Considerações
Sobre Obra Imagética
CORPO MENTE ÁGUA
by ANDRESSA CATELAN
Corpo,
Mente e Água.
Tenho a
junção dessas três palavras como resumo básico, mas profundo, do que vem
a ser meu intuito artístico. Meu foco é o ser humano, e em segundo plano
qualquer outro ser ou coisa que ele possa estar interagindo no
momento da foto ser feita.
Primeiramente a palavra corpo, ele representa a forma física exteriorizada das pessoas, e por isto é a primeira impressão que se tem delas ao ver a foto. Mas como meu objetivo é ir, além disto, vem a palavra mente, onde a estampa cria consciência e personalidade, onde se formam as atitudes refletindo emoções nos corpos que retrato. E finalmente a água, com um duplo significado pessoal para mim, um deles é a vida. Água é vida, ela representa o interior de nosso corpo e as necessidades dele. Juntamente vem o mar, não deixando de ser vida também, mas é a parte da natureza que mais me encanta e me traz inspirações, pois penso que todos somos como ele, imensos, fortes e sempre haverá mais dentro de nós para descobrirmos. O ser humano se limita muito mentalmente, o que tento passar em minha arte é o que acredito a consciência da imensidão que somos.
Primeiramente a palavra corpo, ele representa a forma física exteriorizada das pessoas, e por isto é a primeira impressão que se tem delas ao ver a foto. Mas como meu objetivo é ir, além disto, vem a palavra mente, onde a estampa cria consciência e personalidade, onde se formam as atitudes refletindo emoções nos corpos que retrato. E finalmente a água, com um duplo significado pessoal para mim, um deles é a vida. Água é vida, ela representa o interior de nosso corpo e as necessidades dele. Juntamente vem o mar, não deixando de ser vida também, mas é a parte da natureza que mais me encanta e me traz inspirações, pois penso que todos somos como ele, imensos, fortes e sempre haverá mais dentro de nós para descobrirmos. O ser humano se limita muito mentalmente, o que tento passar em minha arte é o que acredito a consciência da imensidão que somos.
Cada
corpo humano tem sua beleza única quando vem ao mundo, e por este motivo minha
preferência é fotografá-los nus, porém, o ser
também sofre transformações diante do meio, as vestimentas e adereços já fazem
parte de uma cultura nossa e acabam representando conceitos e individualidades.
Por este motivo não fotografo exclusivamente a nudez e até gosto de enfeitar o
corpo dependendo do tema da foto e o que quero trazer nela. Independentemente
de ter sido planejada ou espontânea, minha visão sempre será focada na essência
que uma determinada cena carrega.
O primeiro ensaio oficial que fiz foi do meu projeto "O Nosso Mais
Puro", no qual retrato de maneira clara a base conceitual das fotos que eu
faria posteriormente. Foi mais que um simples ensaio, foi uma experiência de
liberdade e reflexão para mim e os participantes. Realizado em uma das
cachoeiras de Paranapiacaba - SP, a primeira série do projeto (que pretendo dar
continuidade futuramente) tem o intuito de mostrar a juventude de maneira
natural, eliminando conceitos distorcidos que nos é imposto desde o nascimento,
como por exemplo, ser "errado" mostrar o corpo e ainda quando
mostrado, é olhado como erotismo ou pornografia. Em um meio natural, os
participantes nus, como tudo a sua volta, ficaram livres para interagir com a
natureza. O objetivo era a espontaneidade dessa descoberta de reconexão. Eles
vivenciaram o lado puro de seu próprio ser, essência e personalidade.
Quando me aprofundei na fotografia, estava saindo de uma crise e foi
quando comecei a fazer autorretratos, uma prática que está muito presente em
meu repertório. Foi uma terapia misturada com um desabrochamento artístico,
pois quando estava me recuperando, isso ajudou bastante com o famoso processo
de autoconhecimento depois de uma experiência ruim. As fotos faziam com que eu
me enxergasse melhor por dentro e por fora. Conforme fui superando meus
conflitos, queria expandir isso para as outras pessoas, retratá-las de maneira
profunda também. Eu já sabia que o mundo fotográfico me atraia, mas eu tentava
de várias outras maneiras expressar o que eu queria e nunca era o suficiente,
até perceber que uma câmera era a base perfeita para o que eu buscava fazer. E
agora, decidi tornar a fotografia como minha profissão por não conseguir mais
largar algo que já amo tanto.
Andressa Catelan
O corpo imagético é reflexo da Mente de quem concebe no espelho de água
que se forma ao redor dessa filosofia, a Natureza em todo o seu esplendor.
A prolongação dessa filosofia colocada em práxis pela autora deve-se
intensamente ao sentido da observação; vai muito além e aquém do olhar que
apenas vê se souber distinguir o que o olho vê e o que a Mente interpreta. O
Corpo visto como elemento constitutivo da Natureza jamais como objeto do
sujeito deixando em claro que este é o mote central de sua obra sem expor ao
ridículo o Corpo nos moldes das classificações sociais. Por isso é pensado em
espírito: porque é Emancipação; por isso abafa qualquer sintoma de ufanismo:
porque é simples; por isso é redenção: vem do profundo das águas.
