quarta-feira, 23 de setembro de 2015

COLABORADORES - c i n e m a - "Meia Noite Em Paris" - por Ludwig Ravest

- Que é uma loja de nostalgias?


Essa é a pergunta chave que o ator que interpreta o eminente escritor Ernst Hemingway (Corel Stoll), seu olhar lúcido, sincero e arrebatador com o qual se dirige em direção ao protagonista GIL (Owen Wilson), é o leitmotiv do filme “Meia-noite em Paris” (Midnight in Paris, 2011).

Quem escreve essa “critica”, apesar dessa expressão ser ou ter sido muito mal interpretada, preferiria modificá-lo como “consideração”.

Tratando-se de Cinema há de escrever-se todo seu espectro sideral (siderare) que envolve a ambientação, isto é, desde as personagens até os elementos que justificam a sua hermenêutica.

Depreende-se, então, acerca da relação das duas personagens, aquele mítico e colossal balde cheio de ouro com o qual triunfante, Zaratustra volta das profundezas do conhecimento, balde este em onde estão contidos aspectos da existência humana universal como o são a vida do “ser” dentro de seu “tempo” e a ambígua relação que tem aquele com seu passado em relação ao seu presente e vice-versa.

Como se sabe, os gregos postulavam, assim como tantos outros povos da Antiguidade Clássica, o mito basilar de que em tempos remotos houve uma perfeita sintonia entre os Homens e a Natureza em relevo e que em sua inocência, comparável apenas aos deuses com todas as ambrosias dispostas sobre os banquetes cuja envergadura era inominável, viviam em paz e bonança, alegria e temperança: pacto visceral entre o apolíneo e o dionisíaco.

Eis que surge, então, a famigerada Idade de Ouro.

Outrora, os homens do campo do conhecimento perguntaram-se acerca dessa relação do homem e o tempo. Escritores, filósofos, historiadores, artistas se imiscuíram no escopo terrível e abissal para, a posteriori, interpelar o paradoxo do tempo sobre a vida dos homens.

No século XX, confirmou-se com o trabalho de antropólogos, etnógrafos e viajantes a descoberta de populações na África, na Oceania, na Ásia e na América que viviam como em uma existência etérea, diversa do que eles conheciam no hemisfério ocidental europeu e que em verdade correspondia ponto por ponto à descrição que tinham feito os gregos.

Apresentavam esses povos características puras, ou seja, sem nenhuma interferência de outras culturas e que, segundo consta nos escritos desses estudiosos, tinham um alto grau de civilização no que tange às relações humanas.

Agora já não havia nem tradição grega nem fantasias de poetas homéricos. Existiam, de fato, homens que viviam ainda em plena Idade de Ouro.

Se se tinha de passar da Idade de Ouro, aquele paraíso que para os estudiosos parecia um jardim edênico, em direção ao mundo de fora, alumiado pelas várias conquistas do homem em terrenos da ciência, das artes, da descobertas e do armamentismo, assim como o mercantilismo e o desenvolvimento tecnológico que demarcam esse hiato, ter-se-ia de fazer uma radical revolução, uma transformação da natureza, uma inclinação não-histórica, uma queda.

Como isto, o homem em sua busca eterna e inefável sonha em voltar a essa Idade de Ouro para afugentar as tristes consequências em que forjou essa dimensão quase apocalíptica em termos de sociabilidade ao estilo neoliberal burguês assim como em sua esfera psicológica.

O cineasta Woody Allen decifrou esse enigma à partir da dicotomia que existe entre o Homem e sua Temporalidade, tema dispendioso para a História da Filosofia que nasce precisamente com os gregos, passa pelo Ocidente com as grandes obras de arte da Renascença; açambarca a irresoluta teoria do cogito cartesiano e, com a “Fenomenologia do Espirito” em Hegel e a leitura classicista da tragédia em Nietzsche, reformulada por Freud, novamente, no início do século XX com Heidegger à cabeça e as incontáveis descrições na Literatura que vão desde Shakespeare até Cela ensamblam, então, a difícil tarefa de colocar em curso os pressupostos da temporalidade no homem dentro sua historicidade e dentro de sua cotidianidade como produtor de ferramentas que imprimem o afazer do pensamento e da cultura como finalidade.

Então, que acontece? Acontece, no filme, que a trama irrompe em sua Síndrome da Idade de Ouro no qual subjaz o mito exposto em linhas anteriores, debela o atual mal-estar da civilização e da cultura que já não é de hoje, nem foi de antes senão, e ademais, será algo que estará continuamente presente no âmago do homem: por que é que nos situamos em essa época e não em outra?

Por coincidência ou por causalidade, quem escreve essa “consideração” viveu o fato de ouvir uma pessoa dizer que aquele lugar em onde nos encontrávamos, naquele momento, naquele horário, numa rua de uma imensa Metrópole, foi muito melhor antes do que aquela experiência que nos motivava a estarmos situados “aí”.

Como esse pessoa vociferava sua reivindicação em alta voz, em alta voz eu expus para essa pessoa que isso era “um absurdo, porque então, nossa presença não tinha nenhum valor para ela”.

Houve um silêncio! Se até não muito tempo atrás se duvidava da existência dessa Idade de Ouro em onde as pessoas conviviam não de maneira racional ou irracional e sim, baseado nos intuitos subliminais da boa sociabilidade, os antropólogos descobriram que havia realmente seres humanos que viviam em completo quietismo diante da Natureza que se lhes apresentava como matéria e espirito, quietismo divinizado através do espelho do homem indomável, ejetado durante os rituais de passagem de uma idade à outra, e o que era para esse homem uma coisa virginal, paradoxalmente hoje, trata-se de uma patologia.

Woody Allen quebra esse paradigma de uma forma surpreendente até porque sua “patologia” é o espelho encarnado no protagonista GIL como roteirista de Hollywood, como escritor medíocre situado na contemporaneidade tecnocrata e determinista no âmbito cientifico e comercial em onde tudo é regido pelo espirito do lucro e da fama no viés das novidades levando o mundo e o contexto a uma (ir) racionalidade injustificável.

