quinta-feira, 27 de novembro de 2014

COLABORADORES - A Obra De Andressa Catelan por Ludwig Ravest

Considerações Sobre Obra Imagética
                                                        CORPO MENTE ÁGUA
                                                      by ANDRESSA CATELAN

                      
Corpo, Mente e Água.

Tenho a junção dessas três palavras como resumo básico, mas profundo, do que vem a ser meu intuito artístico. Meu foco é o ser humano, e em segundo plano qualquer outro ser ou coisa que ele possa estar interagindo no momento da foto ser feita.

Primeiramente a palavra corpo, ele representa a forma física exteriorizada das pessoas, e por isto é a primeira impressão que se tem delas ao ver a foto. Mas como meu objetivo é ir, além disto, vem a palavra mente, onde a estampa cria consciência e personalidade, onde se formam as atitudes refletindo emoções nos corpos que retrato. E finalmente a água, com um duplo significado pessoal para mim, um deles é a vida. Água é vida, ela representa o interior de nosso corpo e as necessidades dele. Juntamente vem o mar, não deixando de ser vida também, mas é a parte da natureza que mais me encanta e me traz inspirações, pois penso que todos somos como ele, imensos, fortes e sempre haverá mais dentro de nós para descobrirmos. O ser humano se limita muito mentalmente, o que tento passar em minha arte é o que acredito a consciência da imensidão que somos.

Cada corpo humano tem sua beleza única quando vem ao mundo, e por este motivo minha preferência é fotografá-los nus, porém, o ser também sofre transformações diante do meio, as vestimentas e adereços já fazem parte de uma cultura nossa e acabam representando conceitos e individualidades. Por este motivo não fotografo exclusivamente a nudez e até gosto de enfeitar o corpo dependendo do tema da foto e o que quero trazer nela. Independentemente de ter sido planejada ou espontânea, minha visão sempre será focada na essência que uma determinada cena carrega.

O primeiro ensaio oficial que fiz foi do meu projeto "O Nosso Mais Puro", no qual retrato de maneira clara a base conceitual das fotos que eu faria posteriormente. Foi mais que um simples ensaio, foi uma experiência de liberdade e reflexão para mim e os participantes. Realizado em uma das cachoeiras de Paranapiacaba - SP, a primeira série do projeto (que pretendo dar continuidade futuramente) tem o intuito de mostrar a juventude de maneira natural, eliminando conceitos distorcidos que nos é imposto desde o nascimento, como por exemplo, ser "errado" mostrar o corpo e ainda quando mostrado, é olhado como erotismo ou pornografia. Em um meio natural, os participantes nus, como tudo a sua volta, ficaram livres para interagir com a natureza. O objetivo era a espontaneidade dessa descoberta de reconexão. Eles vivenciaram o lado puro de seu próprio ser, essência e personalidade.

Quando me aprofundei na fotografia, estava saindo de uma crise e foi quando comecei a fazer autorretratos, uma prática que está muito presente em meu repertório. Foi uma terapia misturada com um desabrochamento artístico, pois quando estava me recuperando, isso ajudou bastante com o famoso processo de autoconhecimento depois de uma experiência ruim. As fotos faziam com que eu me enxergasse melhor por dentro e por fora. Conforme fui superando meus conflitos, queria expandir isso para as outras pessoas, retratá-las de maneira profunda também. Eu já sabia que o mundo fotográfico me atraia, mas eu tentava de várias outras maneiras expressar o que eu queria e nunca era o suficiente, até perceber que uma câmera era a base perfeita para o que eu buscava fazer. E agora, decidi tornar a fotografia como minha profissão por não conseguir mais largar algo que já amo tanto.


Andressa Catelan


O corpo imagético é reflexo da Mente de quem concebe no espelho de água que se forma ao redor dessa filosofia, a Natureza em todo o seu esplendor.

A prolongação dessa filosofia colocada em práxis pela autora deve-se intensamente ao sentido da observação; vai muito além e aquém do olhar que apenas vê se souber distinguir o que o olho vê e o que a Mente interpreta. O Corpo visto como elemento constitutivo da Natureza jamais como objeto do sujeito deixando em claro que este é o mote central de sua obra sem expor ao ridículo o Corpo nos moldes das classificações sociais. Por isso é pensado em espírito: porque é Emancipação; por isso abafa qualquer sintoma de ufanismo: porque é simples; por isso é redenção: vem do profundo das águas.

Tal vez, e de fato, um dos filósofos da Natureza, o pré-socrático Tales de Mileto escolhia a Água como o sentido adâmico de tudo o que existe, isto é, a Natureza; assim para os hipocráticos a fleuma sendo fria e úmida, por conseguinte, regida pelas águas dos fluxos internos do Corpo. Tal vez por isso Schiller escolheu também as águas para engendrar sua revista Die Horen (1795-1797) ao contemplar a liberdade como “a articulação necessária para unir estética e ética; verdade, bom e beleza”.

