“Conciencia y materialidad se presentan entonces
como formas de existencia radicalmente diferentes, e incluso antagonistas que
adoptan un modus vivendi y se componen mal que bien entre ellas. La materia es
necesidad, la conciencia es libertad; pero por más que se opongan una a la
otra, la vida encuentra en medio de reconciliarlas. Es que la vida es
precisamente la libertad insertándose en la necesidad y volcándola en su provecho.
Ella sería imposible, si el determinismo al cual obedece la materia no pudiera
relajarse de su rigidez. Pero supongan que en ciertos momentos, en ciertos
puntos, la materia ofrece una cierta elasticidad, allí se instalará la
conciencia. Se instalará allí haciéndose completamente pequeña; luego, una vez
en el lugar, se dilatará, redondeará su parte y terminará por obtener todo, ya
que dispone del tiempo y ya que la cantidad más ligera de indeterminación,
adicionándose indefinidamente consigo mismo, dará a luz tanta libertad como se
quiera (…) Si buscamos, en efecto, cómo se organiza un cuerpo viviente para
ejecutar movimientos, encontramos que su método siempre es ele mismo. Consiste
en utilizar ciertas substancias que
podríamos llamar explosivos y que, semejantes a la pólvora del cañón, solo
aguardan una chispa para detonar”
(Henry Bergson, La Energía Espiritual, Conferencia
Huxley, La Conciencia y
La Vida, Universidad de Birmingham, 1911)
“Aqueles que nos privaram da Beleza
Devem morrer
Nós incendiamos apenas Tróia
Por no podermos incendiar o mundo”
(Milton de Godoy Campos, Poemas e Elegias,
1982)
“Rareou no horizonte o bom senso
renovador, o desprendimento e a lei do ser visto a qualquer preço tomou
proporções avantajadas nas telas ‘mágicas’ e a visão tacanha e egoísta da real
realidade sufocou legitimas aspirações maiores do bem comum e vemo-nos todos à deriva,
perigando na mão de títeres absolutistas, guerreando o irmão, ferindo a
natureza, roubando a inocência do ambiente todo, e aquele calor in natura artis
tornou-se uma cidade submersa para poucos saudosistas para em seu lugar aparecer
as grandes megalópoles problemáticas e lotadas de emblemas artificiais”
(Helder Tadeu, Rimas de um
Poeta Mínimo ou 365 dias de Poemas Empíricos)
“As vozes não se calam
As vozes não se calam-
Calar-se-ão, em breve?
As vozes”
(Fabio Ulanin, Canção de Fogo,
in 20 Poemas Extremos, 2002-2008)
“Diga Sério Comendador: é sempre
sim, nunca não - dentro das possibilidades”
(Fernando Chapeleiro
I.
Uma Breve Introdução
Esse texto
que a continuação vocês terão o grande prazer de ler foi engendrado não apenas pelas
mãos do autor como se há de pensar antevisto dado o título do ensaio, o nome do
autor e seu respectivo e-mail.
Esse ensaio é
fruto da crescente disseminação do desejo de coletividade feito pela “cognose”
das pessoas que freqüentam a dita Mesa18. Pode parecer impreciso para muitos
essa sentença tendo em conta que, na cidade de São Paulo, devido às informações
que se passam pela mass media, principalmente,
nos tele-jornais, exista, de fato, uma tamanha suposição em que as pessoas vivem uma eterna desconfiança ou
algo como que o medo trancafia as pessoas
em casa: tamanha ideia de manipular as pessoas influenciadas pelos seus
próprios medos particulares façam com que elas, as pessoas, habitantes da
cidade, não saiam de suas casas com o intuito de encontrar outras pessoas em
lugares públicos.
Por outra
parte o autor ao referir-se sobre o termo coletividade não se trata de
coletivismo ao fiel estilo dos neoliberalistas de plantão que assumiram sem
ressalvas o controle econômico do planeta. Refere-se ao conceito de
sociabilidade dentro do contexto do que é global, universalizar ou, conforme o
tratado platônico-aristotélico, o sentido de res-pública¹ conformando a proposição extra-globalizante do ser humano, isto é, a capacidade de o homem
responder às sujeições do sistema muito além de toda norma severa e além de
todas as convencionalidades já existentes.
¹. Res-pública: literalmente “a coisa que é do povo”
ou “a coisa pública”. O conceito república no seu lócus original.
Bem poderia adicionar o termo aptar-se, bem dizia o psicanalista indo-britânico Wilfred Bion¹
quando as pessoas tomam consciência (awareness) de sua sujeição no âmbito
social.
O que mais pressupõem os velhos sábios das grandes
matérias que conformam a Humanidade é que o homem é parte da sociedade pelo
meio conceitual da troca de valores (animal social). E aqui a causa não é
invadir o terreno alheio a que corresponde o mundo da matéria diante da
tipologia relacional que vivemos atualmente.
Esse não é
fim desse ensaio e tampouco louvaminhar uma nova ideia, uma descoberta.
A finalidade
do mesmo é colocar a título de obra ensaística informar um tempo que nos coube
a todos viver, digo tanto como escritor e analista autodidata como também à
ordem dos revelados, ou seja, dos
verdadeiros autores e componentes do
DOSSIÊ MESA 18 que, informando com precisão, trata-se de dois portfólios com
imagens que traduzem empírica e cientificamente, diga-se de passagem,
psicológica e antropologicamente, a manifestação humana de homens e mulheres
que agraciados pela intensidade e diversidade da Rua Augusta, transformaram-se
em protagonistas de uma história jamais comentada em jornais, revistas,
magazines como também sem pressupostos dentro de exames sociológicos e
neurológicos. Porque dos mesmos fatos que nos coube a todos viver no viver-ali em onde o conjunto de pessoas e
elementos numa junção extraordinária acabou por modificar vidas subjetivas e,
por efeito, modificando automaticamente a existência dos revelados: a MESA 18 tornando-o assim como o segundo lar para
muitos.
¹. Wilfred.
R. Bion, a Theory of Thinking. In: Second Thoughts,
Selected Papers of Psychoanalysis, London, Heinemann, 1967.
Nota-se que isso pode parecer inaudito para experimentadores e
acadêmicos; a história demonstrou (e ainda demonstra) que é de situações
cotidianas em onde o ser humano transcende ou se detém no seu curso evolutivo; se
desliza abissal em direção à autoconservação e ao comprometimento social
depreendendo-se que de todas essas incursões abrolham todas e quaisquer das
formas literárias classificadas filologicamente sem que por esse motivo seja a priori sentir a necessidade perder-se na
essência do real. Fato é que a cada
um se lhe revela a MESA 18 dependendo
de seu alto nível de sociabilidade, bom humor e situando-se em sentido
terrestre à mesma intensidade que o planeta Terra gira, ou seja, translacional
e rotacional.
A MESA 18 não
é um espaço, um tempo, o nome da coisa em si ou titulo de propriedade e mesmo,
não é um corpo adjacente à matéria ainda que responda à Gestalt: um quadrado
serial, pois segue o conceito público da cidade em onde outras mesas instaladas
em um pequeno espaço infinitesimal da mesma são ocupadas para fins comerciais,
no caso, um bar de esquina e também, o bar como sentido de espaço de
convivência e troca de diálogos entre pares. Por fim, acopladas à mesa jazem as
cadeiras. Trata-se do verdadeiro sentido do nômade e do pensamento do desastre seguindo a trilha de Maurice Blanchot¹
Em númen as
pessoas vão aos poucos aparecendo.
São pessoas incógnitas dentro do meio social na qual
estão inseridas. Pessoas excluídas de todo e qualquer médio de informação
apesar de que muitas dessas pessoas executam atividades, tarefas sociais, profissionalmente
estão inseridas no mercado de trabalho.
¹.
O sentido da escrita nômade segundo o pensamento de Gilles Deleuze e da escrita
do desastre segundo Maurice Blanchot apud
Daniel Lins: O Último Copo: álcool, literatura e filosofia, Civilização
Brasileira, Rio de Janeiro, 2013. Esses conceitos competem ao modo de sensação
e percepção além de figuração entre o escritor e suas personagens, todas elas
compelidas a um dado tempo-espaço em onde, diante da mobilidade social, existe
um encontro retratado na Literatura como forma de dar a conhecer aos leitores o
impasse que há entre quem escreve e a pessoa que se descreve todos na forma de
um copo, de uma mesa, de uma cadeira e uma situação especial. (N. do Autor
deste ensaio)
Noutro âmbito são pessoas da vida comum que relevam a
vida e a existência cada qual ao seu modo e em sua maioria isenta de
ideologias, religião ou moda mesmo que muitas atividades não sejam lícitas
diante dos olhos jurídicos (e.g. vendedores ambulantes, hippies, pequenos
traficantes,etc.) trata-se dos movimentos humanos dentro de uma urbe social.