De fato, o diretor tem um goze absoluto, à moda de Lacan, fazendo sua própria releitura do tempo. Nessa contratransferência psicológica, GIL, no papel de protagonista do filme também é um novelista medíocre e acompanhado de sua futura esposa Inez (Rachel McAdams), histérica e consumista, sempre reclamando dos passeios noturnos de GIL, passeios esses que faz descobrir a magia de transportar-se através do túnel do tempo até Paris nos anos 1920.

Seu desejo de caminhar pelas ruas de Paris sob a chuva e a procura de alguém que compreenda esses dois mundos no qual ele transita até a excisão no lume de sua ingenuidade todas as respostas lhe pareçam claras como no caso de Man Ray (Tom Cordier) em que “nada parece estranho” e, igualmente, no desenlace com Gabrielle (Léa Seydoux) quando aceita a companhia de GIL para caminhar sob a chuva. “Meia-noite Em Paris” é contemporâneo de Luís Buñuel com “L’âge d’or” (1930) porque também quis mostrar esse sentimento, paradoxalmente, em uma outra época que lhe tocou viver e desde uma ótica diferenciada, isto é, os dogmas da sociedade da época ou, para melhor ilustrar essa diferença, a outra cara da Belle Époque com suas misérias, orgias e intrigas de palácio.

Cabe assinalar, que à partir dessa ambiguidade surge uma outra: a de como restaurar os idos tempos, em este caso, La Belle Époque, e transferi-la no tempo presente em que o protagonista GIL se situa, isto é, no Terceiro Milênio. Motivado pela discussão, Paul (Michael Sheen) é a primeira pessoa que irá criticar essa disposição fugidia do protagonista em que a Síndrome da Idade de Ouro “é um estado de perfeita negação, uma negação do doloroso presente”.

GIL, escreveu uma novela onde jaz impressa a memória-souvenirs que, segundo o filósofo francês Henri Bérgson, é aquela memoria lembrança de algo que passou há muito tempo, reencontrando-se na rota de colisão entre o ser e o tempo, como imagem cognoscitiva para uma redenção diante do mal-estar do presente.

Surgem, a partir desse embate, os nostálgicos de todas as épocas que se lamentam dos “bons tempos” que se foram e que nunca mais voltaram.

Sem dúvidas, todos nos sentimos em um dado momento de nossa existência identificados nessa rota de colisão. Mas, essa tendência, torna-se fútil e perigosa.

O desencadeamento do filme evidencia que qualquer tentativa de reter o inevitável curso do tempo está fadado ao fracasso; perigosa travessia porque pode criar sérios distúrbios e conflitos neuropsíquicos. Inobstante, a arte sublima essa pugna porque o brincar daquele que transita pelos dois mundos não a faz ser nem mais significativa nem menos prosaica para uma geração que “há transmutado o passado com o simples passo dos anos a um status tanto mágico quanto vulgar”.

Contudo, a imaginação humana e as atuais tecnologias tendem a criar mundos paralelos, a aproximar o homem ao seu passado ou o que Platão instava a ser difuso, a recriar esse passado dando-lhe um matiz novo e onde cada ser humano possa modelar esse status difuso segundos os critérios com cada um encontre mais conveniente sem que, com isso, torne-se mais ou menos bizarro no presente.

O que foi feito, o que se faz hoje e o que se fará amanhã pode ser transmutável; o passado de uma técnica é como aquela música de The Beatles que se tocada hoje não haverá uma multidão de garotas cantando ié, ié, ié...

O contexto de hoje é outro e o de amanhã será diferente.

No entanto, não se pode cair na falácia de que tudo permanecerá imóvel como acontece no filme mexicano “O Vulto” (El Bulto, México, Gabriel Retes, 1991) em onde um jovem fotografo que cobria uma manifestação política, após ser brutalmente golpeado na cabeça fica em coma durante 20 anos e após acordar nota como tudo há cambiado, resultando, para o protagonista, inadmissível toda mudança social, política e familiar. Finalmente, GIL, o protagonista se vê forçado a confrontar a ilusão de que uma vida diferente é melhor do que a atualidade encontra sua rota de colisão com a mulher com a qual vai se casar, Inez, ela acaba descobrindo que gosta da língua francesa, o jeito francês de amar, o romantismo à francesa, a liberalidade que no universo americano ainda não é contemplado tal como o protagonista, em uma das cenas, sugere à guia do Museu Rodin (Carla Bruni).

De fato, detrás dos caprichos de Inez se oculta uma outra mulher, isto é, a mulher que deseja sua independência. Encontraria, essa inversão de valores, em sua máxima expressão, por exemplo, a mulher à época de Sófocles chamado de Século de Ouro de Péricles em onde Atenas expansionista gerou um mundo de (entre aspas?) paz e estabilidade o que propiciou o surgimento das artes, principalmente, o teatro.

No entanto, em essa época a mulher não partilhava os direitos constituídos na democracia ateniense, elas eram excluídas de qualquer intervenção na sociedade e eram tidas como seres inferiores e que deviam submissão aos homens e seu sistema. Adriana (Marion Cotillard) é o reverso da moeda: em todo hiato temporal ela pensa achar a sua Idade de Ouro.

No entanto, apesar de ser tão amada pelos ilustres artistas das épocas em curso, sente um vazio existencial haja carência de novidades, fato que evidencia a indústria da moda com Coco Chanel como justificativa para sua estadia em Paris.

Preconiza, de tal modo o carinho que sente por GIL que medo de viajar no futuro ela prefere a companhia de seus ídolos de “la Belle Époque”.

Não há nada mais frustrante para quem sofre de Síndrome de Idade Ouro do que descobrir que se estivesse vivendo na época ao qual deseja remontar-se, superar as ambiguidades da mesma,

Afinal de contas, em todo espectro de temporalidade se suscitam paradoxos e questões irrefreáveis no quetange a circunstâncias que não podemos dominar ou consertar porque muitas vezes não está ao alcance de nosso entendimento.

Para cada época seu próprio mal-estar!


Ludwig Ravest é chileno, escritor, estudou filosofia na Universidade de Santiago e atualmente vive e trabalha em São Paulo.

domingo, 13 de setembro de 2015

POUCAS & BOAS - "A Arte Que Transparece A Política" - por Tito Oliveira

Por Tito Oliveira -
Desenho da série Pejorativismo Do Traço Ortodoxo -
caneta esferográfica sobre carbono -
20x30cm - São Paulo - 2007
A insanidade em meio às discussões perante os desdobramentos políticos no Brasil já excedeu os próprios limites.