Porém, a existência da Água nem sempre fazia referência à Mente coisa que somente veio a acontecer em pleno século XX quando a Arte decidiu por fim insinuar reformas que atingiam o social diante do que compactua diretamente com o que é humano e real na sua razão mais simples e concreta diante das adversidades do mundo e suas ingerências dentro do contexto do que é liberdade, estética, ética, visão panorâmica do homem social e do homem individual com todas as descobertas que com afinco os artistas se dispuseram a apresentar evitando assim a estagnação do pensar, do sentir, do perceber e do realizar.

Tristão e Isolda, a famosa ópera de Wagner em onde a junção da loucura dos oceanos na busca incessante do que há além dos limites do olhar, produz o novo enigma à Humanidade: qual seria o fluxo que determinaria a Historia do Homem com todas suas vertentes. Assim Júlio Verne e sua abstêmia e lúcida viagem por entre oceanos inebriantes: descobriu o pensamento selvagem, igualmente, no sentido adâmico longe de toda estrutura que confinasse esse “adâmico” à posição de “tudo começou assim”. Só o sensível e manifesto observados minuciosamente poderia (e pode) aluminar as virtudes cujos conceitos encerram a obra Corpo Mente e Água da fotografa paulistana Andressa Catelan durante todo o exercício e prolongação da filosofia da Natureza.

A fotógrafa nômade, como quiçá a chamaria Gilles Deleuze, incorre em dois aspectos diferenciados numa mesma direção: a imobilidade e o movimento. Deleuze pode situar essa relação da seguinte forma: “os nômades não são migrantes nem viajantes, e sim, ao contrario, os que não se movem os que se agarram à estepe imóvel, mas que circulam a grandes passos”.

Na sequência de fotos encontramos o passarinho em movimento, todavia, imóvel. Igualmente, o Corpo nu imóvel, mas cheio de aventuras; a Água que cai e a água que escorre em ambos os sentidos; as árvores e os arbustos crivados de luxaria ainda que uma lufada de vento que a Água constrói com sua queda mantenha-se inerte e convidativa. Encontra-se o Corpo vestido, cheio de adversidades enquanto o nu feminino, cheio de desejos de Emancipação: a liberdade do eu ao rés da pedra que conforma a paisagem e que invoca a reflexão.

Deste modo tanto um soberano e um paladino podem olhar entreverando-se mutuamente com cujos desejos mais cismam em atingir. No entanto, o olhar jamais pode se entreverar com o olhar do outro porque cada um olha e interpreta à sua maneira aquilo que vê indistintamente do que se haja exposto à sua frente.

Justamente é o que faz que a Arte Imagética faça um registro e este permaneça vivo qual o órgão dos sentidos e que quando visto em tempos e espaços diversos podem causar a denominada revolução dos sentidos.

A fotógrafa se expõe e expõe seu olhar diante da câmera em onde muitos descobrirão seu próprio eu diante da adversidade do outro mergulhando nas próprias Águas de sua sacramental Natureza.

Tal vez e por isso seja necessário convocar o espírito dos antigos, como Ovídio, por exemplo, em onde cita em um de seus versos mais cotados de sua obra a extensão primitiva de seu desejo mais profundo e secular em se tratando dos motivos que faz ao Homem procurar sua verdadeira identidade: "Nasceu então o homem. Este, ou o fez de semente divina aquele artífice do universo, a origem do mundo melhor; ou então será a Terra, recente, separada há pouco do alto éter, talvez ainda contivesse sementes do céu, seu parente, terra que o filho de Jápeto misturando com água da chuva, moldou à imagem dos deuses que governam tudo." (Metamorfose I, V, 78-83)

Quanto mais se olha profundamente o conceito de Corpo Mente e Água, maior será o discernimento de nossa verdadeira Natureza simbolizada no mais concreto dos resultados: a Arte como interpretação de tudo o que nos rodeia e que nos faz sermos majestosos e ponderáveis à hora de perceber tamanha criação de uma artista.


Ludwig Ravest é chileno, escritor, estudou filosofia na Universidade de Santiago e atualmente vive e trabalha em São Paulo.

PROVOCAÇÃO - "Educativo" - por Tito Oliveira

Por Tito Oliveira - pintura da série Herméticos - "Projeção" - esmalte
sintético sobre madeira - 95x169cm - São Paulo - 2007
É indiscutível que a educação pública no Brasil vigore questionavelmente. 

No ranking mundial, estamos à frente apenas de países muito mais pobres que o nosso, como a Nigéria, por exemplo. Nação mais corrupta do globo.

Saber disso já soa desaforado perante os direitos do contribuinte, ou simplesmente humanos.

Imagina, então, fazer parte e se desdobrar em meio a seu sistema de trabalho precário, provido de pouco escrúpulos com o profissional, militante deste universo.

Muitas vezes pensamos, equivocadamente, que o problema se dá numa geração transviada, desinteressada e de valores trocados.