Quiçá, fora de todo escopo filosófico que se queira
dar ao presente ensaio, a Mesa transforma
os revelados em seres transcendentais
embora olhos alheios estejam a uma distância de anos-luz da capacidade de
convergência, entendimento e aceitação em relação ao termo transcendência tanto
de parte de leigos tanto de estudiosos da natureza humana. E o autor tem a
plena consciência disso embora o denominado agrupamento de pessoas (personas?) implique consistência e
mudanças de velas das naus sujeitas jamais à deriva dos ventos, mas sim, com um
fim-último cuja praticidade causaria inveja nos textos kantianos¹.
Muitos ainda não perceberam a imensa importância que
tem a Rua Augusta, um exórdio, um espaço supercilioso, inexorável, o que remete
verdadeiramente à questão da res-pública por
condescendência do termo urbanidade² que é onde se encontra a Mesa 18, ancorada
numa dessas esquinas que a conformam como a maior Rua a céu aberto ínclita aos
encontros massivos de pessoas e elementos que a compõem pela própria natureza.
¹. Giorgio Colli: La
Nacita della Filosofia, Adelphi Edizioni, Milano, 1975, 2000.
². Urbanismo
vem do Latim URBS, “cidade”. A qualidade de quem vive numa cidade e leva isso
em consideração é dita urbanidade, e tem a mesma origem. Provém, igualmente, a bênção
papal chamada URBI ET ORBI que significa “para a cidade (antes, quando se dizia
apenas URBS, todos sabiam que era Roma) e para o mundo.
A MESA 18 não
é Filosofia embora o seja; não é Psicologia embora também seja; não é
Literatura embora sempre houvesse um livro sobre ela; não é Psicanálise embora
invoque balizamentos gerais dos elementos que a compõem; não é Aritmética ainda
que resultados pitagóricos indiquem seu máximo denominador comum; não é
Historia embora sempre tenha tido a conjuntura como pulsação em cujo viés
temporal à invenção de um passado; não é Cosmogonia ainda que haja tantas
constelações que perfilam o ser diante
da matéria e esta atrelada à
definição de seus integrantes.
Em fim, a heurística de toda hermenêutica; o universo holicromado (holos, "todo" χρώμα
“khrôma” = cores; todas as cores)
perante tanta individualidade. O fim do teatro das aparências; o nascimento da
essencialidade que cultua o aparente e seu inverso: aquilo que é, mas que
bastaria infinitos nano-segundos para contemplá-la. Efêmera e profunda,
artística e vulgar, prosaica e verossímil, água e terra, ácida e leve, corcunda
e ereta, entrelaçada e livre, Ariadne e Prometeu, Deméter e Perséfone,
sacrílega e terapêutica, peçonhenta e curativa, apolínea e dionisíaca, estóica
e epicurista, o hostil arco e a benevolente lira. E, tal como diría Schopenhauer: “La razón está al servicio de la animalidad, de la voluntad de vivir;
pero mediante la razón se llega al conocimiento del dolor y del camino para
vencer el dolor, es decir, la negación de la voluntad de vivir”¹
¹. Giorgio Colli, La Nascita della Filosofia, Adelphi
Edizioni, Milano, 1975, 2000. De
um lado a pluralidade dos indivíduos não remete apenas à questão do nascer e
perecer invariavelmente embora as circunstâncias destes nas suas relações
sociais variam dependendo do significado e essência que tenha para cada um
diante da posição social que lhes tocou viver, por assim dizer, de uma maneira
mais abstrata. Tratar-se-á, portanto de encontrar na teoria da
vontade os elementos de uma ruptura definitiva com a filosofia clássica em onde
se envolvem fatores genéticos, convivenciais e de essência individual embora
existindo todos esses quesitos em todo envolvimento social coisa que
concretamente fica bem claro quando neste ensaio o indivíduo versus sociedade está em jogo diante da
esfera participativa. (N. de A.)
Na ante-sala do mistério que comporta o viver-ali existe o jogo de simulação,
todavia, diante do desespero que persiste em invadir o interior dos revelados, todos eles evocam quase que
sem querer uma “realidade pessoal primitiva”. Graças a esse dilúvio de
situações que se contempla e se perfila ainda sobressai o desejo de estar,
de saber-se aceito e o fato de ser de parte dos revelados da MESA 18.
Esse grupo de pessoas que se reúnem ocasionalmente
numa mesa de lanchonete nas imediações da Avenida Paulista na Cidade de São
Paulo, para ser mais exato, na Rua Augusta, famosa no mundo afora pela sua vida
noturna e sua diversidade gastronômica, palco de inúmeras representações da
vida cotidiana nessa imensa Megalópole. Essas pessoas, devido ao conhecimento
pleno encetando a intrínseca propriedade que lhe cabe ao autor testemunho e
redator desse espaço social, são os verdadeiros protagonistas desse estúdio. O
mesmo contempla o inverso da realidade social, isto é, a inventividade. Porém
suponhamos algo que se não pensado indistintamente podemos pensar-lo como
realização prévia e plena dessa inventividade através da criação de um termo.
A palavra feita para unir quando se dita com garantia
de supervivência da mesma, então é que ela se faz ouvir; quando escrita designa
diretamente o objeto ao qual se refere, definindo-o em práxis e filosofia
prática (praktiké) como “pessoas
simples, com seus medos e certezas, com seus êxitos e os seus fracassos, suas
fraquezas e fortaleças capazes de interagir para que haja uma entropia e ao
mesmo tempo uma sintropia: entre a transferência e a contratransferência, uma
exposição de dados que resume toda explicação”.
Contudo, sendo uma espécie de movimento empírico, toda
situação age de maneira livre de regulamentos conceituais que não se impeça a
livre-expressão, a realidade transmitida através do senso- perceptivo
individual: sentimentos e emoções longe de toda gnosiologia, momentaneamente emancipados
de julgamentos e sentenças: um quê de desvendamento social dentro de um micro-espaço
que se insere, indistintamente dos observadores, dentro da macro-urbanidade ao
qual somos impelidos a conviver.
Vivemos em tempos sombrios em onde velhos adágios
institucionais sejam eles oficiais ou não, persistem em compenetrar nos
meandros dessa sociabilidade.
A MESA 18 tal qual como foi retroexposta com
anterioridade é designada por muitos que a conhecem ou a conheceram como um
“objeto aí” sem valor mensurável e que acabou transcendendo a um espírito
ontológico. Formou-se um ser.
Emergiu por entre sua
realidade inercial um sistema de vida.
Durante suas épocas de recesso a MESA 18 todos os seus
revelados continuam na
memória-lembrança - termo este apanhado dos estúdios bergsonianos-, pois se
trata de uma epopéia viva e como toda coisa viva em espírito igualmente viva nas
circunvoluções do cérebro, as invocações advindas de fatos, cores, sons,
texturas, diálogos e discernimentos que trazem à baila o liame humano e
circunstancial; fazem que a chama, seu chamariz nunca se extenue com sua carga
de tempestividade e ímpeto essa epopéia viva formulada por homens e mulheres do
nosso dia a dia e que, sem floreios, para eles, no que respeita a esse
micro-espaço, transformou-se em um mito.
E isso é algo
que o próprio autor em seu alcance de poder da escuta, tem logrado perceber
irretorquível diante das mudanças que a sociedade imprime enlevando o mito
dentre as populações e pragmatizando a existência de uma maneira pouco
deslumbrante.
No ínterim,
não há nada de mágico em tudo isso. Embora certas regras de ordem natural como
a Lei do Contágio, de fato, é um fenômeno facilmente tributário da natureza do
homem ao requerer um destinatário a quem lhe é remitido uma informação, uma
fala, uma linguagem, um som que é o som do corpo, a intensidade desta. O
receptáculo que de sobremaneira cintila luminescências transformadas em
códices, gestos e trejeitos: o instante crucial para a efetividade de uma
comunicação.
