desenho da série Entropia - S/Título - carvão sobre tela -
125x81cm - São Paulo - 2007
O Almeidinha, para nosso espanto, está hoje em toda parte. Multiplicou-se em proporção geométrica e, com os anos, se modernizou. O sujeito que montava no carro no fim de semana e levava a família para ir ao jardim zoológico dar pipoca aos macacos (apesar das placas de proibição) sucumbiu ao sinal dos tempos e aderiu à internet. Virou um militante das correntes de e-mail com alertas sobre o perigo comunista, as contas no exterior do ex-presidente, os planos do Congresso para acabar com o 13º salário. Depois foi para o Orkut. Depois para o Facebook. Ali encontrou os amigos da firma que todos os dias o lembram dos perigos de se viver num mundo sem valores familiares. O Almeidinha presta serviços humanitários ao compartilhar alarmes sobre privacidade na rede, homenagens a pessoas doentes e fotos de crianças deformadas. O Almeidinha também distribui bons dias aos amigos com piadas sobre o Verdão (“estude para o vestibular porque vai cair…hihihii”) e mensagens motivacionais. A favorita é aquela sobre amar as pessoas como se não houvesse amanhã, que ele jura ser do Cazuza mas chegou a ele como Caio Fernandes (sic) Abreu.
O Almeidinha gosta também de se posicionar sobre os assuntos que causam comoção. Para ele, a atual onda deviolência em São Paulo só acontece porque os pobres, para ele potenciais criminosos (seja assassino ou ladrão de galinha) têm direitos demais. O Almeidinha tem um lema: “Direitos Humanos para Humanos Direitos”. Aliás, é ouvir essa expressão, que ele não sabe definir muito bem, e o Almeidinha boa praça e inofensivo da vizinhança se transforma. “Lógica da criminalidade”, “superlotação de presídios”, “sindicato do crime”, “enfrentamento”, “uso excessivo da força”, para ele, é conversa de intelectual. E se tem uma coisa que o Almeidinha detesta mais que o Lula ou o Mano Menezes (sempre nesta ordem) é intelectual. O Almeidinha tem pavor. Tivesse duas bombas eram dois endereços certos: a favela e a USP. A favela porque ele acredita no governador Sergio Cabral quando ele fala em fábrica de marginais. A USP porque está cansado de trabalhar para pagar a conta de gente que não tem nada a fazer a não ser promover greves, invasões, protestos e espalhar palavras difíceis. O Almeidinha vota no primeiro candidato que propuser esterilizar a fábrica de marginal e a construção de um estacionamento no lugar da universidade pública.
Uma metralhadora na mão do Almeidinha e não sobraria vagabundo na Terra. (O Almeidinha até fala baixo para não ser repreendido pela “patroa”, mas se alguém falar ao ouvido dele que “Hitler não estava assim tão errado” ganha um amigo para o resto da vida).
A cólera, que o fazia acordar condenando o mundo pela manhã, está agora controlada graças aos remédios. O Almeidinha evoluiu muito desde então. Embora desconfiado, o Almeidinha anda numas, por exemplo, de que agora as coisas estão entrando nos eixos porque os políticos – para ele a representação de tudo o que o impediu de ter uma casa na praia – estão indo para a cadeia. Ele não entende uma palavra do que diz o tal do Joaquim Barbosa, mas já reservou espaço para um pôster do ministro do Supremo ao lado do cartaz do Luciano Huck (“cara bom, ajuda as pessoas”) e do Rafinha Bastos (“ele sim tem coragem de falar a verdade”). O Almeidinha não teve colegas negros na escola nem na faculdade, mas ele acha que o exemplo de Barbosa e do presidente Barack Obama é prova inequívoca de que o sistema de cotas é uma medida populista. É o que dizia o “meme” que ele espalhou no Facebook com o argumento de que, na escravidão, o tráfico de escravos tinha participação dos africanos. Por isso, quando o assunto encrespa, ele costuma recorrer ao “nada contra, até tenho amigos de cor (é assim que ele fala), mas muitos deles têm preconceitos contra eles mesmos”.
O Almeidinha costuma repetir também que os pobres é que não se ajudam. Vê o caso da empregada, que achou pouco ganhar vinte reais por dia para lavar suas cuecas e preferiu voltar a estudar. Culpa do Bolsa Família, ele diz, esse instrumento eleitoral que leva todos os nordestinos, descendentes de nordestinos e simpatizantes de nordestinos a votar com medo de perder a boquinha. Em tempo: o filho do Almeidinha tem quase 30 anos e nunca trabalhou. Falta de oportunidade, diz o Almeidinha, só porque o filho não tem pistolão. Vagabundo é outra coisa. Outra cor. Como o pai, o filho do Almeidinha detesta qualquer tipo de bolsa governamental. A bolsa-gasolina que recebe do pai, garante, é outra coisa. Não mexe com recurso público. (O Almeidinha não conta pra ninguém, mas liga todo dia, duas vezes por dia, para o primo de um conhecido instalado na prefeitura para saber se não tem uma boca de assessor para o filho em algum gabinete).
O filho do Almeidinha também é ativista virtual. Curte PlayStation, as sacadas do Willy Wonka, frases sobre erros de gramática do Enem, frases sobre o frio, sobre o que comer no almoço e sobre as bebedeiras com os moleques no fim de semana. Compartilha vídeos de propagandas de carro e fotos de mulheres barrigudas e sem dentes na praia. Riu até doer a barriga com a página das barangas. Detesta política – ele não passa um dia sem lembrar a eleição do Tiririca para dizer que só tem palhaço em Brasília. E se sente vingado toda vez que alguém do CQC faz “lero-lero” na frente do Congresso. Acha todos eles uns caras fodásticos (é assim que ele fala). Talvez até mais que o Arnaldo Jabor. Pensa em votar com nariz de palhaço na próxima eleição (pensa em fazer isso até que o voto deixe de ser obrigatório e ele possa aproveitar o domingo no videogame). Até lá, vai seguir destruindo placas e cavaletes que atrapalham suas andanças pela cidade.
Como o pai, o filho do Almeidinha tem respostas e certezas para tudo. Não viveu na ditadura, mas morre de saudade dos tempos em que as coisas funcionavam. Espera ansioso um plebiscito para introduzir de vez a pena de morte (a única solução para a malandragem) e reduzir a maioridade penal até o dia em que se poderá levar bebês de oito meses para a cadeia. Quer um plebiscito também para acabar com a Marcha das Vadias. O que é bonito, para ele, é para se ver. E se tocar. E ninguém ouve cantada se não provoca (a favorita dele é “hoje não é seu aniversário mas você está de parabéns, sua linda”. Fala isso com os amigos e sai em disparada no carro do pai. O filho do Almeidinha era “O” zoão da turma na facul).
Pai e filho estão cada vez mais parecidos. O pai já joga Playstation e o menino de 30 anos já fala sobre a decadência dos costumes. Para tudo têm uma sentença: “Ê, Brasil”. Almeidinha pai e Almeidinha filho têm admiração similar ao estilo civilizado de vida europeu. Não passam um dia sem dizer que a vida, deles e da humanidade em geral, seria melhor se o país fosse dividido entre o Brasil do Sul e o Brasil do Norte. Quando esse dia chegar, garantem, o Brasil enfim será o país do presente e não do futuro. Um país à imagem e semelhança de um Almeidinha.