Outras vezes analisamos que no lugar de educadores, deveríamos ser chamados de orientadores.

Quer dizer, se a escola é uma instituição interposta entre as necessidades do mundo e os valores pré-estabelecidos no lar, na ausência da necessária participação dos pais o tutor pouco poderá realizar se não desempenhar uma posição que pouco lhe cabe, negligenciando o real motivo que o constitui professor: ensinar.

Que todo ocaso se faça decorrência de um sistema constitucional desprezível às necessidades básicas de sobrevivência que se fundamentam na educação, já não se traduz em novidade alguma. 

Porém, é preciso refletir sobre até que ponto o fato de encontrarmo-nos, enquanto profissionais, cidadãos, habituados com tal descaso, nos exime de estarmos entusiasmando todavia mais a gravidade do caso.

Em muitos momentos, sorrio por ter aprendido a sorrir de mim mesmo. Levando a sério, cada vez mais comumente, nuances no acaso ou entre a vida animal. 

Pois cheguei a desejar, por instantes; ao observar o recinto frio em que os alunos são submetidos à transitar espontaneamente, que mentores de tais instituições sagrem para provar que são reais.

Parei de fazê-lo.

Muitas vezes, para não expelir reações a plenos pulmões, é necessário trajar o perfil da ingenuidade, do contrário sobrepõe-se demais horizontes possíveis.

Fato é que desconheço a agonia que amam. Suponho, por clara evidência, ser bastante.

Muitas, presumo, devem ser batizadas na água, outras, em chamas. 

Sei apenas que há mais na vida do que o que nos faz chorar. 

Estas lágrimas não são razão para meu luto. 

Não sofrerei com um olhar de ódio e desprezo. 

Meu pedestal é adornado com o frescor das flores.

Em muitas das ocasiões, penso em dizer para que desliguem as luzes e que permitam-me olhar dentro de suas almas. 

Nasci e sangrei para abraça-los.

A má remuneração nada significa perto da dor sofrida num trabalho inconsistente, pouco fundamentado.

O que seria isso se não uma espécie de inferno gentil?!

Por sorte, o meio é a relação humana e, vez em quando, é possível escutar a rua tocar uma música que eu conhecia e que, por vez, acaba levando-me mais próximo de mim. 

São músicas que chamo de minha, que faz-me adentrar a casa da minha infância, onde eu poderia, ao menos, encontrar o meu nome. 

Se assim não fosse possível, só teria a mim para culpar. 

Por todas essas coisas, foi preciso saber que o sereno do azul é estimulado por sua única vontade de vivê-lo.

Voltei a sorrir!

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

POUCAS & BOAS - "A Boa Sensação Será Sempre Suficiente" - por Tito Oliveira

Por Tito Oliveira - desenho da série Entropia - S/Título -
caneta esferográfica sobre carbono - 45x30cm -
São Paulo - 2007
O ato escravagista que estigmatizou o Brasil nada teve a ver com o esmero no bom gesto de plantar, semear e colher.

Ao contrário, foi impulso de uma avassaladora confusão, vigente nos pequenos espíritos dos colonizadores e ascendentes.

A reflexão, oriunda desta vil e obtusa passagem na história das terras tupiniquins e do mundo, se dá quando apreendemos a experiência comum a um laboratório de pesquisas que suscitam a evolução da existência.

A capacidade, não econômica, mas, antes, cognitiva, de desfrutar um crocante, apimentado e delicioso acarajé; acompanhado de uma cerveja gelada num fim de tarde de crepúsculo cor vermelho reluzente; enquanto observa o ar dos belos rostos delineados pela força do amor e subversão da negritude baiana e/ou afro-brasileira, adorna todavia mais a sonoridade de um anúncio televisivo que divulga a Roda De Capoeira enquanto novo atributo ao patrimônio cultural mundial.

Logo, em seguida, daríamos conta que entusiastas de tamanha maldade perante a depreciação dos diretos humanos nos tempos de escravidão foram, em suma, meramente indolentes.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

CINEMA - c r í t i c a / d i c a - "Depois De Horas" - por Tito Oliveira

Dirigido por Martin Scorsese, "Depois De Horas", 85, de título original homônimo, conta a história de um processador de texto, interpretado pelo ator Paul Hackett, de caráter pacífico e que viaja impulsivamente para o SoHo de Manhattan, após conhecer uma mulher jovem e atraente, Marcy Franklin (Rosana Arquette), mas, aparentemente perturbado, se encontra preso em um vórtice surreal de coincidências improváveis ​​e circunstâncias espinhosas.

O roteiro, escrito por Joseph Minion, foi também a sua tese de mestrado na Columbia Film School.

Scorsese projeta o filme como uma paródia do estilo de Hitchcock.

Os movimentos de câmera são elaborados e ecoam sequências de "Marnie, Confissões De Uma Ladra", 1964, enquanto a pontuação de Howard Shore emula o estilo de um dos colaboradores mais frequentes de Hitchcock, Bernard Herrmann.