O agravante é tamanho que já até criaram um novo substantivo para denominar quem transita distante de um argumento preciso sobre o caso: "analfabeto político".

Quer dizer, aquele que não tem propriedade para dissertar sobre política, pouca propriedade tem sobre demais assuntos que envolvam sociedade, civismo, democracia etc.

Logo, não é apenas em política que este se faz analfabeto, mas em vários outros aspectos de sua vida, se não em todo.

Bom, digamos que menos lúcido é aquele que discute política com quem trata a necessidade básica de sobrevivência de outrem desprezivelmente; vulgo reacionário, ou ao que pensa a discussão política enquanto portal mais curto para a divulgação de seu status QUO, nadando junto a onda de maior dimensão para fazer-se vivaz na superfície rasa de seu conteúdo.

E olha que esse olhar torto invade também a natureza artística.

Para essas cabeças "pensantes", observar a arte é de pura natureza intuitiva, sendo que qualquer percurso contrário a isso não é arte.

Assim é preciso ressaltar que a arte nada tem a ver com a obrigação de apreendê-la encarceradamente na tradição, seja esta acadêmica ou meramente histórica.

Uma de suas premissas mais puras reside exatamente na liberdade que revoluciona, desestrutura e questiona princípios.

Nos salvando de um afogar no mar presunçoso da verdade.

Esta não deve ser resumida num fundamento ortodoxo.

Pois o traço deve ser apenas seu fragmento, não o todo de um corpo obsoleto.

Quando bem se enxerga a arte, é possível que bem se enxergue a sinuosidade política!

COLABORADORES - c i n e m a - "Relatos Selvagens"- por Ludwig Ravest

A imprevisibilidade é a pedra angular do filme “Relatos Selvagens” (Relatos Salvajes, Argentina 2014) escrito e dirigido por um dos mais prestigiosos diretores argentinos, Damián Szifron.

Essa coprodução com a Kramer & Sigman Films e Telefe, Argentina demonstrou que pode-se trazer de forma criativa o que há de mais universal nos seres humanos, a sua agressividade.

Nesse intuito, conceitos tidos aparentemente como escopo da ética, da moral e da filosofia em que o homem ao transluz dessas ciências vê-se no espelho tanto como indivíduo como de sociedade, ou pertencente a um grupo social, surpreende pelo modo com que o filme enfoca a problemática, emergindo desta urge, uma ambiguidade, um paradigma: quando a ordem é o caos. Suas personagens oscilam entre a lucidez e a loucura a uma velocidade vertiginosa.

O alvo do diretor de trazer à tona os acontecimentos da vida real, aquilo que se poderia denominar o escandalosamente indefensável, é a resposta do porquê de seu sucesso em bilheterias.

Durante os seis set de imagens sem impetrações nem adjudicações metafísicas, o que o homem em ação leva a conceber é a finalidade como “ser no mundo”.

Em um ambiente psicológico onde acirradamente reinam os pecados capitais, a força do superhomem, a fala maldita, a cisma das fúrias, a vingança, a apostasia social, a infidelidade e a luta pela vida quando entre a morte e esta, se disgrega sua linha tênue, é onde se mostra a verossimilhança do homem a ação.

A vida trabalhando diariamente. Na sua dinâmica rasga o córtice que oculta todo o seu dramatismo e inconveniência.

A ação predestina seus feitos.

A ubiquidade espacial é diferençável embora dissimile são os espaços em onde a vida vai circulando, demonstra seu espelho em onde ninguém é capaz de retratar-se com temor de dissipar a sua apoteose.

Os elementos circulam, atravessam, se movem e se locomovem como em um avião, como em um automóvel, como as pessoas ao dançarem, como a rodagem do próprio filme.

O arrombo é o único fator que leva essa mobilidade a corromper-se, todavia, em movimento flutuante.

Pateticamente as personagens reclamam, no lupanar dos instintos, o arroubo de serem vítimas como no caso do primeiro quadro “Pasternak”, nome do comissário de bordo do avião em onde conseguiu juntar todas as peças vivas em um único ambiente até a aterrisagem em casa dos pais deste, episódio que tornou-se real com o desastre aéreo do Airbus A 320 nos Alpes Franceses, trouxe à baila o velho tema do suicídio como uma problemática social já que o piloto Andreas Lubitz, no caso do acidente na vida real, sofria de graves tormentos psicológicos produto de uma abrupta separação conjugal o que o levou a estatelar o avião nas montanhas junto com dezenas de passageiros.

Sobre a psicopatologia da vida cotidiana nem tudo foi dito.

Todo e qualquer acidente é constitutivo à substância, ou seja, está à altura da causalidade e de sua consequência.

Mas não é apenas isso que o filme deixa transparecer em torno a um tema tão delicado e tão caro para pesquisadores, psicólogos, pedagogos, políticos e filósofos como o é o cotidiano do ser humano.

No segundo set do mesmo, “As Ratazanas”, a garçonete que reconhece no cliente seu algoz de outrora e que, sem medir consequências, transfere seu desejo de assassinato à cozinheira que a acompanha no restaurante de um posto de gasolina no interior da Argentina.

O crime, neste caso, compensou pela vingança do suicídio do pai da garçonete impresso no vômito do filho do algoz. No entanto, a dúvida paira em torno de se era a o verdadeiro mentor da decadência da família da garçonete ou se se trata de uma versão contemporânea do “Homem dos Ratos” de Sigmund Freud, acha-se visto que o quadro não faz nenhum “feedback” sobre a vítima.

No terceiro set de imagens dois homens que simbolizam o cruel retrato do trânsito automobilístico em fase do avanço econômico em ruas e estradas: “O Mais Forte”.

Um rico empresário em sua altanaria, conduzindo seu blindado Audi conversível em uma estrada que lembra velhos filmes do faroeste clássico, e um pedreiro mal humorado em seu desgastado e velho Peugeot, cujo semblante de homem rude, despojado de honra, nada a perder, como nas típicas personagens dos filmes de Clint Eastwood.