Tal vez, e de fato, um dos filósofos da Natureza, o pré-socrático Tales
de Mileto escolhia a Água como o sentido adâmico de tudo o que existe, isto é,
a Natureza; assim para os hipocráticos a fleuma sendo fria e úmida, por
conseguinte, regida pelas águas dos fluxos internos do Corpo. Tal vez por isso
Schiller escolheu também as águas para engendrar sua revista Die Horen (1795-1797) ao contemplar a
liberdade como “a articulação necessária para unir estética e ética;
verdade, bom e beleza”.
Porém, a existência da Água nem sempre fazia referência à Mente coisa
que somente veio a acontecer em pleno século XX quando a Arte decidiu por fim
insinuar reformas que atingiam o social diante do que compactua diretamente com
o que é humano e real na sua razão mais simples e concreta diante das adversidades
do mundo e suas ingerências dentro do contexto do que é liberdade, estética,
ética, visão panorâmica do homem social e do homem individual com todas as
descobertas que com afinco os artistas se dispuseram a apresentar evitando
assim a estagnação do pensar, do sentir, do perceber e do realizar.
Tristão e Isolda, a famosa ópera de Wagner em onde a junção da loucura
dos oceanos na busca incessante do que há além dos limites do olhar, produz o
novo enigma à Humanidade: qual seria o fluxo que determinaria a Historia do
Homem com todas suas vertentes. Assim Júlio Verne e sua abstêmia e lúcida
viagem por entre oceanos inebriantes: descobriu o pensamento selvagem,
igualmente, no sentido adâmico longe de toda estrutura que confinasse esse
“adâmico” à posição de “tudo começou assim”. Só o sensível e manifesto
observados minuciosamente poderia (e pode) aluminar as virtudes cujos conceitos
encerram a obra Corpo Mente e Água da
fotografa paulistana Andressa Catelan durante
todo o exercício e prolongação da filosofia da Natureza.
A fotógrafa nômade, como quiçá a chamaria Gilles Deleuze, incorre em
dois aspectos diferenciados numa mesma direção: a imobilidade e o movimento.
Deleuze pode situar essa relação da seguinte forma: “os nômades não são migrantes nem viajantes, e sim, ao contrario, os que
não se movem os que se agarram à estepe imóvel, mas que circulam a grandes
passos”.
Na sequência de fotos encontramos o passarinho em movimento, todavia,
imóvel. Igualmente, o Corpo nu imóvel, mas cheio de aventuras; a Água que cai e
a água que escorre em ambos os sentidos; as árvores e os arbustos crivados de
luxaria ainda que uma lufada de vento que a Água constrói com sua queda
mantenha-se inerte e convidativa. Encontra-se o Corpo vestido, cheio de
adversidades enquanto o nu feminino, cheio de desejos de Emancipação: a
liberdade do eu ao rés da pedra que
conforma a paisagem e que invoca a reflexão.
Deste modo tanto um soberano e um paladino podem olhar entreverando-se
mutuamente com cujos desejos mais cismam em atingir. No entanto, o olhar jamais
pode se entreverar com o olhar do outro porque
cada um olha e interpreta à sua maneira aquilo que vê indistintamente do que se
haja exposto à sua frente.
Justamente é o que faz que a Arte Imagética faça um registro e este permaneça
vivo qual o órgão dos sentidos e que quando visto em tempos e espaços diversos
podem causar a denominada revolução dos sentidos.
A fotógrafa se expõe e expõe seu olhar diante da câmera em onde muitos
descobrirão seu próprio eu diante da
adversidade do outro mergulhando nas
próprias Águas de sua sacramental Natureza.
Tal vez e por isso seja necessário convocar o espírito dos antigos, como
Ovídio, por exemplo, em onde cita em um de seus versos mais cotados de sua obra
a extensão primitiva de seu desejo mais profundo e secular em se tratando dos
motivos que faz ao Homem procurar sua verdadeira identidade: "Nasceu então o homem. Este, ou o fez de semente divina aquele artífice do universo, a origem do
mundo melhor; ou então será a Terra, recente,
separada há pouco do alto éter, talvez
ainda contivesse sementes do céu, seu parente, terra que o filho de Jápeto misturando com água da
chuva, moldou à imagem dos deuses que governam
tudo." (Metamorfose I, V, 78-83)
Quanto mais se olha profundamente o conceito de Corpo Mente e Água, maior será o
discernimento de nossa verdadeira Natureza simbolizada no mais concreto dos
resultados: a Arte como interpretação de tudo o que nos rodeia e que nos faz
sermos majestosos e ponderáveis à hora de perceber tamanha criação de uma
artista.
Ludwig Ravest é chileno, escritor, estudou filosofia na Universidade de Santiago e atualmente vive e trabalha em São Paulo.