A conversa entre Paul e o segurança no Club Berlin é fundamentada a partir de Franz Kafka, em tratado perante a lei.

Martin Scorsese pediu a Griffin Dunne para abster-se de sexo e dormir pouco durante as filmagens, afim de obter uma sensação mais realista de paranoia.

Os primeiros 30 minutos do filme são baseados em 1982, onde o artista de rádio Joe Frank NPR Playhouse concebe o monólogo "Lies".

Alguns dos elementos do diálogo e da trama do filme são levantados literalmente do programa, incluindo Paul na reunião de Marcy, os pesos de papel bagels -e- cream- cheese, Paul chamando Marcy naquela mesma noite para comprar os pesos de papel, Paul perdendo seu táxi quando o dinheiro voa para fora da janela, Marcy sendo estuprada por um ex- namorado que desceu a escada de incêndio e adormeceu durante o estupro, Marcy sendo casada com um homem que trabalha no exterior e que a escreve todos os dias.

Joe Frank, por sua vez, entrou com uma ação contra os produtores e foi, então, muito bem pago em um assentamento.

O tiro, onde a câmera cai verticalmente enquanto rastreiam Griffin Dunne, foi feito em duas tomadas.

No primeiro take, a lente da câmera foi colocada através de um buraco em uma placa de madeira e, em seguida, a placa foi retirada do telhado com cordas elásticas.

Depois que o primeiro take foi feito, o produtor Amy Robinson, o diretor Martin Scorsese e o diretor de fotografia Michael Ballhaus se recusaram a fazer o tiro novamente por medo de expor a segurança de Dunne.

De acordo com Robinson, os cabos de bungee, que sustentavam a câmera, começou a provocar fumaça.

Dunne, por outro lado, estava alheio ao perigo e se dizia pronto para fazer outro take.

Ballhaus filmou a segunda tomada com um movimento rápido, num guindaste.

Havia muita incerteza de como o filme deveria terminar.

Michael Powell disse: " Ele deve terminar voltando ao trabalho ", mas isso foi inicialmente rejeitado por ser muito improvável e difícil.

Eles tentaram muitas outras conclusões, algumas foram até mesmo filmadas.

Mas a opção que todos sentiram realmente funcionar se deu no retorno de Paul ao trabalho, assim como um novo dia começando.

O som de uma ratoeira tirando fechada no apartamento de Julie é claramente a de um vazio com o som agudo do bar na armadilha de metal fazendo contato com madeira.

O som de um ressalto para baixo, em um rato real, faria mais de um baque maçante, ao invés de um clack alto.

Quando Neil e Pepe fugiam de Paul na van (pela primeira vez) , o motor pode ser ouvido acelerando à medida que a velocidade toma distância, embora as luzes do freio estivessem ligadas.

Sem comparações com todos os filmes de Scorsese, tenho que admitir que este estaria entre os cinco melhores.

After Hours apresenta um mundo escuro e surreal, com admiração fantástica.

Os personagens são todos interessantes, as performances excelentes, especialmente a de Griffin Dunne, com ritmo intenso.

Realizado em 1985, é possível notar as técnicas de Scorsese usadas em Goodfellas, com edição rápida etc.

É criteriosamente dirigido e muito bem editado.

Como um espectador, você acaba por inclinar-se ao desejo de ver o personagem de Dunne voltando para casa, mas tudo que poderia acontecer com ele, acontece.

Esta não é apenas uma evocação do bairro Soho, no início dos anos 80, mas uma comédia profundamente negra.

Todas as regras saem pela janela para que o personagem de Dunne se desdobre, depois de horas.

Na ocasião do filme, Scorsese era realmente o melhor diretor em atividade, logo não jogue fora a oportunidade de prestigiar este sugestivo filme.

COLABORADORES - cinema - c r í t i c a / d i c a - "Tiempos De Valientes" - por Ludwig Ravest

Seguindo a rota do buddy movie, encontramos um filme cuja assertiva principal seja a da busca de heróis da vida cotidiana, do que é habitual, do cotidiano exato e propício à ação na qual, nós, todos, inseridos de uma forma bastante significativa em vista dos nossos papéis sociais estamos nunca a salvo de peripécias que implodem dentro da mesma vida cotidiana. 

O roteiro muito bem conotado pelo diretor Damián Szifron, surpreende com a descoberta de que heróis somos: anônimos e correlatos.

O filme retrata a vida de um psiquiatra comunitário (Diego Peretti) que da noite para o dia se envolve em uma trama na qual ele faz um papel chave de ser o salvador de um agente da Polícia Federal Argentina que, após muitas investigações, este último resolve dar fim a uma máfia em onde se veem envolvidos policiais comuns e agentes secretos do Serviço de Inteligência. 