A luta corpo a elemento e elemento a corpo debela-se quando a morte os chama a conceber o erro de conversão à loucura do inadmissível atrás de uma violenta explosão que destruiu ambos deixando um sombrio e cabal rastro de maledicência que se imprime no hilário comentário do médico legista ao delegado quando diz, ironicamente, que o infortúnio que acometeu aos dois tratava-se de uma “disputa passional”. No quarto quadro, “Bombita”, o engenheiro Simon, interpretado por Ricardo Darín, sentindo-se usurpado pelas leis regulamentárias do trânsito (novamente o fator automóvel), a ineficiência do sistema, a ambígua irregularidade da sociedade das convenções que transmite a sensação de impotência, desprezo e insegurança faz com que ele se insurreccione contra essa transferência colocando em risco não apenas sua própria integridade psicofísica, senão e ademais colocando no banco dos réus o próprio julgamento da sociedade de convenções diante de sua ineficácia como promotor de satisfações pulsionais do cidadão.

No fim, ele é reconhecido pela imprensa e pelas redes sociais como o herói que soube colocar em questionamento o sistema através da atitude de explodir seu carro guinchado: um movimento em falso fez sucumbir pelos ares o estacionamento de retenção pertencente ao órgão que fiscaliza o trânsito na cidade de Buenos Aires.

No preciso instante da explosão, uma mulher discutia com um funcionário público.

Quem não viveu uma situação-limite tendo o automóvel como elemento causal? Se no quadro Nº 3 o automóvel aparece como elemento algoz que motiva o instinto humano a convocar a força dos sentimentos mais abruptos, ao absoluto extremo em que ambos se situam em um transe passional (dir-se-ia um sentimento orgástico em quatro rodas), já no quadro Nº 4, o automóvel transcende sua função de incorporação imediata ao cotidiano pondo em risco a sociedade e o indivíduo como tal, um inexorável divórcio.

No quinto quadro, “A Proposta”, o automóvel não é algoz do feito, nem é divorciável, mas sim, quem o conduz e a violência cujas proporções adjudicatórias na medida em que os homens querem levar vantagem dessa situação, já não é somente do condutor, senão e ademais de um aparato ligado ao sistema judicial.

Neste caso, um filho de um bilionário atropela e mata uma mulher e seu filho, ainda no ventre, foge às circunstâncias e seu pai tenta negociações fraudulentas na figura do advogado defensor dos interesses da família e a justiça, colocando o jardineiro no centro das atenções como culpável de semelhante horror a um preço que ele jamais em sua humilde condição poderia alcançar.

Nesta trama, muito corriqueira em nossos países sul-americanos em onde quem tem se salvaguarda da sentença condenatória põe em xeque ao humilde homem quando o pai da criança morta, o marido da mulher atropelada, aparece na TV jurando vingança.

À frente do aparelho de TV: o bilionário, o advogado, a justiça institucional, o vingador ri de todo mundo, da própria polícia e de todos os médios jornalísticos e de pessoas que exigiam justiça, ceifando a vida de quem jamais seria capaz de cometer tal atrocidade, ou seja, do jardineiro.

Finalmente, no sexto quadro, “Até que a Morte os Separe”, a mulher ferida no seu orgulho disputa a supremacia com o homem que acredita ser o único príncipe encantado em toda sua vida. As cenas, que lembram o filme “O Anjo Exterminador” de  Luís Buñuel, se passa dentro de uma mega-festa de casamento, a civilização e a barbárie disputam espaço ao balanço de danças judaicas.

A decoração é suntuosa, luxuosa, a majestosidade da riqueza se misturam com o indecoro patético dos nubentes e o desvanecimento de todos os rijos processos da moral judaica e do conservadorismo aristocrático.

Seu extremo, é o absurdo, o ridículo. Se no quadro Nº 1 cita-se o quinto círculo infernal de Dante, no quadro Nº 6, o nono círculo insta a seu desfecho final. “Relatos Selvagens” não tem nada de naturalismo.

Rousseau e Hobbes caminham de mãos dadas, figurantes e figurinos da mesma moeda. Se a violência humana é tudo aquilo que nos rodeia a paz não seria nada mais do que uma justificativa para ampliá-la.

O “Homines Lúpus” e o “Bom Selvagem” são os protagonistas dessa interessante saga que chama o homem à sua reflexão filosófica sobe o significado de sua postura suprema de senhor de todas as coisas além do tempo e do espaço e essa eterna procura de ressignificação de seu papel como indivíduo e sociedade.



Ludwig Ravest é chileno, escritor, estudou filosofia na Universidade de Santiago e atualmente vive e trabalha em São Paulo.

sábado, 12 de setembro de 2015

POUCAS & BOAS - Nota Ao Absurdo - por Tito Oliveira

Foto por Tito Oliveira - Sergipe 2013
Insinuar o prelúdio de uma nova crise econômica emerso das "boas" intenções de bancos não é novidade alguma. 

A turbulência especulativa de 2008 é signo recente de suas estratégias, que possibilita resgatar poderio e extravagâncias das instituições privadas. 

Uma vez que estando estas preservadas, ajustes políticos e fiscais (como se isso existisse) no Brasil inauguram novos percursos à decadência. 

Assim é óbvio que induzida por intenções de uma elite imunda, a in(e)formação vigente culpará apenas o governo.

Não obstante, o raciocínio rudimentar no país é praxe! 

Diferentemente do que é feito no primeiro mundo, por aqui a prioridade é taxar o consumo desprezando patrimônio e renda. 

Perfil tributário que perdura injustamente na população de baixa renda e limita a arrecadação do governo no momento em que é preciso impulsionar a receita. 

Burrice sem tamanho!

quinta-feira, 9 de julho de 2015

REDAÇÃO - r e l a t o p e s s o a l - "O Acaso Pode Ser Ocaso Se O Caso Permitir" - por Tito Oliveira

Por Tito Oliveira - desenho da série Anatomia Inquieta-
carvão sobre papel - 30x45cm - São Paulo 2007
Talento sem sensibilidade pode equiparar-se, em grosso modo, a nunca ter usado um jeans surrado com uma simples camiseta branca numa primavera qualquer, sentindo-se atraente pela primeira vez.