De passo, se
diz que a palavra é o carro-chefe da vida humana e que sem esta nada seria
possível.
A Lei do
Contagio obedece à instância que se distingue pelo enunciado que a pessoa imprime
de inicio, doravante as falas e os gestos traga à beça à aceitação do outro pelo outro sob a eminência de
passar a existir os acordos das idéias. Devém, então, a Lei da Simpatia, como
resposta a esse estimulo o segundo passo a estabelecer o convívio da freqüência
no qual o autor faz uma referência anatômico-estrutural.
De improviso todos estão sentados em torno da MESA 18 não
importando dogma ou convenção social, tornando o espaço “jardim do encontro” e
os sujeitos “revelados do encontro” e que os tornam semelhantes até nas suas próprias
diferenças¹.
________________________________________________________________________ ¹. Em Bérgson encontramos além da memória-lembrança, intuitos formidáveis
em onde as racionalidades não implicam na separação entre razão e natureza já
que é isso que sustenta os motivos de subjetivação e a capacidade de entender a
experiência histórico-cultural peculiar a cada homem.
II.
O Resultado Total de uma Experiência
Única
A MESA 18 tem outros motivos para sua existência: a
exposição dos diálogos abertos e sucintos a analise.
Nos manuscritos, desenhos, fotografias e traços e
outras formas imagéticas dessa experiência única que o autor desse ensaio foi
acumulando como desafio aos seus intuitos filosóficos, literários e
psicológicos em suas duas pastas durante os dez anos de existência da Mesa 18,
eis que tornou possível ressalvar esse quesito à baila: a experiência de
conviver e os traços histórico-culturais de cada um dos revelados.
O autor coloca
a disposição dos futuros leitores (as) todos esses elementos pondo em claro que
muito além de qualquer etiologia da ordem psicológica i.e., clinica, no mais, trata-se
apenas de missivas, uma espécie de correspondência direta em que as pessoas confiantemente,
deixando em mãos do autor deste ensaio para uso expressamente literário sem que
haja qualquer outra motivação ressaltando a ética como valor fundamental que
atiça essa exposição denominada de DOSSIÊ MESA 18.
Para ser mais explícito: dubia in melorem parte interpretari debent.
Inquire o
aprofundamento horizontal da existência dessas pessoas simples, heróis e
heroínas de seu próprio cotidiano. Integram uma vasta vertente psicossocial e
literária, conhecimentos e experiências vindas da vivencialidade dos revelados com o fim-último do
“fazer-saber” sem restrições, mas esteticamente concebível a nuança da
hermenêutica humana dirigido expressamente à sociedade que enaltece os desejos
em detrimento da necessidade. Ainda que, além das necessidades orgânicas e
biológicas existam, de fato, a posteriori
das necessidades emergenciais considerando-as inteligíveis diante do
contexto do ser humano como ser de carne e osso que se sente a si próprio, há
uma outra necessidade que é a de
sociabilização e a da comunicação no
sentido estrito dessas averbações, ressalvando que, viável dentro da natureza
intrínseca de animais sociais, o agrupamento e a verbalização dos mesmos para
troca de informações e ideias não são mais supostos da filosofia, da literatura
e até da psicologia e da psicanálise, mas sim, pressupostos inalteráveis do
contexto humano em decorrência do desejo de evolução.
Haja vista
que diante da essência propriamente arraigada na averbação sociabilidade, nasce
esse espaço ou um espaço como o legitimo espaço de contato inicial: o espaço
urbano e as necessidades psicoemocionais dos revelados. Tendo como palco a rua e a ladeira, os muros que
demarcam os limites das propriedades públicas, o espaço de convergência chamado
de Lanchonete, as mesas e cadeiras expostas sobre a calçada, o que espera e o
esperado, a procura e o encontro, o intuito e a realização final.
Indubitável é que esses resultados são a soma de uma
intensa tarefa de credibilidade e de nível de sociabilidade e de aceitação de
todos, pois do contrario, seria impossível para o autor ou para quem queira se
referir a esse tipo de experiência de terapia urbana uma manifestação de
espontaneidade sem a correlativa força da confiabilidade que o próprio espaço
público em devir possa apresentar.
Embora os analistas saibam que o fato de ouvir é apenas um fato produto da
linguagem humana vindo do contraponto da necessidade de ser ouvido para logo apreender a fala com
todo a contextualidade geográfica que a circunda, o ouvir assume a postura transcendente como inicio e finalidade. A
fala assume a posição de mediadora entre quem lança a mensagem e quem a
recepta. Se a receptação da linguagem pode ser vista através do viés religioso
(confissão), ela também pode ser vista pelo viés do da necessidade de volição
interna do ser no ambiente fora da toda religiosidade, o ambíguo ambiente da
clínica, os espaços urbanos que podem ser desde o interior de um ônibus até o
bar, a padaria e até os recintos chamados de asilos, penitenciárias, dentre
outros.
Charles Melman, um dos principais e mais próximos
discípulos do psicanalista francês Jacques Lacan (1901-1981) em um de seus
textos¹ realça a possibilidade de o
“analista não ficar isolado no consultório alheio às transformações da
sociedade contemporânea, as quais repercutem diretamente na clínica”.
Isso equivaleria também a todos os profissionais das
áreas humanas. Inclusive na própria Literatura tanto quanto como na Filosofia e
nas Ciências Econômicas.
___________________________________________________
¹ Alcoolismo, Delinqüência, Toxicomania: uma outra
forma de gozar; Charles Melman, Escuta, 1992.
Faz-se necessário admitir que praticantes de Terapias Alternativas
como, por exemplo, reiki ou do-in dentre outras manifestações nessa
área, seriam inclusos nessa afirmação dado que a relação do objeto da dependência exclui toda e
qualquer justifica que possa tolher os anseios da sociedade no espelho do individuo.
Um lembrete que se faz necessário acrescentar, de fato
a Terapia Urbana (que preferiria utilizar para diferenciar-la das Terapias
Alternativas) nasce dentro do cerne do conjunto humano radicado em grandes
cidades onde é difícil toda e qualquer circunstância restrita ao diálogo entre
pessoas devido, principalmente, à falta de tempo que assume a forma de
produção, algo tão precioso para um sistema que prega o fim do ócio criativo e
da capacidade de discernimento próprio intimo parceiro da rainha tecnicidade; inflamada
pela propaganda respondendo a estímulos mais bem individualistas do que
coletivos a improdutividade trata-se de sinônimo de complexidade do individuo
beirando os limites do auto-abandono em prol do trabalho assalariado, da
competitividade, do consumo e da urgência de porcas e parafusos para a grande
economia de mercado em vias de desaparecer quando a grande massa urbana
descanse seus pés no repouso da mesma máquina.
Porquanto é
fácil deduzir que faltas não são mais
do que justificativas para que o ser humano não pare de produzir e isto não
mera circunstancia das sociedades no geral, como sim o é a invenção da
lucratividade e o consumo desproporcionado do élan vital humano para garantir as desejos e confortos. A loucura
como matriz da sabedoria irrompe entremeio da correria citadina, das gravatas,
dos ternos, dos aventais operários, dos que vendem, compram, trocam, mendigam e
se chacoalham no ir e vir de passantes exaustos pelo cálice dionisíaco de uma cidade
que imponente se ergue conflitante e simbiótica.
De fato, é
que em um texto como esse, encetar o palco da Rua Augusta tão rueira como a
própria rua que a conforma, corre-se o risco de confundir a associação que
existe entre o mal-estar nevrálgico da sociedade e os modos de entrosamento
entre os mesmos indivíduos que conformam a mesma.
Todas as flechas de Filoctetes atravessam o coração da
cidade e encontram seu ponto final.
“Augusta-me”, diz um rapaz que formidavelmente aparece à tarde
seja ante o escaldo do estio ou ante a gélida ventania, solstícia invernia. Aí
está a MESA 18 trabalhando a full seguindo
o anima da grande cidade a todo vapor
movendo seus tentáculos em busca de sua sobrevivência. A MESA 18 está longe da
manutenção do sistema, pois ela não admite sistemas. Ela é implacável diante
das inexecráveis mudanças da cidade e mesmo com os ventos assoprando contra sua
própria vontade: fluctuat nec mergitur.
