domingo, 28 de setembro de 2014

CINEMA - c r í t i c a / d i c a - "Incertezas" - por Tito Oliveira

Escrevi, não há muito tempo, sobre o bom filme "Pelos Olhos De Maisie", dos diretores Scott McGehee e David Siegel.

Ainda não vi “Dead End”, realizado pelos mesmos, porém posso discorrer sobre "Uncertainty", de 2011, título traduzido literalmente para "Incertezas", algo pouco recorrente na transição de nomes originais em produções estrangeiras ou hollywoodianas importadas ao Brasil. 

Para os adeptos da cinematografia dos jovens realizadores, é possível notar que na ocasião ambos eram ainda novos no universo em questão, e até o momento não se deixaram entranhar aos super estúdios norte-americanos.

Amantes das intervenções independentes nas salas de cinema diriam que perambular à margem dos holofotes californianos é um sintoma atraente, se não fosse pelo viés de um suspense ruim que intriga não pela sugestão, mas pelo cansaço.

"Incertezas" reflete uma situação em dois tempos, não como extensão de um período a outro, mas apresentados simultaneamente no mesmo contexto para diferentes experiências. Nada novo. Pois ambos roteiros são insossos, de desenvolvimentos tediosos, pouco envolventes.

Se fossemos resumir numa sinopse, trata-se de um jovem casal composto por Kate, interpretada pela ainda mais desastrosa Lynn Collins, e Bobby, personagem que foi corpo para nada além de mais uma singela atuação do boa praça Joseph Gordon-Levitt.

Tudo se inicia na ponte de ligação entre a altiva Manhattan e o cult Brooklyn, daí uma moeda é arremessada com o objetivo de definir a nova trajetória do casal. 

Uma das hipóteses seria ir ao bairro do emblema sócio-cultural novaiorquino, onde passariam um agradável dia com a família de Kate e iluminaria o acesso ao amadurecimento da relação. O outro caminho os deixariam em Manhattan, cenário de uma grande perseguição que os envolveriam numa já larga série de crimes.

Numa dessas sequências o casal, que se comunicava num minimalismo mais parecido com preguiça para um melhor desdobramento do texto, insinua um enigma que invoca sua permanência conjugal. Em paralelo, envolver-se numa trama assassina por um acaso e saírem ilesos ou apostar no que poderia ser a oportunidade de suas vidas, solucionando suposta dificuldade financeira.

Bom, assistir um filme onde o foco é uma união de amantes que passa por problemas emocionais em meio a incertezas sobre suas carreiras em individual, ou à aceitação familiar, é bastante enriquecedor e nos aproxima ainda mais de nossas vivências, porém ao mesmo tempo nos impor outra face, dentro deste, com uma história nada correspondente informa sobre clara evidência de uma relação pouco coesa entre direção e roteiro. Ou, talvez de aspecto mais previsível, uma divergente posição na parceria entre os diretores.

Achar um telefone celular em meio a um passeio de taxi e tentar devolvê-lo é realmente muito nobre e prestativo, no entanto ao descobrir que o telefone envolve uma série de problemáticas que implicam, sobretudo, no risco de suas vidas e não livrar-se dele imediatamente, mediante um motivo sem sentido de rastreador que os localizará em qualquer ponto é um insulto à inteligência do espectador.

As matizes verde e amarela que supõem duas tramas são, de fato, uma desconexa introdução ao suspense de como se dará o destino do par romântico que, aliás, é mais melodramático do que um derramamento de uma tonelada de mel em plana superfície.

O amarelo indica a cor da camiseta do desenxabido personagem Bobby, que se faz símbolo de identificação tanto para o mafioso e dono do telefone resgatar seu bem, quanto para orientar um dos lados na proposta inerente ao filme.

Já o verde, bom, esse não ficou assim, digamos, subjetivo, foi anulado mesmo. Pois era uma espécie de tentativa simbólica para demarcar o avesso da moeda pintado no carro que levava o casal para almoçar com a família de Kate e nos deixar ainda mais sonolentos ao prestarmos a atenção para o registro de uma realização cinematográfica pouco convincente.

Poderia, como de costume, estender as linhas do texto para falar sobre sua estética, porém seria como repetir o cansaço oriundo da película, logo, já se faz claro o resumo da opinião.  

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