Apreender a linguagem da vida é como por-se apto a demonstrar os mais habilidosos gestos com devida maestria.

Estive sem telefone celular por quase um ano.

Pouco senti falta.

Inconscientemente, me veio uma vontade de experimentar até quando suportaria viver sem o mais incisivo karma contemporâneo, por assim dizer.

Ao conhecer uma nova moça, esta perguntou-me se tinha WhatsApp.

Respondi-lhe que não.

Quando logo disse-me que por isso tudo bem.

No dia seguinte, a caminho do trabalho, por espinhosa circunstância, fui obrigado a desistir do trajeto e me ausentar no expediente.

Assim também dei-me conta de que não havia como avisar a empresa, ou como confortar meus colegas quando sentissem minha falta,

Passei a me sentir desnudado em meio ao caótico dia.

Um novo dia surge como extensão do estorvo, porém menos austero e mais sugestivo.

Pois um amigo apareceu ofertando-me um aparelho celular.

Subitamente pensei que não haveria ocasião melhor para a compra.

Comprei!

Entusiasmado, passei meu novo número para a nova moça que conheci, amigos mais próximos, familiares e trabalho, obviamente.

Poderia passar o número para demais pessoas, porém preciso dizer que a tormenta teve extensão até aqui, já que não possuo mais celular.

Ao deparar-me com o novo dissabor, meu desejo era esmurrar a primeira parede que encontrasse.

Simultaneamente refleti que ao esmurrar a parede, além de me encontrar sem celular, ainda poderia estar com uma grave lesão na mão.

Então comecei a restaurar-me, pois me senti bem com o fato de poder refletir numa situação de pressão.

Acrescentando o fato à memória sobre ter tido um dia muito difícil com uma das classes na escola que ensino.

Onde ao apresentar suas questionáveis notas, a reação era quase exclusiva de insatisfação e repulsa, desinteresse.

O clima então instalou-se como um dos mais hostis, desde que leciono nesta escola.

A turma de adolescentes deixava ainda mais evidente o distanciamento que possui sobre a compreensão do que significa o posto de professor, ou o posto de aluno.

Um pouco mais agravante foi notar que não estavam com a mínima noção sobre a importância da boa relação entre ambos, sobretudo para suas formações.

Por outro lado, nada como a dificuldade para saber o quão preparado se encontra quando envolto ao arame farpado de nossa sociedade.

E ao invés de reagir também hostilizando-os, medida, talvez, mais fácil, ou me deixar tomar pela emoção, os convenci, através de argumentos, que o respeito era o pilar das mais saudáveis relações. E que mais nobre por vossas partes seria o pedido de desculpas.

Assim fizeram e, acreditem, os semblantes não eram de insatisfação.

Neste dia não me foi possível desenvolver a aula de redação, no entanto a boa notícia foi um aparente entendimento coletivo, sobre todos terem saído daquela sala com uma grande sensação de aprendizado.

Á noite um casal de amigos convidou-me para jantar num mexicano, situado no bairro que moramos.

A caminho encontrei uma amiga americana que vive no Brasil e sua adorável filhinha.

Estendemos o convite às duas e fomos todos degustar de bons tragos e petiscos, a sorrir da minha hermética relação com o celular de corpo efêmero.

Quer dizer, reclamar para quê, se nunca estive tão orgulhoso ao desenvolver um texto?!

segunda-feira, 29 de junho de 2015

CINEMA - c r í t i c a / d i c a - "Lars And The Real Girl (A Garota Ideal)" - por Tito Oliveira

Ainda que algumas sinopses tentem descrever concisamente o longa em questão num contexto onde um jovem delirante envolve-se numa relação pouco convencional com uma boneca que ele encontra na Internet, "Lars And The Real Gil", 2007, de título traduzido para o Brasil como "A garota Ideal" é muito mais do que uma comédia para ver comendo pipoca numa tarde de sábado.

Nesta comédia, Lars Lindstrom (Ryan Gosling) é um jovem sem jeito e tímido, que vive numa pequena cidade do norte dos Estados Unidos.

"Pressionado" pelos familiares e amigos sobre ter alguém na vida com quem possa viver e construir família, ou simplesmente amar, finalmente traz para casa a garota de seus sonhos e apresenta a seu irmão e cunhada, que tanto o estima.

O único problema é que sua então amada não é real - ela é uma boneca sexual comprada na internet.

Mas o sexo não é o que Lars tem em mente, e sim um relacionamento profundo, significativo.

Sua cunhada e irmão ficam preocupados com seu excêntrico comportamento.

A ponto do irmão acreditar em sua insanidade.

Porém, eventualmente, a cidade inteira (que não é muito grande e vive em senso de comunidade) decide, sabiamente, adentrar na imaginação de Lars como forma de apoio a seu estado emocional.

O que se faz gesto de alta generosidade ao menino de boa índole e que sempre fora muito amado por todos que o rodeava.

Embora exista certo excesso em seu roteiro, como a mobilização da cidade para realizar o funeral da boneca, é difícil afirmar que o filme tem caráter pueril.

Não há maneira de discorrer sobre seu enredo sem transparecer um traço de ingenuidade, no entanto com larga distância de qualquer aspecto trivial.

Antes é preciso dizer que sua cinematografia é simples, porém consistente.

De pouca sugestão imagética.

Seja na fotografia ou direção de arte,

No entanto de composição técnica precisa,

O elenco é modesto, porém não menos talentoso.

O fato é que a narrativa delicadamente sugerida na direção encanta.

Há passagens de muito humor e comoção, ambos em tons harmoniosos.

Ryan Gosling evolui mais uma vez de forma envolvente na alma de um personagem emocionalmente recluso.

O ponto alto do filme se dá em refletirmos sobre como lidar com o que supostamente estranhamos, sem repudiar, mas desenvolvendo a capacidade de compreensão.

Muitas vezes a solução não está num diagnóstico, mas na espontaneidade que se dá o diagnóstico.

E o suporte para a sinuosidade em determinados estados no comportamento humano pode variar de uma mulher composta por silicone, um animal, ou uma comunidade tomada pelo altruísmo.

A insinuação moral nesta produção talvez seja mais do que uma, já que esta não é uma concepção comum em Hollywood.

