terça-feira, 9 de setembro de 2014

CRÍTICA - Tito Oliveira por Ludwig Ravest

Por Tito Oliveira - instalação da série Composto de Um Tempo Documentado -
"Espanha" - caderneta, miniatura de espada Taça da Espanha; século XVII, ampulheta, madeira -
dimensões variáveis -  Portugal - 2013
Discernir em poucas palavras o conceito de arte ou arte conceitual em se tratando da pessoa TITO OLIVEIRA, o artista, o expositor de seu mundo e do mundo das coisas: suas mutações e metamorfoses, suas nuances e vicissitudes, suas interfaces e intermitências assim como suas aspirações, inspirações, métodos, processos e desenvolvimentos não é coisa fácil de efetuar-se, todavia, um desafio.

   Também poderia empregar milhares de palavras construindo compêndios inexoráveis diante da magnitude de semelhante empreitada o que não é a finalidade nem tampouco é fazer uma critica ou um comentário que denote um excesso da supremacia da sapiência ou que inculque aos olhos alheios a ambiguidade da excentricidade de todo saber intelectual.

   Em constante movimento e reforma torna a prática da arte e o artista o escopo que visa a manutenção das formas que indica, primeiramente, a manifestação do extra-consciente humano no espelho das coisas e a quem estas servem como primazia fundamental do ser e a existência, isto é, em nosso tempo as relações maquinais que homem tem com aquelas coisas em nosso conturbado século e que se distingue claramente do maquinal ou maquínico ao qual alude o filósofo Gilles Deleuze e o psicanalista Félix Guattari.

   Logo mais temos como segundo escopo a sensibilidade que o artista possui ao notar-se projetado dentro de uma folha de papel, de uma tela, de um quadro quando imagem e luminescência se fundem e se afincam aos elementos que a retina fixa e condensa até o limiar do mínimo uníssono realterando a natureza e suas leis com o intuito de enlevar os valores que os mesmos têm quando a tecnologia e a cibernética tomam parte do movimento, eterno movimento que as coisas impingem nos homens ávidos pela busca do prazer, da produção e o seu fim–último, a realização do Ser.

Por Tito Oliveira - instalação da série Composto de Um Tempo Documentado -
"Espanha" - caderneta, miniatura de espada Taça da Espanha; século XVII, ampulheta, madeira -
dimensões variáveis -  Portugal - 2013

   Tal decorrência não corresponde à horizontalidade que a visão e interpretação humanas possam dar aos intuitos do artista em se fazer notar dentro dessa materialidade toda como motivo de indagação e critica, mas sim, à abordagem explicita acerca do cognoscitivo e pragmático da realidade em quanto termo generalizado correspondendo exatamente às indagações bergsonianas com o real-possível-impossível e que é aquela interpretação que motiva ao artista TITO OLIVEIRA a criar para a reflexão e não o contrario mantendo-o incontestável e íntegro na sua obra assim como na sua personalidade de visionário conseqüente e notável contestador da conjuntura social ao qual o mundo de hoje está atrelado.

   Não obstante, vale a pena fazer umas variantes em relação à obra desse artista sergipano, porém com clara visão do mundo global. Dentro da tecnicidade se faz impossível enquadrar todos os seus modelos de formação, embora o prisma com a qual ele observa o seu entorno seja justamente um revoo entre a técnica das coisas e as coisas da técnica, tópico este que a custado muito caro aos tecnocratas de nosso século. 

Ora, dentro de um espiral as obras ganham um contorno de relevos dicotômicos que ampliam essa observação: o dia e a noite, o paletó e a silhueta, o ensejo e a abstração, o vertical e o horizontal, o relógio e a engrenagem, o corpo e a máquina, o arborescente e o rizomático, a peça e o tabuleiro entre outras possibilidades imagéticas incorporadas exclusivamente para o realce do real-possível-impossível.

   O artista formula a sublimação, eleva o objeto e, parafraseando um sentido lacaniano, introduz a “dignidade da Coisa”, mantendo firme a absolvição do conflito, reintegrando a ordem da Coisa dentro de seu caos natural.

   Por outra parte, e tal como acontece no universo do cinema, por exemplo, a origem de alguns conceitos fundamentais de linguagem e lógica provêm das fendas profundas da continuidade no espaço, que, em se tratando de possibilidades imagéticas incorporadas em um papel, tela ou em modelos fotográficos, retorna ao conceito de “expressão formal da diferença”.

  Embora, e em várias oportunidades que podem ser vistas aos olhos do bom observateur ele, o artista, o refute improvisadamente, pois, e de fato, trata-se justamente do jogo ao qual todo ser humano é convidado para permanecer imóvel dentro de esse universo de plasticidade e cores, refratando nossa intuição em relação aos modelos do cotidiano e retratando-nos uns aos outros quando descobrimos que na unilateralidade as diferenças saltam tão á vista, sendo este, na visão particular de quem escreve a origem e finalidade de toda a obra do artista TITO OLIVEIRA.

   Eis aqui então, que podemos notar a transparência de seu intuito de reformular conceitos e idéias na visão galileana do mundo eppur si muove, pois o sentido que pode ter seu sucesso mundo afora não é mais que o despertar das consciências em nosso tempo social onde as coisas parecem que tomaram mais vida que todo e qualquer pensamento e sentir humanos: a vontade de poder na obra-tempo tem o poder criativo de novos valores e novos modos de existência, já que como muitos sabem, o rumo que a arte vai tomando através da reinserção de todos os elementos que compõem o tempo social se inclina incontestável à manutenção de um futuro que é o presente, é o próprio significante do sempiterno.

   Tal vez pelas leis que regem a causalidade o “cessar” de toda obra imagética do artista TITO OLIVEIRA que remonta desde “de Sergipe para o mundo” passando pelas “Placas de Colisão”, suavemente se inclinando na “Simbiose” (de symbiosis= estar junto a; em junção a) que é - segundo a visão de quem -, a marca registrada de toda sua obra, seja justamente o “permitir do tempo” e a “expressão do outro”, motivo que infere à emancipação do homem, o restabelecimento da natureza da coisa (ou a Coisa em-si) e mais, o saldo total de toda a observação do presente-atuante que não é nada e mais e nada menos que a admissão de novos valores exímios, mas com tons que oscilam entre a realteridade e o extra-consciente como modelo a ser seguido por outros artistas nunca como motivo de imitação senão que para que os próximos joguem o dardo cada vez mais longe.  

   Na continuidade do espaço está inserida a ação; na continuidade do tempo somente os maiorais permanecerão. 


      
 Ludwig Ravest é chileno, escritor, estudou filosofia na Universidade de Santiago e atualmente vive e trabalha em São Paulo.

   

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