Discernir
em poucas palavras o conceito de arte ou arte conceitual em se tratando da
pessoa TITO OLIVEIRA, o artista, o expositor de seu mundo e do mundo das
coisas: suas mutações e metamorfoses, suas nuances e vicissitudes, suas interfaces
e intermitências assim como suas aspirações, inspirações, métodos, processos e
desenvolvimentos não é coisa fácil de efetuar-se, todavia, um desafio.
Também poderia empregar milhares de palavras
construindo compêndios inexoráveis diante da magnitude de semelhante empreitada
o que não é a finalidade nem tampouco é fazer uma critica ou um comentário que
denote um excesso da supremacia da sapiência
ou que inculque aos olhos alheios a ambiguidade da excentricidade de todo
saber intelectual.
Em constante movimento e reforma torna a
prática da arte e o artista o escopo que visa a manutenção das formas que
indica, primeiramente, a manifestação do extra-consciente humano no espelho das
coisas e a quem estas servem como primazia fundamental do ser e a existência,
isto é, em nosso tempo as relações maquinais que homem tem com aquelas coisas
em nosso conturbado século e que se distingue claramente do maquinal ou
maquínico ao qual alude o filósofo Gilles Deleuze e o psicanalista Félix
Guattari.
Logo mais temos como segundo escopo a
sensibilidade que o artista possui ao notar-se projetado dentro de uma folha de
papel, de uma tela, de um quadro quando imagem e luminescência se fundem e se
afincam aos elementos que a retina fixa e condensa até o limiar do mínimo
uníssono realterando a natureza e
suas leis com o intuito de enlevar os valores que os mesmos têm quando a
tecnologia e a cibernética tomam parte do movimento, eterno movimento que as
coisas impingem nos homens ávidos pela busca do prazer, da produção e o seu
fim–último, a realização do Ser.
Tal decorrência não corresponde à
horizontalidade que a visão e interpretação humanas possam dar aos intuitos do
artista em se fazer notar dentro dessa materialidade toda como motivo de
indagação e critica, mas sim, à abordagem explicita acerca do cognoscitivo e
pragmático da realidade em quanto termo generalizado correspondendo exatamente
às indagações bergsonianas com o real-possível-impossível e que é aquela
interpretação que motiva ao artista TITO OLIVEIRA a criar para a reflexão e não
o contrario mantendo-o incontestável e íntegro na sua obra assim como na sua
personalidade de visionário conseqüente e notável contestador da conjuntura
social ao qual o mundo de hoje está atrelado.
Não obstante, vale a pena fazer umas
variantes em relação à obra desse artista sergipano, porém com clara visão do
mundo global. Dentro da tecnicidade se faz impossível enquadrar todos os seus
modelos de formação, embora o prisma com a qual ele observa o seu entorno seja
justamente um revoo entre a técnica das coisas e as coisas da técnica, tópico
este que a custado muito caro aos tecnocratas de nosso século.
Ora, dentro de
um espiral as obras ganham um contorno de relevos dicotômicos que ampliam essa
observação: o dia e a noite, o paletó e a silhueta, o ensejo e a abstração, o
vertical e o horizontal, o relógio e a engrenagem, o corpo e a máquina, o
arborescente e o rizomático, a peça e o tabuleiro entre outras possibilidades
imagéticas incorporadas exclusivamente para o realce do
real-possível-impossível.
O artista formula a sublimação, eleva o
objeto e, parafraseando um sentido lacaniano, introduz a “dignidade da Coisa”,
mantendo firme a absolvição do conflito, reintegrando a ordem da Coisa dentro
de seu caos natural.
Por outra parte, e tal como acontece no
universo do cinema, por exemplo, a origem de alguns conceitos fundamentais de
linguagem e lógica provêm das fendas profundas da continuidade no espaço, que,
em se tratando de possibilidades imagéticas incorporadas em um papel, tela ou em modelos fotográficos, retorna ao conceito de “expressão formal da
diferença”.
Embora, e em várias oportunidades que podem
ser vistas aos olhos do bom observateur
ele, o artista, o refute improvisadamente, pois, e de fato, trata-se justamente
do jogo ao qual todo ser humano é convidado para permanecer imóvel dentro de
esse universo de plasticidade e cores, refratando nossa intuição em relação aos
modelos do cotidiano e retratando-nos uns aos outros quando descobrimos que na
unilateralidade as diferenças saltam tão á vista, sendo este, na visão
particular de quem escreve a origem e finalidade de toda a obra do artista TITO
OLIVEIRA.
Eis aqui então, que podemos notar a
transparência de seu intuito de reformular conceitos e idéias na visão
galileana do mundo eppur si muove,
pois o sentido que pode ter seu sucesso mundo afora não é mais que o despertar
das consciências em nosso tempo social onde as coisas parecem que tomaram mais
vida que todo e qualquer pensamento e sentir humanos: a vontade de poder na
obra-tempo tem o poder criativo de novos valores e novos modos de existência,
já que como muitos sabem, o rumo que a arte vai tomando através da reinserção
de todos os elementos que compõem o tempo social se inclina incontestável à
manutenção de um futuro que é o presente, é o próprio significante do
sempiterno.
Tal vez pelas leis que regem a causalidade o
“cessar” de toda obra imagética do artista TITO OLIVEIRA que remonta desde “de
Sergipe para o mundo” passando pelas “Placas de Colisão”, suavemente se
inclinando na “Simbiose” (de symbiosis= estar
junto a; em junção a) que é - segundo a visão de quem -, a marca registrada de
toda sua obra, seja justamente o “permitir do tempo” e a “expressão do outro”,
motivo que infere à emancipação do homem, o restabelecimento da natureza da
coisa (ou a Coisa em-si) e mais, o saldo total de toda a observação do
presente-atuante que não é nada e mais e nada menos que a admissão de novos
valores exímios, mas com tons que oscilam entre a realteridade e o extra-consciente como modelo a ser seguido por
outros artistas nunca como motivo de imitação senão que para que os próximos
joguem o dardo cada vez mais longe.
Na continuidade do espaço está inserida a
ação; na continuidade do tempo somente os maiorais permanecerão.
Ludwig Ravest é chileno, escritor, estudou filosofia na Universidade de Santiago e atualmente vive e trabalha em São Paulo.
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