sábado, 20 de setembro de 2014

PROVOCAÇÃO - "A Realidade Da Arte Que Afoga" - por Tito Oliveira

Por Tito Oliveira - foto-objeto da série Influência Indireta - "Período Pré Duchampiano" - 
penico esmaltado - dimensões variáveis - Salvador - 2014
Se a arte é a representação da realidade a partir do ponto de vista das experiências pessoais de um artista, é preciso dizer que para desafiar a imagem, impulso, talvez, maior no gesto deste, não será necessário tornar-se, para tanto, um grande artista, mas, antes, um bom artista. 

A apreensão de tal classificação deve partir, sobretudo, em si, para que deva, seguramente, apresentar-se ao público enquanto assinatura numa obra de sua criação.

Encontrar-se escravizado por uma pressão de mercado e compulsivamente viver em torno dos editais de premiação, assim fazendo-se dentre as inúmeras tentativas contemplado; conduzido pelo fio que o alicerça a um brasão institucional, talvez chame a atenção de um economista, dono de uma conceituada galeria, a projetá-lo no comércio conceitual das artes. 

No entanto o contexto no curso que provavelmente o levaria até a posição deve estar envolto a uma série de circunstâncias como: estrutura de trabalho para constante produção e continuidade para alçar cada vez mais prestígio por meio de premiações promovidas em instituições públicas mais renomadas, além, claro, de projeção internacional e evidência com publicações em veículos de comunicações especializados na linguagem em questão. 

Isso seria tudo se não fosse, muitas vezes, como é típico no mercado brasileiro, preciso ter os estudos oriundos de renomadas academias de artes, estar envolvido em grupos e/ou coletivos que controlam tais cenas e, mais importante, encontrar-se informado sobre a expressão da vez ou ter o trabalho ressaltado em textos de famosos críticos. 

Quanto aos suportes e pesquisas comumente explorados na atualidade estão cada vez mais caros e subjetivos. Pois as sugestões por meio da arte efêmera, instalações com dimensões descomunais, performances que se estendem à fotografia; ao vídeo e ao objeto, videoarte, salas de sensações, poesia visual, fotografia que transgride a precisão técnica para enaltecer a discussão; a piada ou o suporte, intervenção urbana, apropriação, land art e street art são segmentos responsáveis pela reinvenção dos obsoletos pintura, gravura e escultura, ainda que transitem na inconstância da substância e do mero eufemismo comercial. 

Logo, o artista não deve ser pobre ou provido de ocupações diversas. Autodidata então, menos ainda. A menos que tenha parentesco com expoentes como Hélio Oiticica, idealizador do Parangolé - obra denominada como anti-arte por excelência pelo próprio autor -, uma espécie de capa (ou bandeira, tenda estandarte) que só mostra plenamente seus tons, cores, formas grafismo e os materiais com que é executado a partir dos movimentos de alguém que o vista. Por conta disso sua obra é considerada como uma escultura móvel. 

Tudo bem, a ideia é mesmo genial, porém não precisa estender-se ao bisneto que nasceu para ser administrador de empresas. Uma analogia ao que tento dizer, apenas.   
Estas são algumas das restritas alternativas de promoção profissional do universo artístico contemporâneo na república verde e amarela. 

Uma vez tais requisitos preenchidos, no artista a sensação provavelmente se confundirá com aceitação, no entanto o cuidado não deve ser desprezado, já que o signo da atividade que reside no impulso inconstante das variadas formas de expressões o situa no caule do imaginário que habita o anseio da descoberta em minutos e horas. 

Seu pensamento estagnado deve fazer-se causa de emersão para confrontar a ausência das incertezas, dando forma ao concurso do sangue que aquecerá a sombra de seus passos. 

Necessário mesmo é encontrar na imagem apenas aquilo que este próprio estiver nela colocado. 

Se na percepção o saber se formar lentamente, na imaginação, o saber deve ser imediato. 

E no ato mesmo pelo qual se imagina uma imagem, deve estar incluído o conhecimento de que a imagem nada o apresentará de novidade e que nenhuma surpresa o causará. 

Quando assim passei a acreditar foi possível libertar-me e entender que o melhor preço é o que se paga pelo privilégio de pertencer a si próprio. Tornei-me amigo do tempo e me darei, se preciso for, a extravagância de deixar, por um período necessário, de ser artista. Apostando na reinvenção suscitada pelo espaço e pela sabedoria da paciência que enuncia o amadurecimento na criação.   


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