domingo, 14 de junho de 2015

PROVOCAÇÃO - "Desnudemos Os Olhos Para Melhor Sentir A Fotografia" - por Tito Oliveira

Fotografia do russo Andrew Sashis
O Brasil tem problemas incontáveis.

Decorrentes não de sua pouca idade "civilizada", mas antes relacionado a como as coisas se deram por aqui em meio ao período de colonização.

Assim penso que muito de sua complexidade, ou, melhor dizendo; atraso, se dá alicerçado à cultura e ao sistema político que aqui vigora.

Lógico que o povo é parte disso.

Ainda que para ter consciência de sua participação seja necessário estar inserido num certo patamar socioeconômico.

Porém, em relação ao fazer artístico, por exemplo, trata-se de um distanciamento inerente a um estado que beira à osmose.

Se a distância nesta relação se encontrasse apenas na ignorância seria compreensível, no entanto por aqui representa um status de desprezo (sim, desprezo pode ser uma questão de status também), ou pouco (quase nada) interesse em conhecer e entender o que se considera estranho, desconhecido.

Estar aberto a conhecer seria, por vez, a atitude mais inteligente, já que na vida de quem assim fizesse se atribuiria um valor intelectual, artístico e cultural. Logo estaria mais rico, suponho.

Afora algumas regiões mais, por assim dizer, megalopolitanas; como pontos estratégicos na convivência social da cidade de São Paulo, no Sudeste, por exemplo, o que ocorre na generalidade é um pré-julgamento descabido e/ou emblemático ao fazer artístico que transita além de padrões de quem pouco conhece, ou dedica-se apenas ao consumo de conteúdo popular. Apreendendo a arte num contexto de tendência modista (a da vez, neste caso, seria fotografar em HDR ou apreciar pinturas do ilustrador Romero Brito).

Conversava com uma amiga sobre fotografia e cheguei à conclusão de que acabo, enquanto também praticante da fotografia, evitando nus em meus projetos para não afogar-me em clichês.

Embora seja preciso dizer que o clichê não tivesse origem em minha concepção, mas na apreensão desta.

O pensamento, ou cautela, deu-se quando senti uma predisposição, quase que ortodoxa, em associar o nu ao sexo... Tolice!

Fotografia da america Mary Ellen Mark
Se usarmos a fotografia (foto ao lado) de Mary Ellen Mark como analogia ao que abordo veremos que esta tem maior proximidade a um aspecto fúnebre do que à sexualidade.

Se a observássemos num contexto meramente sexual seria banalizar todo teor de profundidade que a envolve.

Em outra perspectiva, é possível notar na fotografia de minha autoria (foto abaixo) que o nu já encontra-se mais próximo da sexualidade, no entanto não vulgarizado, mas insinuando a piada rápida, comum no fazer artístico contemporâneo que permeia, também, a publicidade.




Fotografia de Tito Oliveira

Por último a fotografia tida como "estranha", concebida pelo russo Andrew Pashis.

Trata-se do usufruto da sexualidade (vide a fotografia que inicia o texto), sim, porém, antes, de uma produção fotográfica que alude e provoca o desconhecido dentro de quem a visualiza.

Além, claro, de quando contextualizamos sua sugestão, nos deparamos perante a reflexão sobre ser o estado nu aquele que antecedeu (ou antecede) o estado das vestes.













O nu não precisa ser uma vergonha, ou, digamos, uma constante sinuosidade.

Na imagem abaixo, Andrew apresenta categoria e precisão, dedicação, cenário, hermética, aspectos que nos distancia da observação restrita ao nu que compõe a imagem.

Fotografia do russo Andrew Sashi
Neste contexo o nu é mais um adorno, enquanto forma delineada que alude à pintura. Ainda que esta não necessite estar limitada a uma única compreensão.

Ou seja, ao apreciarmos uma sugestão artística qualquer, é de bom tom desconfigurarmos as pré-concepções que construímos ao visitarmos exposições que antecederam a da vez.

E, mais importante, nos desapegarmos de paradigmas e dogmas vendidos no pacote dos padrões sociais, que só interessa a quem manipula.

Quando se trata de arte, seria igualmente a pensar na tão almejada chave, aquela que abre o cadeado da cárcere obscura, típica de aprisionandos em linhas geométricas que compõem quadrados com horizontes limitados.

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