Seu registro pode ser apenas para celebrar o humor, bem como a condição humana, de qualquer forma, você estará satisfeito com o que fez.

domingo, 21 de junho de 2015

GALERIA - p i n t u r a - por Tito Oliveira

Pintura da séria A Cor Na Bahia Revela O Recinto Pitoresco -
“Menino Com Antebraço Alterado Na Dor” -
mista sobre papel - 60x90cm - Salvador - Bahia - 2015 

COLABORADORES - "Os Pedagogos" - por Arthur Schopenhauer, in Aforismos Para a Sabedoria de Vida - página 70

O Isolamento Intelectual dos Espíritos Ilustres

Foto: Tito Oliveira
Em relação aos espíritos ilustres, é muito natural que esses verdadeiros educadores do gênero humano sintam tão pouca inclinação a pôr-se em comunicação frequente com os demais, como pode sentir o pedagogo ao participar das brincadeiras ruidosas das crianças que lhe rodeiam. 
Porque nasceram para guiar a humanidade através do mar de erros até o céu da verdade e conduzi-la do negro abismo de sua grosseria e vulgaridade até a luz da cultura e do refinamento. 
É verdade que devem viver entre eles, porém sem nunca pertencer-lhes realmente. 
Desde sua juventude, sentem-se sensivelmente diferentes dos demais, mas apenas lentamente e com o passar do tempo chegam a compreender com nitidez sua posição. 
Então cuidam para que seu isolamento intelectual também seja reforçado pela distância física, e para que ninguém se aproxime deles, senão aqueles mais ou menos livres da vulgaridade em geral. 
Resulta disso tudo que o amor à solidão não se apresenta diretamente e na forma de um impulso primitivo, mas se desenvolve indiretamente, em particular nos espíritos distintos, e apenas gradualmente. 
Esse desenvolvimento não é alcançado sem que dominemos o instinto natural de sociabilidade, por vezes opondo-lhe a sugestão de Mefistófeles:
Cessa de cultivar tua pena que, semelhante a um abutre, te devora a existência; a pior companhia te faz compreender que és um homem entre os demais. (Fausto, Goethe, Parte I., 1281-5.)

sábado, 20 de junho de 2015

POUCAS&BOAS - "Pátria Amada" - por Tito Oliveira

Foto: Tito Oliveira
Eu não tenho orgulho algum de ser brasileiro! 

Aliás, vergonha em muitos contextos aqui remanescentes seria mais adequado dizer. 

Ontem, por exemplo, fui ao último dia de aula da escola que ensino, que antecede o recesso dos festejos juninos. 

Ao tentar atravessar na faixa de pedestre, um motorista acelerou o carro para passar antes (detalhe, o trânsito estava quase parado e não havia muito espaço para ele percorrer). 

Uma senhora notou a ação duvidosa do indivíduo e perguntou (exclamando) a este se ele ia passar por cima do pedestre (que no caso era eu). 

O motorista, por sua vez, disse que essa seria uma opção!.. 

Estendendo a questão para a educação, é comum estar entre universitários, filósofos (pois é, filósofos) ou até mesmo "artistas" e professores e deparar-se com uma explícita ojeriza à garotas adolescentes pelo simples fato destas trocarem de "namorados" num curto espaço de tempo de um para o outro. 

Quer dizer, se na adolescência não for o período mais propício aos experimentos (erros ou tropeços), melhor seria se, ao nascermos, ao invés de estarmos ligados ao cordão umbilical, deveríamos ter nossos sexos envoltos ao cinto de castidade e nossas mentes ancoradas no livro da falsa moral. 

Neste último e lamentável aspecto, o que familiares e muitos docentes no Brasil incitam é mais uma grande negligência, já que os princípios da pedagogia sugerem o aprendizado por meio da admiração, afeto, disciplina e amizade, nunca na repressão. 

Quanto a questão do trânsito, o declínio começa no lar e na sala de aula.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

GALERIA - f o t o g r a f i a - por Tito Oliveira



Breve citação do premiado e renomado artista plástico baiano (sergipano) Vauluizo Bezerra, sobre a fotografia de Tito Oliveira.



Por Tito Oliveira - Salvador, 16 de junho de 2015.
"A foto é de quem sabe o que faz.

Explorou bem a luz externa, quase escondendo o corpo em silhuetas e acentua a luz num ponto máximo do busto para cima, no limite, permitindo as sombras do rosto e revelando a tensa sensualidade da expressão facial.

Toda a foto, exceto o busto, é modulada pela penumbra da contraluz, escondendo e revelando as modulações da coxa esquerda da modelo.

A textura da coxa é um ponto alto de uma feminilidade entregue, ou a simplesmente posar, ou a outras entregas.

A foto é linda.

Um Carlos Zéfiro para adultos sofisticados, extremamente sensual.

Bravo.

Quero ser você quando crescer."


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A Barra é, sem dúvidas, um dos mais sugestivos bairros de Salvador, na Bahia. 

Pois é onde, ao caminhar despretensiosamente, esbarra com uma linda bailarina norte-americana, de 22 anos, e pergunta: 

__ Posso tirar uma foto sua?

E esta responde justificando:

__ Só se for na pousada onde eu estou hospedada, é que me sinto mais protegida.

Então resta-me sorrir com o esplendor da pura satisfação! wink emoticon

Fotografias da série A Cor Na Bahia Revela O Recinto Pitoresco "Hermoso Acaso" - dimensões variáveis - Salvador - Bahia - 17 de junho de 2015.








domingo, 14 de junho de 2015

GALERIA - p i n t u r a - por Tito Oliveira

Pintura da série A Cor Na Bahia Revela O Recinto Pitoresco - “Retrato De Fábio Duarte” - pastel a óleo sobre papel - 60x85cm - Salvador - Bahia - 2015 

PROVOCAÇÃO - "Desnudemos Os Olhos Para Melhor Sentir A Fotografia" - por Tito Oliveira

Fotografia do russo Andrew Sashis
O Brasil tem problemas incontáveis.

Decorrentes não de sua pouca idade "civilizada", mas antes relacionado a como as coisas se deram por aqui em meio ao período de colonização.

Assim penso que muito de sua complexidade, ou, melhor dizendo; atraso, se dá alicerçado à cultura e ao sistema político que aqui vigora.