Então Augusta-se
em conjunto praticando o devir urbano onde os sábios e os intelectuais muitas
vezes não aparecem e em onde todos são sábios e intelectuais num dado momento. E
é tanto melhor assim inclusive para o autor desse texto para evitar futuramente
confusões da ordem cartorial; registrar o significante das Ciências
Psicológicas como tal havendo de se revestir de protagonista desta ordem
cientifica considerando que as Ciências Psicológicas são a junção total de
todas as partes constituídas pela Historia do Homem e nunca separado ou
delineado para especialidades infindas. Não é impetrante para nosso tempo de
reificação e obcecada luta pela celebridade efêmera ou a fama em cinco minutos.
Ditas
Ciências nascem no leito do grande Oceano da pré-história geológica da Terra,
passando pelo Tempo Social, a História da Arte onde se contempla o individuo
comum entranhável em seu cotidiano,
atravessando nitidamente os conceitos da física tradicional, moderna e
pós-contemporânea findando seu curso após o oblíquo trespassar pelas Ciências
Econômicas à quinta dimensão em onde já somos capazes de manusear as energias
flutuantes sem a grande necessidade de aparelhos tecnológicos ou objetos de
barganha.
Logo que o
dinheiro se transformou no ser supremo de toda atividade social, supra-sumo de
todas as coisas, ínclito objeto de troca; o dinheiro como passaporte ao
universo das sociedades como todos os elementos que a constituem, trouxe
consigo outros paradigmas irresolutos e um leque gigantesco de dicotomias e
ambigüidades, indecifráveis pelo contato que há entre o público e o privado; contraponto
de todo objeto de estúdio do nosso século, tema caríssimo para as instituições
mundiais e raiz disfuncional ao respeito da angustia humana, fatores
psicoemocionais latentes nas populações como resultado do embate entre o ter e o ser.
A solidão
imposta por todo esse processo evolutivo das grandes sociedades burguesas,
nutrida pela Revolução Tecnológica e alavancada pela mass media não é mais que a entranhável forma de ver o que nos entorna
abrindo passo ao medo e aos sentimentos hostis. Abalançam-se sobre as
mentalidades mais pobres capazes de substituir o velho axioma da liberdade por
um pouco de segurança.
Sabemos que o ambiente
urbano é um hiper-espaço que se amostra como adjacência e não como “lugar de
todos”, todavia, um não-lugar. A MESA 18 justamente nasce do conflito
refratário entre as duas forças oponentes, a saber, a alienação e a
emancipação. Não é necessário invocar a mântica para entendermos isso.
Não deve se
prospectar qualquer tipo de observação, pois sobre essa problemática que se
alastra desde há cinco séculos não se faz mais do que especular ou soslaiar¹ e, segundo a óptica de quem escreve,
cada um engaça novas formas de sociabilidade, ora um grande desafio e,
principalmente, aos estudiosos e leigos como também aos observadores da
natureza humana. Não é uma obrigatoriedade, mas um valor ao que se deve dar
efeito e, conseguintemente, dar-lo a conhecer para ataviar a cosmovisão.
Ponto aparte, se amuarmos de braços cruzados
não faremos mais do que lamentarmos tudo isso sem pensar numa atitude.
___________________________________________________________________________
¹ O autor ao
fazer uso da palavra “soslaiar” quer
dizer exatamente o significado e o significante desse termo; confundido com
olhar de lado, pode ser, no contexto desse ensaio, a forma excludente com que
se tem apontado a Rua Augusta, o que não passa, obviamente, de procedimentos
que alavancam o preconceito e o desconhecimento acerca do que a rua esconde
muito além das indicações.
III
Cada desenho,
cada traço, cada fotografia, xilogravura, nascituros esboços ou até mesmo, as
mais simplérrimas linhas deixadas
pelo revelado como que jogadas ao
azar estão sob a mira da conotação psíquica em detrimento de uma realidade
insuportável. E, sem querer recalcar a sabendas da mãe repetição e seus filhos,
a realidade não é tributária da Historia,
mas sim, da Historia Individual que tem a ver tanto com as Leis da Simpatia
e do feitiço das freqüências. Cada um tem a sua freqüência e se alia àquele com
a qual se identifica qual faísca ou fosforescência como já dizia o filósofo
Bérgson. A diferença de que a MESA 18 não possui sequer uma única freqüência;
advém do que se pode denominar o viver-ali
dentro de toda a esfera participativa social que incumbe aos que garantem
sua permanência transformando um simples espaço urbano demarcado pela sua
geografia e ao ente institucional ao
qual se atrela, isto é, um estabelecimento comercial público, em um ponto de
encontro democrático e versátil.
Sucede que
nas grandes Metrópoles é fácil poder se conectar a uma das tantas freqüências
espaciais existentes sem que isso denote qualquer sentimento de culpa ou
vergonha. É por isso que se deve advogar pela manutenção da pluralidade humana
dentro de um ciberespaço intra-sideral que a compõe, inserido em um mundo
equivalente ao Nada, embora o Nada seja algo como o vácuo atômico.
A MESA 18
possui uma alta freqüência ainda que sombria se percebermos que a acepção sombria tratar-se-ia unicamente do lado escuro
da Humanidade ensamblada ao interior de um único ser. E ela, a MESA acaba onde transcende a atenção do ser como tal e, portanto, fadada a ser
investigada por muitos entusiastas da observação da natureza. Lembremos que há
diferença entre o entusiasta e o profissional assim como há uma ampla diferença
entre o autodidata e o entusiasta. Enquanto o entusiasta incessante à procura
por respostas, o autodidata com a sapiência que lhe é própria rapidamente
resolve as equações do labirinto e o profissional; tende a mensurar-la a partir
dos dados que possui muitas vezes, sem critério e com a incoerência própria de
uma ciência determinista, despida do intuito natural de encontrar uma resposta
sucinta à vivência do instante.
Quem escreve isto se declara abertamente autodidata
com doses moderadas de entusiasmo, mas com a disciplina de um profissional.
Aliás, isto a modo de reflexão, porque os tempos do universo da mensurabilidade
das coisas e dos movimentos humanos estão chegando ao seu fim dando passo à
valorização ao pensamento humanista, ou melhor, ao equilíbrio entre as duas
ciências assim como o equilíbrio certo entre os dois hemisférios cerebrais.
Se existe
algo de político em tudo isso é porque a MESA 18 também é política na sua
significância mais profunda: o acordo comum entre associados. Chegar a um pacto
em onde a multiplicidade de pensamentos e sentires sejam objeto de comunicação
sem nenhuma base jurisprudencial ou que denote qualquer tipo de juízos
subjetivos ou atrelados às normalizações sociais, convenções, aliás. Deixa de
ser uma simples mesa de reunião entre os revelados
com a livre-expressão que lhes é bem-comum, livres de julgamentos e
preconceitos.
Somente assim é possível fundar uma MESA18 em qualquer
lugar respeitando as leis da linguagem e do ethos
daquele lugar, sendo que aquele ambiente deve ser visualizado por aquele
que conhece o lugar em todo seu espectro pela propriedade que possui pelo
simples fato de ser seu lugar; efetua
seu intuito, freqüenta com assídua vontade e age conforme o lugar e as pessoas
que lhe rodeiam.
Cada espaço
possui sua linguagem própria assim como cada ser humano tem a sua linguagem
independente de cultura, nação, animosidade, História, crenças, etc. Cada ser
humano possui seus próprios movimentos, o significante ao quais os lacanianos
se referem, a gestualidade simbólica que identifica o seu objeto misto de realidade e fantasmagoria. Cada ser humano
possui sua linguagem social e seu repique coloquial dependendo das
circunstâncias em que se encontre o individuo e o tipo de identificação social
na qual se encontra inserido, todavia, pertencido.
Outrossim, notadamente os leitores verão
n’alguns manuscritos a grande diferença de pulsação à hora de pegar a caneta e
imprimir um dizer, um epíteto, um pensamento que vem ao azar e se inscreve como
pintura rupestre não mais sobre muros de cavernas e tocas, mas sim, sobre a
superfície lhana e lisa de um papel branco. É a denominada transferência.
Contudo, deve-se ter cuidado à hora de interpretar a mensagem, pois é comum
cair em redundâncias ininteligíveis, criar expectativas falsas à primeira
impressão, mecanizar a informação ou simplificar muito o transfunde da
mensagem.
