sexta-feira, 12 de setembro de 2014

POUCAS & BOAS - "Nobre Macaco" - por Tito Oliveira

Por Tito Oliveira - "Retrato Para Documento" - acrílico sobre tela -
80x80cm - coleção particular - Salvador - 2005
Conversava com alguns amigos sobre a alcova que acolhe a desorientada torcedora, protagonista do escândalo onde chamou o boleiro de Macaco. E cheguei à conclusão de que não haveria insulto na ocasião se fosse apenas compará-lo ao nobre primata, uma vez que tal espécie se faz mais espirituosa do que nós Homens, presumo. 

No entanto não caberia a expectativa sobre tal consciência ser inerente ao goleiro da equipe de Pelé. A aranha sofreria menos se assim fosse.

O agravante mesmo residiu no enunciado de um preconceito latente e entranhado na sociedade brasileira.

Para aqueles que não entendem o valor de um voto eleitoral, ainda que vergonhosamente provido de inciativa não democrática, não esperarei que entendam o que escreverei agora em poucas linhas. 

A mesma sociedade que apoia a moça afirma a escolha numa candidata como Marina Silva apenas para sabotar a expansão do atual governo. Fala que esboça, veementemente, natureza "imatura" sobre a opção que lhe cabe. 

Marina, até as eleições próximas, contém a pior das epidermes, pois tornou-se o novo boneco de madeira político do tal projeto neoliberal. 

Ou, ainda mais obscuro, tinha a candidata do PSB campanha escorada num pronto texto de preservação ambiental e agora possui tons de verde-musgo com seu programa de diretrizes que visa a desativação da exploração petroleira do pré-sal e do Programa Nuclear brasileiro, exigências claramente imperiais escondidas no discurso "ecologicamente correto". 

Quer dizer, alegar que não houve mudança no Brasil nas últimas três décadas é desconhecer a história do país, o que indica grave estado de alzheimer coletivo no eleitorado nacional. 

Mas infelizmente é o que ocorre por aqui. 

Sabemos que a situação não é boa e que muita coisa precisa mudar. Como bem disse Chico Buarque, em outras palavras: éramos um projeto de república com o valor de chinelo barato governada por militares ditadores que estimavam o cheiro de cavalos, desprezando simultaneamente a lamentável condição de seu povo, hoje somos, ao menos, uma república em desenvolvimento onde este, o povo, começa a insinuar-se, ainda que pouco perante sua necessidade. 

Embora tenhamos que conviver com o desaforo do apoio a essa senhorita de estirpe duvidosa em seu caráter preconceituoso, se faz possível assistir ao circo falido onde a estupidez é apresentada em tempo real para tirarmos nossas próprias conclusões sobre no que realmente consiste a sociedade brasileira. 

Uma vez opiniões divergentes, movimento. Se há movimento, há transformação. 

Picasso disse, certa vez, que o amadurecimento de um pintor teria início quando este entendesse seu tempo na execução da pintura que concebeu no imaginário. 

É certo que americanos e australianos, por exemplo, nações tão jovens quanto a brasileira, possuem, em meio a seus problemas, posições indiscutivelmente mais privilegiadas do que a do Brasil em diversos aspectos. 

Isso certamente se deu onde cada um dos respectivos países planejou as soluções para suas expansões em caráter de civilidade e condições básicas de sobrevivência para suas sociedades.

Naturalmente, o plano emergiu no caule da boa educação e das boas condições de saúde, condutores indispensáveis para a forte estrutura emocional e econômica de uma nação.

Nota-se, obviamente, que nada na existência será capaz de coibir a natureza catastrófica do ser humano, portanto, ainda que tais países contenham consciência de largas costas, a mesquinhez residirá em suas espinhas apodrecidas. A diferença encontra-se nos doutores que destas cuidam. 

Sugiro que reflitam melhor no dia 15 de outubro. A situação não está boa, fato, e situa-se distante de assim estar, porém já encontrou-se mais grave. Assim sendo houve evolução. 

Para pensar em mudança de gestão, as propostas na oposição deveriam ser mais plausíveis e minimamente ancoradas na continuidade do que está funcionando. Não é o que estamos escutando.

Nas brigas de egos partidárias o único perdedor possui um nome com um artigo que o indica: O Povo. Já o sorriso, em meio a triste situação, será do Macaco, que vive na irmandade de seu bando.

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