Lógico que o povo é parte disso.

Ainda que para ter consciência de sua participação seja necessário estar inserido num certo patamar socioeconômico.

Porém, em relação ao fazer artístico, por exemplo, trata-se de um distanciamento inerente a um estado que beira à osmose.

Se a distância nesta relação se encontrasse apenas na ignorância seria compreensível, no entanto por aqui representa um status de desprezo (sim, desprezo pode ser uma questão de status também), ou pouco (quase nada) interesse em conhecer e entender o que se considera estranho, desconhecido.

Estar aberto a conhecer seria, por vez, a atitude mais inteligente, já que na vida de quem assim fizesse se atribuiria um valor intelectual, artístico e cultural. Logo estaria mais rico, suponho.

Afora algumas regiões mais, por assim dizer, megalopolitanas; como pontos estratégicos na convivência social da cidade de São Paulo, no Sudeste, por exemplo, o que ocorre na generalidade é um pré-julgamento descabido e/ou emblemático ao fazer artístico que transita além de padrões de quem pouco conhece, ou dedica-se apenas ao consumo de conteúdo popular. Apreendendo a arte num contexto de tendência modista (a da vez, neste caso, seria fotografar em HDR ou apreciar pinturas do ilustrador Romero Brito).

Conversava com uma amiga sobre fotografia e cheguei à conclusão de que acabo, enquanto também praticante da fotografia, evitando nus em meus projetos para não afogar-me em clichês.

Embora seja preciso dizer que o clichê não tivesse origem em minha concepção, mas na apreensão desta.

O pensamento, ou cautela, deu-se quando senti uma predisposição, quase que ortodoxa, em associar o nu ao sexo... Tolice!

Fotografia da america Mary Ellen Mark
Se usarmos a fotografia (foto ao lado) de Mary Ellen Mark como analogia ao que abordo veremos que esta tem maior proximidade a um aspecto fúnebre do que à sexualidade.

Se a observássemos num contexto meramente sexual seria banalizar todo teor de profundidade que a envolve.

Em outra perspectiva, é possível notar na fotografia de minha autoria (foto abaixo) que o nu já encontra-se mais próximo da sexualidade, no entanto não vulgarizado, mas insinuando a piada rápida, comum no fazer artístico contemporâneo que permeia, também, a publicidade.




Fotografia de Tito Oliveira

Por último a fotografia tida como "estranha", concebida pelo russo Andrew Pashis.

Trata-se do usufruto da sexualidade (vide a fotografia que inicia o texto), sim, porém, antes, de uma produção fotográfica que alude e provoca o desconhecido dentro de quem a visualiza.

Além, claro, de quando contextualizamos sua sugestão, nos deparamos perante a reflexão sobre ser o estado nu aquele que antecedeu (ou antecede) o estado das vestes.













O nu não precisa ser uma vergonha, ou, digamos, uma constante sinuosidade.

Na imagem abaixo, Andrew apresenta categoria e precisão, dedicação, cenário, hermética, aspectos que nos distancia da observação restrita ao nu que compõe a imagem.

Fotografia do russo Andrew Sashi
Neste contexo o nu é mais um adorno, enquanto forma delineada que alude à pintura. Ainda que esta não necessite estar limitada a uma única compreensão.

Ou seja, ao apreciarmos uma sugestão artística qualquer, é de bom tom desconfigurarmos as pré-concepções que construímos ao visitarmos exposições que antecederam a da vez.

E, mais importante, nos desapegarmos de paradigmas e dogmas vendidos no pacote dos padrões sociais, que só interessa a quem manipula.

Quando se trata de arte, seria igualmente a pensar na tão almejada chave, aquela que abre o cadeado da cárcere obscura, típica de aprisionandos em linhas geométricas que compõem quadrados com horizontes limitados.

terça-feira, 9 de junho de 2015

GALERIA - p i n t u r a - por Tito Oliveira

Pintura da séria A Cor Na Bahia Revela O Recinto Pitoresco -
“2ª Versão Do Retrato De
Carol Bender” - mista sobre papel - 90x60cm -
Salvador - Bahia - 2015

POUCAS&BOAS - "Chove Chuva, Chove Sem Parar" - por Tito Oliveira

Por Tito Oliveira - fotografia da série As Imagens São As mais Variáveis -
Paraty - Rio de Janeiro - 2008
Conviver com a ignorância talvez seja uma das tarefas mais árduas, para quem imergiu no estado consciente perante o descaso com a saúde mental.

O que vemos no Brasil, em relação à educação ou alienação, não é novidade alguma.

Pois dão-se apenas em maior difusão de seus desdobramentos através de redes sociais etc.

Em algumas regiões do país, a exemplo de Salvador; cidade onde as pessoas possuem bons espíritos, é degradante porque o fato de não saberem preservar absolutamente nada os deixam mais feios do que realmente são.

Os olhos estão cada vez mais perdidos ou direcionados a um ponto morto, que evoca inexpressiva projeção espiritual quando observado.

A impressão que se tem, em analogia ao que tento dizer, é que por aqui a adolescência; que sempre foi uma fase muito difícil de lidar, tornou-se todavia mais torpe.

Os adolescentes são condicionados e cada vez mais distantes da capacidade mínima em propor originalidade.

Mergulham inconscientemente na onda do mar onde se encontra o maior número de banhistas, ainda que esta seja a mais poluída entre a série de ondas num mar de outono.

Quer dizer, sem fluxo não há sentido!

Quando cito a adolescência me vem uma grande preocupação, uma vez que está nesta altura a raiz de uma futura geração com quilômetros não tão largos a serem percorridos.

Não haveria como citar a adolescência sem dissertar sobre a educação.

Esta que tem cada vez menos compromisso com a pedagogia; ou que se quer esboça mínimo interesse em sua reforma, nos mostra que sua preocupação tem alicerce quase exclusivo com as imposições de mercado.

Em síntese, é preciso dizer que o professor não se faz mais referência de orientação, mas mero corpo pesado sustentado por um telhado de frágil vidro.

O posto de professor numa escola privada em Salvador consiste, antes, em encontrar-se subserviente aos mimos dos alunos e, não obstante, também terapeuta não remunerado da dolorosa neurose de pais posicionados à milhas de distância do saber sobre o que representa, de fato, o nobre ato de educar.