Cada ser
humano tem sua escrita assim como há povos que possuem seu próprio modo de
transcrever seus dialetos, idiomas, sua dialética. Todos esses detalhes jamais
podem passar alto, pois a quem interessa um papel com traços, letras ou
palavras escritas naquele momento que será único e inexecrável? Se pensarmos
que cada ser humano pode ser biógrafo de si mesmo, escrever a própria historia
de sua vida pessoal notaremos que cada um terá seu próprio modo de se expressar
em letras e cada um terá uma visão de mundo e uma história diferente. Quiçá por
isso haja tanta necessidade de escritores já que eles se inscrevem num contexto
sócio-histórico e designa o outrem como
co-participe desse momento que será único e sucedâneo.
No âmbito filosófico encontramos o espaço MESA 18
respondendo constantemente à evolução psicoemocional e à transcendência
espiritual com a boa disposição à flor da pele já que se a epiderme é prima facie diante dos estímulos do
mundo externo na medida em que o homem se insere e interage, todo o resto do
organismo biológico responde ao uníssono; todo o complexo humano emite energia
reciclando-a e fisgando-a, ao mesmo tempo, de modo que pareça que o vive, revive e persiste em energizar a
vida. É claro urbi et orbe pessoas
que tendem a divinizar a vida até o extremo quando na verdade elas querem o fim
dela; quem reitera e apela ao fim do mundo ou amealha os pontos da existência
com obcecadas propagandas alarmistas sobre tragédias humanas ou catástrofes
naturais naturalmente ela reproduz inúmeras vezes seu desejo de desaparecer da
vida.
E a vida persiste!
Aqui a vida não é a vida como espontaneidade da
biologia e nem é a vida com o seu formato metafísico e alheado a todas as
circunstâncias fenomenológicas; a vida se mostra no aqui e agora na sua intimidade sucedânea esquecendo o passado. Tal
vez o desígnio filológico do termo saudade
ensambla todos os tempos: passado, presente e futuro numa simbiose
magnificente regida pela emancipação ao qual o homem aspira e que se lhe
apresenta comumente nos momentos de trance, evocação, levitação e momentos de
intensa emoção e sentimento.
Há que tomar
conta duas perspectivas no que respeita às emoções. A primeira é que a busca de
emoções humanas requere contato com o externo para externalizar; a segunda responde
ao estimulo momentâneo num devido lugar em contato, igualmente, com o externo,
porém internalizando-o.
Daí devém a memória presente que da o espaço à
preterida memória em onde a situação do passado causa graça ou chama à reflexão
tendo a certeza que no futuro outro antecedente possa voltar a remeter ao
presente vivido projetando o passado misturando-o quantas vezes for possível
com exultação de poder viver essas emoções quantas vezes for necessário, com
ímpeto juvenil, o carinho, o cuidado do outro, a sanação. Se o tempo é um juiz implacável e imparcial, o espaço é
sacralizado pela cura que exala.
Nada além do
tangível e digno de reconhecimento.
Ainda há
coisas que se deve tomar em conta no tocante à MESA como residual no sentido de
mesa, tamanho, formato, condição geográfica, uso destinado à colocação de
objetos e quinquilharias, função esta que muda de espaço para espaço, de
recinto para recinto. Uma mesa de bar, restaurante, lancheria prospecta seu uso
a que se lhe destina.
A interposição de elementos constitutivos como a
xícara de café, copo de água, garrafas, latas, pratos, pires, cinzeiros,
fósforos, isqueiros, telefones celulares, bips,
tablets, laptops, guarda-chuvas (embora seja de exclusividade do apoio da
cadeira costuma suceder um intercâmbio de interposição), bolsas, guardanapos,
paliteiros e fazendo jus à causa da MESA. Misturam-se elementos que identificam
seus revelados como papeis, livros,
flores, bonsais, souvenires, textos impressos até elementos de feiras de
antiguidades dentre outros que fazem parte dessa imensa multiplicidade de
pensamentos humanos que combinam harmonicamente, se misturando irrevocáveis e
afoitos, entretanto, cada elemento chama a seu identificado por causa de uma dada ocasião em que a toma para si.
Esses
elementos em nada atrapalham a livre realização de feitos e fatos como muitos
intuem deliberadamente sem saber mesmo o fim-último a que se destina a reunião
dos revelados. Notemos que de antemão
haverá julgamentos e sentença repreensível diante da magnitude da proposta em
onde uma mesa de lancheria qualquer possa servir de objeto para a investigação
terapêutica empírica; cientificamente fatível e tangível à discussão e análise
da mesma em onde os atores exercem um papel indispensável e ponderado.
A resistência será grande e seu combate será
de exércitos desiguais em poder e força. Uma luz no túnel é o que revela a
situação geopolítica do Brasil como país tropical e em onde o bar, a padaria ou
qualquer estabelecimento comercial em sua contextura líquida e social serve de
espaço de encontro entre pessoas que nem sempre a freqüentam, mas compele ao
consumo de bebidas e comidas; a resposta é constitutiva à sua imagem e
semelhança: onde há pessoas reunidas em torno a uma mesa algo está se tecendo.
O que diferencia um espaço do outro é seu espírito em essência e aparência,
ambas confluindo em direção ao seu fim: a padaria para o café da manhã, o
diálogo com o vizinho ou com o dono do estabelecimento, o jornal, o inicio do
dia; o bar ou a lancheria para os momentos de relax,
distração.
IV
Até aqui uma
visão panorâmica da MESA 18 e do que pode ser afunilado para a obtenção de uma
substância que a hasteie ao cosmos a qualificação que merece: espaço de
funcionamento de uma modalidade de terapia urbana abnegativa e compelida à
Literatura, às Ciências Psicológicas, à Filosofia.
Não se
dissemina qualquer empecilho nesse tipo de atividade que já é referencial em
quesitos ligados ao xamanismo, às terapias grupais como também ao psicodrama e
a arte teatral. Durante toda Historia da Humanidade suscitaram-se encontros
massivos. Assim o Mercado de Atenas como as reuniões nas praças públicas em
tempos da Commedia dalla Arte na Veneza
renascentista. Nas comunidades hippies como nos rituais mágicos dos Bororós é
possível encontrar formas primitivas de reuniões massivas com um destino
especifico havendo de complemento danças, cânticos, mantras e troca de
informações com uma dialética na qual todos ensinam, todos aprendem, todos apreendem.
Jogos lúdicos fazem parte do encontro como a livre exposição de pensamentos,
sensações, troca de experiências, contar histórias ou narrativas, recitar
poesias, tocar um instrumento, gritar, seguir um ritmo: brincar com a vida
sucedânea que se da nesse aqui e agora provocando
o riso e a dor sem que um (a) nem o outro (a) sejam definidos (as) como liames
causalísticos ou conseqüentes.
No entanto,
existe o simbolismo da entrega: entregar o que? Para quem? Com que fim? Aquele
que representa a MESA 18 é a figura-chamariz; é ele quem recebe os revelados não com bumbos, pratos e
campainhas, mas sim, com a sua própria e clara presença. Não dita às regras de
chegada, mas deve ter em mente sempre uma atividade a realizar, a definir um tema,
o palatável que deve ser compactuado entre os participantes na medida em que
vão assomando seus rostos.
A
figura-chamariz não esquadrinha a analogia intima entre o macro e o
micro-espaço; jamais deve provocar interdição em quem queira que esteja a
visualizar a mesa e que deseje participar embora haja quesitos naturais de
convivência que se devem ser respeitadas, pois do contrario, seria a
interposição do caos. Ainda que exista o caos que está em cada um, mas um caos
que não é catástrofe nem indisposição; não é um terremoto seguido por tsunami.
É o caos natural das coisas, o caosmos,
ou seja, o produto final entre o homem e a sociedade e seu nível de reciprocidade.
Tal desfalque possa ser a simples projeção de quem se acerca indistintamente à
Mesa como se houvessem indistintamente duas cadeiras numa esquina concorrida de
uma cidade entre pessoas e correria e, de súbito, alguém a enxergue como uma intervenção urbana ou diferentemente um
pequeno espaço convidativo para o descanso dos pés, incite à reflexão ou ao
diálogo com um interlocutor.