A naturalidade do ator mostra seu papel indagador entre seu cliente (Luis Luque) e a própria tragédia do psiquiatra que descobre tal qual acontece com o seu paciente, em relação à vida conjugal, que a mulher o engana.

O primeiro entra em depressão devido ao choque aparente entre a conformidade da descoberta e o devir. 

O segundo, que por motivos meteorológicos, convida o primeiro a entrar na sua casa solidificando-se uma amizade que é a que supostamente, na vida real, devia propor o leitmotiv do eixo analista-paciente para que tal sintoma prescrito, neste caso, a depressão do agente, se dissipe.

Destarte, o humor que empreende a trama pela sua própria invectiva é na verdade uma tragicomédia que se por um lado suscita um certo espanto na vida real, aqui torna-se de fato, o emprego e a forma original de que psiquiatra e paciente são configurações da mesma problemática, mas em sentidos diferenciados e tratados à maneira do espelho lacaniano, o estágio, e este seja tão cruel na vida real, mas na trama abordada no filme acabe por espelhar a situação de vulnerabilidade a que toda a sociedade está exposta sem abrir feridas.

Quiçá seja este o tom preponderante do humor são diante de uma situação que beira o intolerável.

Peretti que na vida real ele é psiquiatra e psicanalista, na rodagem ele se mostra ativo em sua própria esfera do real quebrando-o apenas com a ação nos quais bandidos e mocinhos estão à espreita de uma salvação: um, em salvaguardar a vida do seu paciente envolvido na investigação; os outros, em realizar um feito marginal usando-se dos poderes institucionais que possuem.

A grande sacada do filme é a ambientação propícia para tais atos utilizando-se de todos os elementos compatíveis com a trama sem perder o lance interativo de uma profundeza dialética ao ponto de ser inevitável a formação de pensamentos ulteriores confinado no inconsciente dos espectadores, isto é, do público que se vê a través da tela do cinema: a notada representação da vida cotidiana dentro dos lares em quesitos conjugais, o papel do profissional psi diante da problemática, a simbolização do herói que por motivos políticos e sociais deixa de transcender, tendo em vista a margem de acusações que a opinião pública ressalta em todo momento em questões ligadas à corrupção policial e à falta de ética e de moral das instituições que deveriam dar o exemplo.

Por fim, a ruptura de valores tidos como imorais diante da nova sociedade em transição que, se por um lado criticam atos recorrentes da mesma moral social impositiva tanto o policial quanto o analista quebram-no em apenas dez minutos de trajetória, insinuando indiretamente a uma reforma de pensamentos subjetivos tanto quanto à renovação dos procedimentos das instituições como uma forma de projetar aquilo, como foi retroexposto em linhas anteriores, no inconsciente dos espectadores.

“Tiempo de Valientes” assume, pelo título do filme, a fama do herói anônimo que pode estar em qualquer ponto de uma cidade, região ou localidade. 

Tal vez, na poltrona do lado dentro da sala de cinema. 

Essa projeção do que é a coragem, a valentia, a volição continuada não se trata mais ao que estamos acostumados na historicidade cronológica do nosso universo humano, mas sim, na simbolização do absurdamente natural e que no dia a dia não nos damos conta justamente por essa falta de autocrítica e senso comum e que deveria residir dentro de nós de forma espontânea e cíclica para resolver os impasses que a própria vida manifesta.


Ludwig Ravest é chileno, escritor, estudou filosofia na Universidade de Santiago e atualmente vive e trabalha em São Paulo.

domingo, 16 de novembro de 2014

COLABORADORES - c i t a ç ã o - Marcos Lopes por Ludwig Ravest

Considerações sobre obra literária
             
  “O Segredo do Caleidoscópio”
                                        
   by Marcos Lopes.

                                                                         
                                                                            I


O líder dos lotófagos ordenou que o rapaz fosse levado à sua presença no dia seguinte.

- Teve sorte de não ter morrido - observou o soberano com sua voz rouca e com os olhos fixos na sacola. - Nós somos bastante acolhedores e hospitaleiros. Você é bem-vindo em nosso país, forasteiro, mesmo não conhecendo sua identidade.

- Sou muito grato. Passei por maus bocados até chegar aqui. Não faz ideia do que já enfrentei. Tenho ainda uma missão para cumprir e outros desafios para fazer valer uma antiga profecia.
                                                                                                    (Cap. III, pág. 21)


  

         
A pessoa de Marcos Lopes me lembra em reiteradas ocasiões sua esporádica passagem pela calçada cinemática da Rua Augusta. O perfil que se vislumbra de sua pessoa é o perfil de adequado sentido de sensibilidade e singeleza. Embora essa sentença não denote apenas uma forma de enaltecimento da pessoa do autor de uma obra, ele delineia perfeitamente os fluxos e influxos da Antiguidade Grega adaptando-a às circunstâncias presentes e dando– a por entender a essa geração que infere confiança e renovação de valores.

