domingo, 28 de setembro de 2014

COLABORADORES - "Mérito É Para Criminoso" - por Marco Matos

Por Tito Oliveira - foto-objeto da série Influência Indireta -
"Placas Em Colisão" -
impressão fotográfica em papel adesivo transparente sobre
acrílico leitoso flexível, caixa tipo placa face simples
 com iluminação interna movida por reator - 20x30cm - São Paulo - 2007
Sobre a meritocracia, um ponto que talvez venha sendo ignorado: Se houver muito "mérito" quem vai limpar o lixo da rua? Quem vai servir a comida enquanto o que mereceu saboreia a bebida já servida no restaurante preferido? Quem vai guardar a portaria do prédio onde moram os que "chegaram lá"? 

Mas a questão não se baseia em mérito e sim na medida do mérito pois um gari, um garçom ou um porteiro possuem muito mérito, ainda assim o mérito esta no ser e não no fazer. 

Muitos são julgados merecedores na meritocracia e são assassinos de massa, ladrões, mentirosos, hipócritas, escória da pior espécie, não?! 

Os mais humildes, os que sequer comeram o suficiente e não tiveram nenhum apoio sócio-cultural quando eram crianças, se tornam então os não merecedores, mas e se tiverem um carácter intacto?

Carácter não vale tanto quanto ser bom para algo na meritocracia. Independente dessa opinião da elite execrável e fadada à condenação plena, esses menos favorecidos merecem sim uma vida prazerosa por fazerem exatamente o que fazem, são peças fundamentais. 

Devem ganhar no mínimo 5 mil reais por mês, ter saúde pública e educação dignos também. 

A meritocracia é um sistema que necessita pisar nas cabeças, que usa os menos favorecidos como base, mas sem essa base tudo entra em colapso. 

Seria como em uma bela noite ter homens armados na sua porta prontos para destruir a sua família, afinal que mérito pode ter um policial (que arrisca a própria cabeça) a ponto de chegar a ganhar bem como um juiz (que anda de carro blindado)? 

E se todos os policiais se revoltarem, "estudarem muito" e através do mérito se tornarem juízes? 

Quem vai levar o réu de algemas para ser julgado? O juiz seria decapitado em pleno tribunal. 

Quem protegeria a família dos "merecedores"? 

O problema não é o máximo que se pode ganhar no topo e sim o mínimo que se pode ganhar nessa meritocracia, o salário mínimo em si é vergonhoso e para que se torne digno, sendo no mínimo 5 mil reais, esse topo da meritocracia deve ser rebaixado um pouco. 

Mas os egos inflados julgam seus esforços muito dignos, uma fadiga no final do dia justifica não quererem abrir mão de uma ilha particular, viajar varias vezes para o exterior todos os anos, comprar o que quiser e quando quiser, comprar pessoas! 

Luxos e mais luxos exagerados e descartáveis que só provocam mais tédio em quem os tenta satisfazer, como uma bola de neve. 

O que é o crime então? Uma reação? Uma tentativa violenta e desesperada de arrancar a cabeça do monstro da meritocracia? 

De alguma forma os menos favorecidos mesmo em meio a essa confusão mental e humilhante a qual são submetidos, como violentados pelo invisível sabem que alguma coisa esta muito errada e algo ou qualquer coisa, de preferência violenta deve ser feita, um dia não haverá polícia suficiente para manter essa meritocracia em ordem, nada injusto ou desequilibrado permanece, pode durar milênios mas depois haverá apenas ruína. 

"Eu perguntei a um cara que estava preso, um traficante... Era um cara esperto, me ofereceu um cobertor quando eu cheguei... Eu perguntei: ‘Cara, como você tá nessa situação de traficante?’ Ele: ‘Cara, eu sou negro, sou inteligente e sou pobre. Isso é um perigo. Eu tenho inteligência para assumir vários cargos idôneos, cargos normais. Mas eu sou preto. Preconceito no Brasil existe. Minha inteligência não vale só um salário mínimo, porque eu acho que o governo está me roubando. Agora, o que é pior? O tráfico que eu faço ou o tráfico de vida que eles fazem?” - Lobão - cantor e compositor.


Marco Matos tem 32 anos, é músico instrumentista com vasta pesquisa no segmento jazzístico, além de estudioso profundo da bíblia e cabala há mais de 7 anos.

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