Mas aqui não
é uma intervenção, sim o é a disposição natural do espaço físico para um fim
estabelecido: a mesa marca a divisão natural entre duas cadeiras; a mesa não
apenas para duas pessoas senão para quem quer fazer dela o sucedâneo prazer de não-a-sós, sentir-se acompanhado e
estimado por aqueles que compartilham esse sucedâneo momento de intensa busca
de si e a busca pela sociabilidade harmônica entre seres humanos.
Ó se as
pessoas soubessem de seu estimado valor em tempos de extrema urbanização do
ambiente planetário, quanto de graça e de júbilo entre pessoas haveria a tal
ponto de assombrar-nos a todos em comum-união!
Cabe sempre a
alguém anunciar a descoberta ou fazer dela ponto de referência. Por isso,
sempre há que expressar aquilo que nos é de propriedade e nunca sobre coisas
que apenas sabemos pelos livros e nunca o vivenciamos. Por isso há a necessidade
de escrever, publicar, propagar as novas idéias que homens de ontem e do hoje
fazem emergir como por entre os dúbios véus, cuja alvura invoque em dado
momento a veracidade porque a Filosofia deve ser a resposta, a Psicologia a
nudez da alma e a Literatura seu registro histórico.
O autor tem
certezas que são dignas de mencionar como, por exemplo, a certeza de que em
todos os espaços convencionais do ambiente social haja pessoas capazes de se
transformarem em figuras-chamarizes; reivindicando o momento como essencial à
capacidade de convergir e quando desprovido de toda razão matemática deixe
abrir a flor da harmonia para que as relações sociais sejam prazerosas tendo o
mesmo viés curador de uma sessão de xamanismo, de ingestão de substâncias que
alteram a consciência para o mesmo fim. Ou então como o psicodrama em onde
atores e atrizes se misturam causando um vis
a vis de redenção e autogestão da tríade mente corpo e cérebro. A
figura-chamariz tem um papel preponderante nesse jogo: tecer ou adentrar nos
fios de Ariadne.
Oportunamente
cabe assinalar que há energias freqüenciais dispares com a energia que paira na
MESA 18 observado não por quem apenas faz de figura-chamariz, mas sim, pelos
componentes que a acastelam dentro e fora de si. N’algum dado momento as
energias freqüenciais díspares não farão parte do fluxo aglutinado por cima do quantum da MESA que se estabelece em
qualquer tempo-espaço obedecendo piamente às regras da matéria e da antimatéria
se for o caso.
A MESA 18,
sua ubiquação, o fim que permeia seu entorno, as regras de convívio e aceitação
dependerão unicamente da energia frequencial na qual está disseminada. Cumpre
uma função motivacional que vai muito além do circunstancial, do acidental ou
incidental numa oscilação de variados elementos que chamam uma ação conseqüente
como sentar para beber um café para tratar assuntos tocantes à dialética e seu
oposto: a reunião de varias pessoas que compartilham outras bebidas que alteram
a consciência, reivindicando a loucura que precede à Filosofia e a Arte.
Além do mais,
uma Antropologia que visa o espaço social e o amplio leque de possibilidades de
convergência com a fiúza de inquirir ótimos resultados em decorrência das
transferências e dos insights que
procede da comunicabilidade. No
entanto, expectativas a parte: em todo relacionar-se há abismos implicantes;
todo relacionar-se é constitutivo do ser e
do estar e proporcional às
necessidades. Necessidade e prazer como Bergson¹ já ditava no amplo espectro
dos significantes que envolvem a típica frase que bom que é estar junto a vocês, proferido muitas vezes por vozes
saciadas de regozijo. Trata-se do envolvimento das amizades, o companheirismo,
a mutualidade, a aceitação.
Quiçá a
Consciência Mítica ao qual se refere Joseph Campbell seja justamente o elemento
subjetivo do método da razão mítica no qual todos estão rodeados por mandalas
espirais, energia circulante em torno à MESA; logo, o mito como elemento
objetivo do método que fundamenta a razão mítica. O mito que se funda sobre
alguma coisa representativa ou um corpo-personagem representativo, também,
oclusivo. “O homem tenta a reconciliação
de sua consciência com a condição prévia de sua própria existência (...) a natureza
monstruosa desse jogo terrível que é a vida”³
Temos a
função cosmológica: o homem tenta uma resposta para a sua necessidade de dar a
si mesmo uma imagem do universo, para que possa compreender o lugar onde vive
“função sociológica”: uma forma de manter uma ordem social específica; a
“função psicológica”: como guia ou apoio para sustentar os indivíduos do
nascimento à morte, através das difíceis transições que a vida humana exige.
___________________________________________________________________________
¹. Materia y Memoria, Henry Bergson; Cactus, Serie
Perenne, Buenos Aires, 2012.
².
Myths, Dream and Religion, Joseph Campbell, 1970.
³. Ibidem.
Uma quarta
função que Campbell enuncia é a de “iniciar
o individuo nas ordens de sua própria psique, orientando-o para o próximo
enriquecimento e realização espiritual” Esta função é uma das mais
importantes das funções por tratar-se de uma função que entranha frutos
variados dependendo da disposição e da atitude do individuo em relação ao seu
meio social; de um longo período de imaturação
e dependência dos indivíduos deforma prolongada e exacerbada pela sociedade
industrial, tecnológica, mercadológica cujo meio ambiente urbano aguça a
solidão, à desconfiança e às exigências do mesmo meio forma o autômato ou o
maquinal, como se refere a esse tipo de fenômenos o filósofo Gilles Deleuze¹ e
das quais o homem consciente de si e do meio insta à tendência à libertação
daquilo que sabe que lhe causa moléstia.
De outra
parte uma pergunta essencial tocante a todas as relações humanas citada por
Bergson numa Conferência² e que também é de vital importância durante essa
inquirição: “¿no vemos que nuestras
acciones se vuelven inconscientes en la medida en que el hábito las convierte en
maquinales?
A repetição é um assunto de invólucro dúbio e ao mesmo
tempo, claro como água que desce da montanha; nela encontramos um fim e um meio
de levá-la a cabo. Todo dia acordamos, tomamos um banho, passamos o café e nos
destinamos às nossas atividades rotineiras, nossos afazeres. Há uma necessidade
das glândulas que incitam ao movimento, à atividade humana seja o trabalho, o
estúdio ou a conclusão de uma tarefa seja da índole que for, porém instigando
ao principio de realização do ser e
ao principio do prazer que traz essa mesma realização. Não é de assombrar
ninguém que quando se ganha um prêmio pelo esforço e dedicação a alguma coisa,
esse triunfo seja compartilhado por quem alentou a finalidade singular que
ensejou tal atividade levada a cabo. O desejo de muitos é o desejo de um
formando uma simbiose, uma mandala e uma única finalidade: a finalidade do isto, do aquilo.
Durante toda
a exposição de Campbell notamos que o trabalho da MESA 18 é seu próprio fim
através da mesa como elemento social e os micro-elementos que a compõem a mesma
como complemento a essa finalidade que não é outra senão fluir pessoas e coisas
nessa mandala-espiral que se respira no micro-espaço onde se depara a
mencionada MESA 18. Se esta é um mito ou não é algo que está intimamente ligado
ao sentir do revelado e nunca
enlevado ou imputado pela figura-chamariz, pelo terapeuta, pelo xamã, pelo
interlocutor ou por quem quer que seja o guia principal da reunião.
Ora, que é
uma mesa? Um apoio, um auxilio, uma pauta de revelação como o Oráculo ou um
ponto de reencontro social como o Mercado de Atenas? O que tornou a MESA18 mitopoiesis dentro de uma ordem social
vigente? Qual é o discurso que a MESA 18 tem como discurso do homem, mas ligado
às forças sociais que o manipulam? A MESA 18 pode irromper feixes de luz entre
os milhares de desesperados de nossa sociedade compelida ao flagelo mecânico e
à coisificação? Qual é o seu passado e o seu devir? E se a figura-chamariz
deixar de atuar, a MESA 18 tem condições de seguir seu curso, prosseguir sua
caminhada para atingir uma denominada meta?
_______________________________________________________________________________
¹. Derrames
entre el Capitalismo y la Esquizofrenia;
Editorial Cactus, Serie “Clases”, Buenos Aires, 2012.
². “Fantasmas de Vivos” e “Investigación Psíquica”.
Conferencia pronunciada ante la Society for Psychical de Londres en
28 de mayo de 1913. Traducción para la Lengua Española: Paulo
Ires.