          Sem reservas, de devido direito por parte do autor de “O Segredo do Caleidoscópio” eis que efetuo uma consideração de sua obra (do latim siderare) seguindo os ditames do reconhecimento, porém abandonando a passividade, no caso o eu leitor, inscrevendo um comentário a titulo de potestade literária.

          Sua obra seria indicada como Profecia do Espelho, algo que para o bom observador não lhe é difícil distinguir dada a relevância do mundo de hoje no sentido da globalização, urbanização e trafego intenso de idéias. Todos somos espelhos de nós mesmos. Mas o autor se deixa utilizar pela imaginação impregnada de intuitividade, expressão esta que designaria o elemento principal da moçada de hoje, dos jovens, dos adolescentes de hoje que é o universo de pessoas ao qual a obra vai dirigida. A expressão universalizaria um sentimento dado à geração de hoje. Singra todos os mares em busca da eloqüência perfeita para um entendimento não paradigmático da realidade e sim, para o reconhecimento da vida através do Espelho do cotidiano no viés da mitologia.

          Todavia o autor se debruça sobre o trabalho, ou de modo superior, a labor de criar no adolescente um hábito diferente; quiçá a labor que só a esponja faria, isto é, absorver a riqueza da historia e da literatura e oferecê-la de modo prático e desinteressado, ou então, sem inflas de academicismo, em direção ao universo adolescente i.e infanto-juvenil.

          A obra de Marcos Lopes não possui redundâncias; ele se esmera em disseminar cultura, riqueza e conhecimento e com isso inserir os jovens na veleidade que a curiosidade que os noviços possuem em relação ao conhecimento sobre os nossos antepassados, ora histórico; ora familiar; ora ontológico para ir à busca de uma identidade. É bem sabido que identidade é a relação de Espelho dentro de uma nação, de um grupo, de uma comunidade com objetivos em comum, embora por caminhos diferentes, algo que a tradição greco-romana deixou como legado para o mundo peninsular, pois não é novidade encontrarmos rastros de cultura helena nos traços concernentes ao individuo e à sociedade que permeia a urbanidade interplanetária.

          Esse valor que além de vislumbrar riquezas para si e para o outro é o próprio oráculo onde somos profetas, autodidatas e devotados; somos nosso século ainda inspirado em antigas estruturas civilizatórias: “Édipo Rei”, “Antígona”, “Antígona em Colona”, “Medeia”, “A Celestina” dentre outras obras clássicas helênicas e pós-helênicas que instaura a heurística do universo humano confrontado com a própria condição que lhe toca viver.

          Descobrir e compreender o mundo clássico, ou melhor, a junção helenista-judaico-cristã é compreender melhor nosso presente gênico e histórico; significa compreender nosso universo em tempo real, suas oscilações, sua movimentação pendular e rotativa além de sua retórica temporal plasmada na duplicidade de suas formas em pleroma tais como o dia e a noite, o lado A o lado B, a ponta esquerda e a ponta direita, o que está em cima o que está embaixo, o que fica trás o que vai à frente, etc. Nisso o autor de “O Segredo do Caleidoscópio” acertou em cheio ao esfalfar os axiomas encontrados ao longo da leitura onde o Sacerdote que também era poeta, aparece como declamador e ao mesmo tempo orador: um noticiador de seu tempo.

          Hoje o Sacerdote é o pedagogo que pode ser artista, recriador de seu entorno, de seu ambiente, sendo o responsável pelo fenômeno de transformação do ser em seu tempo. Igualmente ele é o filósofo, o poeta e o analista a alcançar o ápice da essência de seu próprio ser para tornar-se afável diante das pessoas que lhe rodeiam.
          
Seguindo a trilha de Pascal: a natureza é uma esfera espantosa, cujo centro está em toda parte e a circunferência em nenhuma.

          Por isso ler é olhar, olhar a través do espelho da literatura; é pertencer por uns segundos, minutos ou tal vez horas a uma circunferência, a uma circunstância. É ocupar o espaço de Cibele, Démeter, Autora, Febo; pertencer ao trono de Apolo, Zeus e olhar com os olhos de Ulisses, Ovídio, Diógenes Laércio e Flávio Josefo; é ser um cidadão da antiga Esparta, um legislador em Atenas, um naufrago em Chipre ou uma Atenéia de olhos esbugalhados. Um herói enigmático driblando górgonas, monstros e pégasos livrando um combate a favor da força e da inteligência (perspicácia).

          Indubitável que todas essas instâncias demarcam com suficiente juízo os diferentes rostos da Humanidade. Cada mito contempla o continuo movimento das massas, cada lenda refrata o espírito do tempo aqui e agora como sempre tem sido.

          Retratam os deuses a alforria e suas fúrias demonstrando as oscilações que são partes da própria natureza humana in nillo tempore.