É claro que a depreciação humana, em cada ser individualmente, parte da fase adolescente, porém tal decadência não se restringe a esse estágio.

Uma vez que a fase adulta intensifica a balbúrdia na condição humana.

Estreitando um pouco mais a complexidade da questão ao âmbito comportamental, dado na capacidade intelectual ou na de conceber, por meio da mesma, um plano imagético, será possível alcançarmos a diferença originada no intervalo entre duas décadas, apenas.

Se pensarmos na questão estética notaremos que a moda sempre existiu, e que esta sempre possuiu, digamos, três camadas: a comercial, a conceitual e a marginal (ou "subversiva"),

As duas primeiras se mantiveram, mas a terceira; tradicional representante da veste de uma tão estimada utopia que sempre nos deu a esperança do livre caminhar, hoje é signo de um estilo repetido, enclausurado na tendência e, assim, banal, ultrajante.

Salvo poucos, é impressionante a grande quantidade de pessoas de ambos os sexos, e idades diversas, que aderiram as tatuagens sem ao menos saber sobre como esta se deu na esfera mundial (vide a história e cultura africanas); além de adeptos de cabelos e axilas coloridos que repetem-se transitando entre uma anatomia e outra, nos fazendo apreciar cada vez mais aqueles(as) de aparência limpa e beleza espontânea.

Para o aspecto intelectual é ainda mais fácil diagnosticar o atraso.

Basta entender que o mundo é bissexual, que a Dilma tem o pior Governo da história política do Brasil e que ser feminista é ser igualmente cult e revolucionária. Caso deseje ser aceito(a) no último posto é preciso, em premissa, odiar homens.

Não quero dispersar-me do que realmente interessa na concepção deste texto, já que seu objetivo se dá em como é conviver em meio à sociedade em Salvador, enquanto extensão das sociedades pré-concebidas no Brasil e no mundo.

O meio no corpo do texto apenas salienta a forma escolhida para vigorar aparente manipulação aqui na cidade, que não necessitou ser muito bem elaborada para manter o rebanho em comportamento adequado ao sistema de ordem.

Os mais chegados, ou beneficiados, devem chamar de o projeto do "Netinho" (é assim que o rapaz é tratado entre os íntimos, ainda que não frequentem sua casa)!

Ou seja, o turismo numa "cidade turística" não vende serviço, mas uma risível publicidade da prefeitura municipal ressaltando a idade da capital baiana e a posicionando como a cidade mais antiga do país.

Assim é fácil pensar que é por conta de sua idade idosa e delicada que a chuva é a maior culpada dos deslizamentos de terras, responsável pela morte de dezenas de pessoas a cada dez anos, se não menos.

Pois a tragédia não é por falta de planejamento, seja este familiar ou por meio de um engenheiro, servidor público, designado à orientar essas pessoas a não construírem em regiões de risco, acarretando em multa caso o embargo seja negligenciado.

Sendo também atribuído à idade da senhora capital baiana o fato de substituir programas de orientação popular sobre a importância da reciclagem, ou em como despejar o lixo nos pontos adequados, por um carimbo gigante e grotesco escrito: "Proibido jogar lixo neste local, lei municipal".

Sabemos que muitos traços aqui citados são um vírus mundial, no entanto potencializados em determinadas regiões em acordo com seu nível de educação.

Contudo, tratando-se de  uma das regiões mais ignorantes do país, logo também do mundo, o fato da cidade ter chegado a esta idade deve ter sido, obviamente, culpa da chuva.

E, claro que é preciso dizer que o fato de eu ter escrito este texto é, também, culpa da chuva.

Que fique claro.

Não é minha intenção causar dissabores no calcanhar de Aquiles!

segunda-feira, 8 de junho de 2015

GALERIA - w o r k i n p r o g r e s s - por Tito Oliveira

Fotografia da série A Cor Na Bahia Revela O Recinto Pitoresco - "Emancipados" -
dimensões variáveis - Salvador - Bahia - 2015

domingo, 7 de junho de 2015

CINEMA - c r í t i c a / d i c a - "Os Infiéis" - por Tito Oliveira

Dividido em esquetes, "Os Infiéis", de 2013, é uma produção francesa idealizada por um grupo de diretores.

Composto de diversas situações cômicas, disserta sobre a infidelidade masculina por meio da perspectiva de oito realizadores: Jean Dujardin (vencedor do Oscar 2012 de Melhor Ator), Gilles Lellouche, Emmanuelle Bercot, Fred Cavayé, Eric Lartigau, Alex Courtès, Michel Hazanavicius (vencedor do Oscar 2012 de Melhor Diretor) e Jan Kdunen.

Trata-se de um filme provocante e veementemente sugestivo.

Humor negro.

Uma espécie de patifaria inerente à bigamia masculina, mas num ponto de vista provocativo, seja em relação ao discurso machista, seja deslocando-se até a posição do homem enquanto mero objeto sexual.

Seu teor de maior reflexão se dá; além do bom desempenho dos atores e da boa direção dos diversos diretores envolvidos no projeto, em explorar o tema da infidelidade de uma maneira não "socialmente correta".

São plurais as esquetes, entre sete ou oito, se não estou enganado.

Algumas muito curtas, outras mais substanciais.

Os personagens são os mais diversos: excessivos, amáveis, simpáticos, repelidores, hilários ou deprimentes.

Em muitas das passagens se faz bastante realistas, outras vezes mais fantásticas ou surrealistas, no entanto pode-se encontrar um pouco de nós mesmos em meio às situações dos personagens.

Em especial, a qualidade do bom ator Lellouche Dujardin é irretocável.

É um bom momento para distrair-se num humor espinhoso, não necessariamente como  um quadrado exato entre as partes que o compõe, a menos que deseje estimular a liberdade de suas mais profundas intenções exposto num contexto de relação conjugal.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

GALERIA - w o r k i n p r o g r e s s - por Tito Oliveira



Díptico fotográfico da série A Cor Na Bahia Revela O Recinto Pitoresco - "Nuances De Gabriel Arcanjo" - dimensões variáveis - Salvador - Bahia - 2015