V
Famosos
psicodramáticos como Lévy Moreno, Carlos Cossio e Carlos Menegazzo e que hoje
são muito estudados por pesquisadores, estudantes e terapeutas, em seus legados
deixaram um rasto de um quê sobre as terapias. Por um lado temos o individuo
dissoluto como num copo de água e desde onde é possível entender todo seu
funcionamento mesclando doses variadas da Filosofia, da Psicologia, das
Ciências Naturais como também da Medicina, da Antropologia, da Etnografia e das
Ciências Sociais no geral. De outro, a necessidade que o faz ser um ser sociável embora filósofos como
Hobbes dizia que o homem não foi circunscrito para o meio e Voltaire logo
incite à culpa do meio pelo que o individuo é.
Especulações
à parte. O homem no limiar de sua própria condescendência deve ao meio o que
ele é. Externalizar sua proposta de vida atrelando-se às instâncias normativas
de uma sociedade que o tornam insidioso diante da condição social em que se
encontra ou um ser alienado como sucede com as grandes populações que à risca
seguem convenções, muitas vezes não parte integra de seu ser ou simplesmente, se entrega ao bel-prazer das suas descobertas
diante do mundo que se lhe apresenta hostil, imaginário e impositivo. Há regras
que são produtos da convivência como as Leis que podem criar um ambiente de
civilização e dentro delas certas imposições que os homens seguem para manter a
propriedade privada como cursor e até estatutos de pequenas comunidades que nem
sempre serão aceitas por todos: eis o começo dos embates sociais que
diariamente vemos em grandes e pequenas cidades.
Toda angustia
e alegria humana é resultado de todo um processo social em prol de sua
satisfação individual ou insatisfação. Devém o mito como “fuga metafísica onde
o homem tenta uma resposta sobre o universo para si mesmo dentro de um ordenamento
sócio-histórico específico. O individuo encontrando um apoio deseja estar e ser aceito pelos seus
pares que aí também estão porque apoio, porque desejam estar e serem vistos.
Os mitos
órficos, os mais obscuros e sobrecarregados provém das profundas fendas do
social; portanto a natural conseqüência que advém do mais profundo da psique
humana, o mais autêntico de sua proeminente natureza órfica e dionisíaca
somente é divisível ao nível minucioso de toda observação, da capciosa
comunicação; seus fundamentos amplamente descritos e conformados na lógica da
sociabilidade, cume central para esse tipo de investigação, nos condena
risivelmente a sermos animais sociais com as desculpas e ressalvas devidas aos
seguidores de Zaratustra e outros eremitas e beduínos. Vemos que eles também
seguem um cursor e no fundo um viés de querer participar de algo que é de
todos.
Tal vez as
tribos mais longínquas da civilização ainda tenham esse intuito de estipular um
senso comunitário, coletivo embora suas leis estejam distantes do nosso modo de
viver ocidentalizado. Não deixam, por outro lado, de eles serem uma sociedade
com suas leis e normas próprias, muitas que assombrariam a qualquer cidadão de
Paris ou de São Paulo.
Essa
constituição que permeia os limiares do universo órfico e dionisíaco que podem
restaurar o “homem primitivo” se encontra presente nessas reuniões de MESA 18.
A grande carga de pathos que surgem
com as demonstrações dos indivíduos em torno à mesa funde a capacidade de
sociabilidade consigo mesmo e com os demais. Pessoas com profundos problemas de
convivência com o tempo deixam de serem-no dadas às condições que se geram; vai
depender tanto de quem comunica a existência do espaço supracitado e da abordagem
do interlocutor, a pronta aceitação.
Mas aceitação
em contrariedade com adaptação que os psicólogos contemporâneos a situam como
fonte de todas as disfunções psicoemocionais e, ao mesmo tempo, a mais aplicada
à interação com o outro na vertente de Eros possui seus encalços. Entendamos
adaptação como cursor obrigatório de todo ser social: uma pessoa inadaptada,
segundo os ditames dos psicólogos contemporâneos, significaria a falta de
continuar a seguir o cursor social, confundido como anti-social ou misturado-os
com os ditos alienados: nada claro nem para a Medicina, nem para a Neurologia e
nem para a Filosofia.
Ora, a aceitação não é obrigatoriedade de
valores já que se destina à dita natureza das decisões, a liberdade de decidir
com quem quero estar e com quem quero partilhar a decisão de estar. Ora, a
adaptação e a tolerância são acepções do mesmo sentido, mas que não cumpre o
mesmo fim: enquanto o adaptado segue à risca a convenção social sem
questioná-la, de outro flanco, o tolerante a tolera, se adapta, todavia, não a
aceita. A morte de um ente querido é aceita pela própria regra da natureza
biológica de qualquer ser vivente, mas torna-se intolerante com o fato de que
esse ente querido nunca mais estará entre seus pares e, por tanto, não aceito.
De
conformar-se com a ausência de um ente querido isso é fato para lá das Ciências
Naturais, pois não é natural ou inatural
conformar-se com a condição de perda, embora seja aceita a circunstância e
embora seja adaptada a uma realidade cotidiana. Porém a intolerância com a
realidade factual de natureza de todos os seres vivos persiste através dos
tempos, a fosforescência continua que faz lembrar a perda desse ser por um
conjunto de fatores incluindo até a própria cinestesia.
Na MESA 18 a tolerância funciona como um
ponteiro de relógio onde se marcam as horas e os minutos de prazer ou
dês-prazer que nos da um encontro. O que se aceita é o funcionamento desse
relógio necessário para incutir dispositivos de coletividade, mas não nos
adaptamos, pois a adaptação funciona como anti-horário e obrigatoriedade não é
regra a seguir. A transcendência do individual ao vinculo afetivo-emocional e
relacional se da por vias expressamente naturais, espontâneas: de nenhum modo
se deve obrigar a participar da reunião a quem quer que seja a pessoa, mesmo
àquela cuja Lei da Simpatia esteja em desacordo com o pensamento; deve-se de
uma maneira ou da outra exigir um ceder para
a aceitação do grupo. Esse ceder de
provir de ambas as partes para a concretização de um consenso e assim poder
determinar a MESA como ponto de restauração e equilíbrio formado por todos em
direção a todos.
O leitmotiv da reunião é o fazer-saber para depois saber-fazer e deixar-fazer; somar e não mais dividir; multiplicar e não mais
somar. Ora, restar como sentido de temporalidade: o que me resta de tempo a utilizarei para multiplicar; multiplicar para
somar; somar para dividir o tempo. Todo tipo de intolerância é banida dada
essa condição, única condição mensurável nesse tipo de terapia urbana seja ela
de qualquer origem: racial, religiosa, de orientação sexual, política ou
profissional. Todo tipo de inadequação pelas instâncias já enlaçadas nesse
texto é despojada de seu próprio intuito até porque por uma razão bem simples:
tornar-se-ia impossível demarcar uma reunião de grupo se há alguém com sintomas
de inadaptação, inadequação já que pela propriedade da lei de freqüências
nenhuma energia flui pari passu com
outra energia que não flui senão quando há sinergia. Afora isso é deflagração.
Com a sinergia grupal devem a aceitação de todos no meio reunido.
Como toda
duvida razoável descansa na pratica não é conforme à disposição do autor
refletir sobre esses temas e sim o é a capacidade de sociabilidade que todos
podemos nutrir em prol de um câmbio de visão de mundo, pois em outro molde
estaríamos recriando a ladainha do sistema capitalista: cada um por si; então
descansamos os pés no sofá da sala onde mora um amigo imaginário.
VI
A figura-chamariz é um identitário da MESA 18 aquele que conhece o espaço: frui, flui e
dispensa seu tempo no efeito catalisador determinante da catarse; comportamento
afável diante do intrincado vazio existencial produto do irredutível que é o
ser humano e o que ele contém dentro de si; abrange o sortilégio compartilhado
que insurge de dentro do indivíduo à fora do mesmo. Um depositário de imagens e
informações que através de diversos objetos há de saber desvendar o que se
oculta trás esses objetos.
A designação de objeto pelo objeto em si trata-se da maneira objetiva de
como se enxerga; podemos acumular objetos sem dar-lhe o devido valor que tem e
se tamanho objeto é tratado como objeto e nada mais não haveria o porquê de
afincar o termo dentro da materialidade a que se implica. Objetos estão sob os
nossos cuidados e não sob a proeminente visão de que o objeto interessa-nos
pelo seu uso e não pelo seu valor. Estamos a título de empréstimo e não sob
circunstâncias de propriedade.