          A literatura de Marcos Lopes que muito mais do que sempiternas imagens caleidoscópicas, ele circunscreve o ambiente dos estudantes, futuros formadores de opinião e mantenedores da grande máquina que movimenta o planeta ataviado nos instintos da humanidade: a intensa busca da pedra filosofal retratado em um frasco é o significante da busca do ser-aí, isto é, o dáimon do qual tantos pensadores se debruçaram até a exaustão em explicar.

           A obra “O Segredo do Caleidoscópio” contempla o fim da interrogante da esfinge ainda que sempre se encontrem vestígios de dúvidas acerca da mesma; qual milênios de assombração e desvelo dando extenso espaço ao desvendar dos infinitos mistérios da raça humana, portanto, universal. Assim os átomos de Demócrito estão para a ciência pré-socrática como a esfinge está para a psicologia e a linguagem.

          Daí Plotino enfatizou que quando os deuses enviaram as almas para o devir implantou no rosto os olhos portadores de luz. E acrescenta Aristóteles que por natureza, todos os homens desejam conhecer.  

          Ora, a Antiguidade Clássica foi merecedora de tributos e ovações pelo simples fato de ter se apoiado na literatura na forma da poesia com o intuito de revelar seu passado, de legar aos futuros um pensamento que em seu tempo teve seu modo de pertencimento e cujos pensamentos obraram em direção à realidade concreta, todavia, acima do bem e do mal.

          O Espelho como continuidade do outro em mim determinando um eu que implica também no outro; notamos, nessa sentença que a fantasia e a imaginação são a soma total da idéia de espírito e metafísica fenômeno contemplado nos elementos que atiça a divindade (ou as divindades) para efeito de simulação (persona) no paradigma. O ser, um homem continua condicionado ao real e ao concreto comum a todos os homens que encontramos com o passar do tempo durante a nossa fugaz passagem pela Terra.
                                                               


                                                                              II




- Agora só basta um golpe mortal, quebrar o vidro azul e “Ele” brindará a sua morte e a do dragão!
- O que ganhará se me matar? Que vantagens você levará se o animal encantado morrer?
                                                                                          (Cap. VII, pág. 79)




  

          O autor na pessoa de Marcos Lopes (ou a pessoa no autor?) consegue contornar o disposto em linhas anteriores devido a um fato simples e conhecido por todos: o fenômeno da Arte.

          O fenômeno da Arte ou para ser mais visceral no assunto, as causas fenomenológicas que a Arte produz no ser humano, mote central dessa consideração, é limitado e ilimitado; é quadrado e oblongo. Sendo limitado e ilimitado ele é produto de um criador, portanto, infinitamente inspiradora e sujeitas a formas nanogêsicas, infinitesimais.

          Cada uma das personagens que habitam nas três histórias possui o denominador comum de que são personagens de aventura, magia, elementos, representação e ato intersticiais entre si, pois cada personagem deixa uma brecha aberta para que o leitor descubra que persona advém de sua personalidade: o frasco azul, o príncipe, o espelho. Mas nenhum deles são diferentes, pois todos têm poderes mágicos e cada um deles é um Espelho do eu que é o mesmo do outro, embora frágil nessa fortuna: o espelho mágico de um caleidoscópio nunca costuma enganar.

          É por isso que ler é olhar; é olhar duas vezes: quando se lê e quando se interpreta.

          É o olhar das crianças o segredo da esfinge e a busca do frasco azul o que entorna a literatura caleidoscópica de Marcos Lopes. Assim também é o sacerdote protegendo os gêmeos (Castor e Pólux?), é o crime do Mercado da Ágora e o náufrago de Chipre: três retângulos espelhados conformam um triângulo mágico, mas que em si não supõe uma triangularidade, pois cada triângulo é ou isóscele (ao menos dois lados do mesmo comprimento) ou escaleno, dependendo da óptica do leitor; ao passo que a retangularidade não teria nenhuma dessas três propriedades.

          Daí que nasce este célebre diálogo:

Sócrates: - que coisa haveremos de olhar para que nos vejamos a nós mesmos?
Alcebíades: - certamente um espelho.
Sócrates: - mas nos olhos com que vemos não há algo semelhante?
Alcebíades: - sem dúvida.

          Dado que a óptica das crianças, dos infanto-juvenis que procuram um algo no viés da literatura que nos oferece Marcos Lopes, o autor como roteirista e diretor, deixa a guisa esse algo que é a óptica difusa dentro do próprio calidoscópio em que as crianças e os infanto-juvenis se refletem; para eles só pode ser achado num prisma retangular que de alhures foi objeto que cimbra nos mistérios que envolvem sua aura quando perguntam: como é possível que aconteça isso? Deixa de ser mistério, senão, cientemente previsto, torna-se uma revelação que desaponta à própria expressividade que envolve a acepção mistério.