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

PROVOCAÇÃO - "Concebeu? Registre e Publique!" - por Tito Oliveira

Por Tito Oliveira - Intervenção Urbana do Grupo G. A. I. U. S - projeção sobre parede - 
dimensões variáveis - Barcelona - 2012
Conversava hoje, 16, com minha doce amiga alemã Carol, quando esta enviou-me um link que continha a matéria jornalística sobre a discussão na cidade americana girar em torno da proposta ser uma intervenção urbana ou instalação.

Também não entendi, uma vez estar clara a intervenção.

Um artista anônimo, que atende pelo pseudônimo de Mini Robot, vem se mostrando nas áreas da LA Skid Row, em Los Angeles.

Seu suporte é uma lata de spray que o auxilia na pintura de casas imaginárias para adornar a realidade dos moradores de rua que encontra.

Além disso, o artista deixa pacotes de suplementos alimentares aos necessitados e conversa com eles quando os encontra acordados.

Segundo Mini Robot, seu objetivo é fazer com que essas pessoas falem sobre a extrema pobreza em que vivem e, a partir de então ajudá-los a encontrar soluções para a situação.

Sua arte de rua, documentada na conta do Instagram, pode, inicialmente, parecer extravagante, porém denuncia o descaso do governo americano com a falta de moradia de um número assustador de desamparados.

Em LA Skid Row, por exemplo, estima-se aproximadamente de 3 a 6 mil pessoas desabrigadas e "amparadas" com estruturas de casas descartáveis, improvisadas nas ruas.

Se o fato é culturalmente comovente, ou não, já é outra questão. Pois aproveitarei para dizer sobre o quanto a internet é fascinante.

Seu portal de acessibilidade e os suportes disponibilizados por esta para a difusão de um trabalho, uma expressão artística ou, quaisquer outras, se faz marco subversivo de um tempo.

Em 2012, quando desenvolvia uma residência artística na Europa, no Institut Spai Fontana de Barcelona, na Espanha, para ser mais preciso, criei, junto com demais artistas que conheci em meio ao período de residência; já sendo muito grato ao fotógrafo argentino Mario Rosso e o imageprogector chileno Javier Fernan, um coletivo artístico chamado G. A. I. U. S - Grupo Artístico de Intervenciones Urbanas.

A ideia consistia em explorar os mais diversos segmentos das artes visuais envoltos a um contexto urbano e social, coeso em carga de dramaticidade e uma maior aproximação estética. Enquanto forma de fortalecer o rompimento com a necessidade do artista e/ou grupos de artistas conceber(em) seus trabalhos e direciona-los exclusivamente a espaços expositivos específicos do circuito de arte contemporânea. Suscitando, contudo, a expansão de tal universo ao conhecimento do público em diferentes classes sociais e intelectuais.

A primeira intervenção do Grupo se deu, curiosamente; perante o contexto de introdução do texto, na ideia de intervir no espaço urbano através da projeção de uma fotografia ambientada num espaço de aconchego sobre uma atmosfera qualquer que aludisse o descaso, sem expor a imagem do cidadão em aparente decadência, o que, caso assim fosse, faria a obra taxativa, redundante. (Confira foto e a legenda acima à esquerda).

Não quero dizer, com isso, que a ideia deve deixar de pertencer ao todo uma vez esta já compartilhada publicamente pelo autor. Também não estou aqui denunciando suposto plágio, não seria, assim, pobre para tanto. Porém, digo com a autonomia que me toma, sobre a sugestão ter sido emersa, antes, na idealização de um artista brasileiro chamado Tito Oliveira. Do contrário, meu trabalho seria mera reverberação.


Confira abaixo o trabalho do artista de rua americano e leia matéria original sobre o mesmo neste LINK