Seguindo a rota do buddy movie, encontramos
um filme cuja assertiva principal seja a da busca de heróis da vida cotidiana,
do que é habitual, do cotidiano exato e propício à ação na qual, nós, todos,
inseridos de uma forma bastante significativa em vista dos nossos papéis
sociais estamos nunca a salvo de peripécias que implodem dentro da mesma vida
cotidiana.
O roteiro muito bem conotado pelo diretor Damián Szifron, surpreende
com a descoberta de que heróis somos:
anônimos e correlatos.
O filme retrata a vida de um psiquiatra
comunitário (Diego Peretti) que da noite para o dia se envolve em uma trama na
qual ele faz um papel chave de ser o salvador de um agente da Polícia Federal
Argentina que, após muitas investigações, este último resolve dar fim a uma
máfia em onde se veem envolvidos policiais comuns e agentes secretos do Serviço
de Inteligência.
A naturalidade do ator mostra seu papel indagador entre seu
cliente (Luis Luque) e a própria tragédia do psiquiatra que descobre tal qual
acontece com o seu paciente, em relação à vida conjugal, que a mulher o engana.
O primeiro entra em depressão devido ao
choque aparente entre a conformidade da descoberta e o devir.
O segundo, que por motivos meteorológicos, convida o primeiro a entrar na sua casa solidificando-se uma amizade que é a que supostamente, na vida real, devia propor o leitmotiv do eixo analista-paciente para que tal sintoma prescrito, neste caso, a depressão do agente, se dissipe.
O segundo, que por motivos meteorológicos, convida o primeiro a entrar na sua casa solidificando-se uma amizade que é a que supostamente, na vida real, devia propor o leitmotiv do eixo analista-paciente para que tal sintoma prescrito, neste caso, a depressão do agente, se dissipe.
Destarte, o humor que empreende a trama
pela sua própria invectiva é na verdade uma tragicomédia que se por um lado
suscita um certo espanto na vida
real, aqui torna-se de fato, o emprego e a forma original de que psiquiatra e
paciente são configurações da mesma problemática, mas em sentidos diferenciados
e tratados à maneira do espelho lacaniano, o estágio, e este seja tão cruel na
vida real, mas na trama abordada no filme acabe por espelhar a situação de
vulnerabilidade a que toda a sociedade está exposta sem abrir feridas.
Quiçá seja este o tom preponderante do
humor são diante de uma situação que beira o intolerável.
Peretti que na vida real ele é psiquiatra e psicanalista, na rodagem ele se mostra ativo em sua própria esfera do real quebrando-o apenas com a ação nos quais bandidos e mocinhos estão à espreita de uma salvação: um, em salvaguardar a vida do seu paciente envolvido na investigação; os outros, em realizar um feito marginal usando-se dos poderes institucionais que possuem.
A grande sacada do filme é a ambientação propícia para tais atos
utilizando-se de todos os elementos compatíveis com a trama sem perder o lance interativo de uma profundeza
dialética ao ponto de ser inevitável a formação de pensamentos ulteriores
confinado no inconsciente dos espectadores, isto é, do público que se vê a
través da tela do cinema: a notada representação da vida cotidiana dentro dos
lares em quesitos conjugais, o papel do profissional psi diante da problemática, a simbolização do herói que por motivos
políticos e sociais deixa de transcender, tendo em vista a margem de acusações que
a opinião pública ressalta em todo momento em questões ligadas à corrupção
policial e à falta de ética e de moral das instituições que deveriam dar o
exemplo.
Por fim, a ruptura de valores tidos como
imorais diante da nova sociedade em transição que, se por um lado criticam atos
recorrentes da mesma moral social impositiva tanto o policial quanto o analista
quebram-no em apenas dez minutos de trajetória, insinuando indiretamente a uma
reforma de pensamentos subjetivos tanto quanto à renovação dos procedimentos
das instituições como uma forma de projetar aquilo, como foi retroexposto em
linhas anteriores, no inconsciente dos espectadores.
“Tiempo de Valientes” assume, pelo
título do filme, a fama do herói anônimo que pode estar em qualquer ponto de
uma cidade, região ou localidade.
Tal vez, na poltrona do lado dentro da sala
de cinema.
Essa projeção do que é a coragem, a valentia, a volição continuada
não se trata mais ao que estamos acostumados na historicidade cronológica do
nosso universo humano, mas sim, na simbolização do absurdamente natural e que
no dia a dia não nos damos conta justamente por essa falta de autocrítica e
senso comum e que deveria residir dentro de nós de forma espontânea e cíclica
para resolver os impasses que a própria vida manifesta.
Ludwig Ravest é chileno, escritor, estudou filosofia na Universidade de Santiago e atualmente vive e trabalha em São Paulo.
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