          A partir do momento que uma mão se abre através de um buraco cuja saliência parece lembrar o umbigo, eis que aparece o sonho, o extremo olhar sobre as coisas da invisibilidade formado por elementos análogos à poesia, todavia, distantes do entender humano: o sonho desperto, indistinto entre as multifacetadas concepções sobre sonho desde o ponto de vista da ciência e da própria alusão empírica que envolve aspectos psicológicos do ser humano alhures no espelho do comportamento e, se cabe dizê-lo, do manto da loucura em que o homem se envolve quando decide correr atrás do desvendamento do mistério.

          O frasco azul, as crianças, o herói, o sacerdote, a musa todos esses elementos são constitutivos dessa saga ou odisseia caleidoscópica, como é, então que se deveria denominar a obra de Marcos Lopes?

          É um romance mitológico? É o sonho desperto? É a loucura fidedigna? É um livro de auto-ajuda abrolhado das ideias milenárias sobre a semente do bem e a semente do mal? É uma dramaturgia cujo palco é a lânguida serpente do portal? É a triangularidade de duas janelas ou a superfície de um retângulo em onde se confrontam o amor e o ódio, a morte e a vida, o alivio e a dor, o claro e o escuro, o joio e o trigo, o Rei e o vassalo? É a profecia se cumprindo...?

          Todos os elementos colocados sobre essa mesa de comentários (e valha que a mesa mesma ela sendo retangular é ilimitada em sua forma devido ao cumprimento dos lados) são elementos no qual se depreendem outros valores elementares menos importantes, mas que tange à engrenagem do caleidoscópio, por exemplo, o sonho de Hécuba ou a flecha de Filoctetes, constitutivos do gênero, pois viabilizam a trama, o drama, a lenda e o palco. E é justamente nesses ditames que entram em junção a leitura, a interpretação e a observação do mundo para dar uma forma, mensurar os lados que se opõem e aglutinar modos compatíveis de entendimento humano, este último saber que delineia uma das eficientes formas de educar já que chama à pluralidade de pontos de vista desde uma sala de aula formando (sim!) um caleidoscópio.

          A flor de lótus representa, ao fim, o caleidoscópio distante da retina, perto do olho do cerebelo reproduz em repetição seriada amplidões imagéticas que o pensamento especula ao bel-prazer do instinto e da imaginação, pois não devemos esquecer que o ser humano in natura artis ele é instinto e imaginação; duas acepções que a partir da Renascença viu-se demonizada, mas que graças à literatura e em especial, à literatura dos clássicos ambientada em nosso tempo, nosso século, tal como o dispôs o autor Marcos Lopes, ambos significantes tornam-se fator de espontânea individualidade.

          Entretanto, a repetição seriada torna o invisível um espelho mágico, fim-último de um objeto concreto. Não é à toa que o que foi um dia um simulacro de fenomenologia hoje são objetos da realidade com múltiplas proporções desde em que se olha e se exprime nos círculos nervosos cerebrais aprofundando-se sobre si mesmo até a aquisição do próprio objeto fornecendo a sensação que no simples toque de pele, uma resposta inquirida.

          Creio em suma instância, concordar com um velho amigo Professor de Literatura Comparada que o livro “O Segredo do Caleidoscópio” do autor Marcos Lopes deve fazer parte das prateleiras de livros didáticos e que os mestres devem estar preparados para dirimir entre as ilustrações que os discentes fornecem, obedecendo a pautas ou, então, perscrutar uma nova maneira de participação entre a vida do alunado. Uma literatura obrigatória para crianças, para o universo infanto-juvenil e (por que não?) para os adultos atingindo o ápice de literatura como, por exemplo, “O Mundo de Sophia” dentre outros que visam ajudar na formação da geração nos moldes da filosofia, da mitologia, dos contos de fada, das lendas, da História da Humanidade.

          Caberá ao futuro discernir sobre esse prevalecer fornecido pela literatura nas carteiras dos estudantes para que cada um faça chegar suas observações (considerações?) ainda que a priori a literatura seja ícone aplicado como primazia de formação do individuo.

          Por outra parte, e enaltecendo o grande labor na pessoa-autor Marcos Lopes, ele não é apenas um diretor, um dramaturgo, um ator ou um roteirista; na afamada calçada da Rua Augusta em onde o autor dessas “Considerações” conversou tantas vezes e que desses fugazes diálogos abrolhou não apenas esse texto, senão, e ademais, uma referência entre nós.

          Quiçá uma amizade de alto estilo dado o respeito mútuo e a consideração como pessoas criativas, pensantes e artisticamente comprometidas não apenas com a idade de ouro humana (a meninice), senão que com todo o complexo interativo que chamamos de sociedade, esperando um dia ela seja o abrigo definitivo para todos sem que sejam necessários conflitos de águas divisórias. Tange a Arte compenetrar em todos os meandros dessa mesma sociedade porque é através dela que superamos todas as nossas diferenças. Disse: através da Arte.

                                 
Ludwig Ravest é chileno, escritor, estudou filosofia na Universidade de Santiago e atualmente vive e trabalha em São Paulo.