É por
isso que sociedades que coisificam demais
seus objetos (e também as pessoas) acabam incutindo a descartabilidade dos mesmos sem importar-nos se o uso que lhe damos
é justo ou tangível ao que premente designamos por descartável. Não há de se
negar a matéria sob nenhuma razão que compila pressupostos ou dogmas de
estranha procedência. Quiçá o século que nos depara é o século pelo prélio a
favor da emancipação total ao interior do homem sobre as coisas, porém
refratando o elemento coisa sobre o
homem como necessidade condicional e, portanto, o homem responsável pelo uso da
coisa e a finalidade.
Ao
ocuparmos o espaço urbano criamos a expectativa de um tal vez em relação ao Outro que está à nossa frente. Ao sermos
hospedes num lar tornamos todos os elementos constitutivos que a conformam
elementos da nossa casa e, de fato, a
consciência nos faz repensar os estímulos das coisas que estão ao interior do
lar e que refrata nossa vontade de sentirmo-nos como em casa. Do contrario,
tudo o que nos vale é a aparência e esta se desvanece como o sabão na água
dando pouca ou nenhuma importância às coisas que visamos como nossas
temporariamente.
Se uma
máquina solicita um conserto consertamos e não damos as costas para ela, pois
essa máquina é a que nos ajuda a desenvolver uma tarefa dada como, por exemplo,
uma máquina de lavar roupa. O correto e verificar seu funcionamento e descobrir
sua anomalia. Ora, a exemplo de uma máquina de lavar roupa, a máquina humana e
todas suas facetas devem funcionar corretamente; do contrario precisa de uma
observação para descobrir que é o que está a compelir uma anomalia, restaurar a
parte afetada, testá-la e zelar pelo cuidado. Uma forma de amar-nos anos mesmos
para amar os outros. Consertar a máquina para que esta nos dê os frutos
desejados atalhando queixumes triviais, pondo em funcionamento todos os
sentidos e, conseguintemente, usufruir como é devido de todos os ganhos e
dádivas.
Fato é que as sociedades pós-contemporâneas
precisam alternar materialidade e
cuidado contrário a materialismo e
desaforo. Ser materialista nem sempre é sinônimo de barganha, cobiça,
malandragem, esperteza, no fim, egolatria. Ser materialista é, contudo, cuidar
da matéria seja esta objetal ou
humana.
Cuida-se
das pessoas que amamos porque percebemos nelas um outro eu que é nós mesmos.
Cuida-se
da máquina de lavar roupa porque nos garante roupa limpa e perfumosa, garantia
do eu que está apresentável, que
projeta sua imagem à semelhança do que a pessoa é ou se torna. Manter um
ambiente de ordenança e leveza garante a formação de uma personalidade. Afinal,
tudo o que somos é projetado pela imagem e semelhança e se imagem e semelhança
são intuitos da natureza humana, tudo o que vemos ao redor não é nada mais e
nada menos que nossa interioridade exposta ao mundo externo.
Ser
um depositário é ser cúmplice de todo o que é atingido e confidenciado pelas
pessoas; é a junção espontânea do elo que distingue cosmovisão de muitos aos
princípios da ética e da estética tornando-o afável e não belo, pois se o belo
fosse tudo aquilo que desejamos e projetamos muitas das coisas que vemos numa
sociedade não conviria a essa ordem de atributos. Esses atributos respondem aos
anseios de cooperação, busca da segurança em comum, troca de experiências e
informações, a livre-expressão sem nenhuma imposição nem mensuração de
comportamento algo tão de moda no mundo das Ciências Psicológicas, ciências
estas que decaem pelo falso procedimento.
O identitário está em acordo com esses
itens outorgando-lhe o dever legitimo de estar sempre presto a intercalar e
incentivar a reunião dos revelados em
torno à mesa. Uma mesa não é nada mais do que uma mesa, mas o dispêndio do
tempo projeta uma identidade ou fenômeno de igualdade, a equação é igual à mesa
que transcende com seus revelados em
direção à igualdade
Dizemos
que
e
esta equivale à soma de todos os participantes da mesa com ponto de congruência
e confluência, ou seja:
. Na medida
em que mais e mais pessoas se somam a essa cruzada quanto mais identidade e igualdade tanto mais o resultado será junção de todas as partes sob um mesmo paradigma frequencial. Há de
se notar que o termo igualdade tão
gasto pela retórica política do mundo aqui releva outra acepção, a de igualdade
de freqüências em torno a um espaço comum de diferentes ordens tributárias. Em
si o pregão igualdade não serve para garantir a catalisação da sociedade, pois
em termos nem somos iguais e nem temos a pretensão de sermos iguais diante de outro. Ouso dizer que nem somos iguais
anatomicamente e mesmo observando-nos a nós mesmos notaremos impávidos que
nossas cartilagens não possuem a mesma medida e que um pé ou uma mão será
sempre um talhe à frente ou à trás da nossa medida total do corpo.
O apego
a certas ordens que a palavra impinge nem sempre pode ser submetido a analise
da existência embora festejemos a democracia social nada altera a democracia
política e econômica, o que faz confundir termos, acepções ou palavras que em
seu desígnio natural não compele às ordens existentes. Exemplo disso:
utilitarismo não impele que pessoas sejamos
úteis à ordem; identidade nem sempre quer dizer exército ou produção em série;
igualdade não quer dizer eu sou meu
vizinho que é igual ao meu professor. Somos iguais nas diferenças embora
sejam essas diferenças marcantes as que nos faz sermos assiduidade, freqüência,
chegado e no fim, revelado.
A MESA 18 com formato quadrado não expele nada
que o torne supremo ainda que a única luz visível seja a da alternância
conforme a equação disposta na página anterior: criar uma identidade em meio a
uma imensa Metrópole como intuito de formar um grupo de pessoas que, sem
expectativa nenhuma, buscam um devir fixado pela busca de uma existência livre
de angustias, preconceitos, interesses mesquinhos e sofrimentos desnecessários;
toda conseqüência de um feito traz à tona a vaidade,mas nenhum ser humano sabe
em si os resultados de suas ações. Ghandi,
por outra parte dizia que senão fizermos
nada, não haverá resultados.
Porém a
MESA 18 não procura resultados. O que si se busca é o compartilhamento das
diferentes ordens e atributos que demarcam a existência e o devir influenciando
a figura-chamariz e esta aos revelados. A
figura-chamariz participa ativamente em conluio com toda alma, com todo corpo,
com todo resquício de indagação que a natureza humana apraz e jamais com a
sensação do dever cumprido, pois aqui não há metas estipuladas ou visadas à
consagração. Ninguém concorre a ser melhor ou pior; não há o que ganhar nem há
o que perder; não há dignos ou indignos; não se faz presente a decência ou a
indecência ou qualquer tipo de polaridades banais e trifurcas; não temos
nacionalidades, bandeiras, porta-estandartes e nem somos questionadores de
discursos, slogans, crenças; não há o
snob do status social, poder
aquisitivo, barganhas, mensurações a titulo de juiz ou indagador.
Se a
liberdade, na concepção de certas pessoas, é a ausência de limites o termo
desemboca no caos retumbante e o caos está justamente na falta de sociabilidade
de muitos: caos social. Todo caos social recai no advento de um poder
constituído que em si transforma-se numa falácia produto da intolerância e a
imersão dos modelos de poder que não se coaduna com o sentir das massas, isto
é, a hibridez da ocupação do espaço urbano que é a imagem e a semelhança de um
poder seja qual for sua índole. Impele ao complexo sistema sócio-econômico no
qual todos estão imbuídos de uma ou qualquer maneira; por tanto, nem há como
segá-lo por outra arregimentação, não há nenhuma revolução, nem somos
guerrilheiros de nós mesmos, compulsivos a manter um disfarce que diz menos do
que somos do que devemos ser.
Bem
dizia o grande poeta Fernando Pessoa: “desconhecer-se
é errar, e o Oráculo que disse ‘conhece-te’ propôs uma tarefa maior que as de
Hércules e um enigma mais negro que o da Esfinge. Desconhecer-se
conscientemente, eis o caminho”
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