quinta-feira, 27 de novembro de 2014

PROVOCAÇÃO - "Educativo" - por Tito Oliveira

Por Tito Oliveira - pintura da série Herméticos - "Projeção" - esmalte
sintético sobre madeira - 95x169cm - São Paulo - 2007
É indiscutível que a educação pública no Brasil vigore questionavelmente. 

No ranking mundial, estamos à frente apenas de países muito mais pobres que o nosso, como a Nigéria, por exemplo. Nação mais corrupta do globo.

Saber disso já soa desaforado perante os direitos do contribuinte, ou simplesmente humanos.

Imagina, então, fazer parte e se desdobrar em meio a seu sistema de trabalho precário, provido de pouco escrúpulos com o profissional, militante deste universo.

Muitas vezes pensamos, equivocadamente, que o problema se dá numa geração transviada, desinteressada e de valores trocados.

Outras vezes analisamos que no lugar de educadores, deveríamos ser chamados de orientadores.

Quer dizer, se a escola é uma instituição interposta entre as necessidades do mundo e os valores pré-estabelecidos no lar, na ausência da necessária participação dos pais o tutor pouco poderá realizar se não desempenhar uma posição que pouco lhe cabe, negligenciando o real motivo que o constitui professor: ensinar.

Que todo ocaso se faça decorrência de um sistema constitucional desprezível às necessidades básicas de sobrevivência que se fundamentam na educação, já não se traduz em novidade alguma. 

Porém, é preciso refletir sobre até que ponto o fato de encontrarmo-nos, enquanto profissionais, cidadãos, habituados com tal descaso, nos exime de estarmos entusiasmando todavia mais a gravidade do caso.

Em muitos momentos, sorrio por ter aprendido a sorrir de mim mesmo. Levando a sério, cada vez mais comumente, nuances no acaso ou entre a vida animal. 

Pois cheguei a desejar, por instantes; ao observar o recinto frio em que os alunos são submetidos à transitar espontaneamente, que mentores de tais instituições sagrem para provar que são reais.

Parei de fazê-lo.

Muitas vezes, para não expelir reações a plenos pulmões, é necessário trajar o perfil da ingenuidade, do contrário sobrepõe-se demais horizontes possíveis.

Fato é que desconheço a agonia que amam. Suponho, por clara evidência, ser bastante.

Muitas, presumo, devem ser batizadas na água, outras, em chamas. 

Sei apenas que há mais na vida do que o que nos faz chorar. 

Estas lágrimas não são razão para meu luto. 

Não sofrerei com um olhar de ódio e desprezo. 

Meu pedestal é adornado com o frescor das flores.

Em muitas das ocasiões, penso em dizer para que desliguem as luzes e que permitam-me olhar dentro de suas almas. 

Nasci e sangrei para abraça-los.

A má remuneração nada significa perto da dor sofrida num trabalho inconsistente, pouco fundamentado.

O que seria isso se não uma espécie de inferno gentil?!

Por sorte, o meio é a relação humana e, vez em quando, é possível escutar a rua tocar uma música que eu conhecia e que, por vez, acaba levando-me mais próximo de mim. 

São músicas que chamo de minha, que faz-me adentrar a casa da minha infância, onde eu poderia, ao menos, encontrar o meu nome. 

Se assim não fosse possível, só teria a mim para culpar. 

Por todas essas coisas, foi preciso saber que o sereno do azul é estimulado por sua única vontade de vivê-lo.

Voltei a sorrir!

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