"Cidadão Kane", de 1941 e de título original "Citizen Kane", é a mais absoluta prova do quão intrigante se faz a genialidade humana.
Com pouco mais de 20 anos Orson Wells dirigiu, produziu e concebeu o roteiro de uma das maiores obras da história do cinema.
O filme foi vagamente baseado na vida de William Randolph Hearst.
O início de sua trama se dá com a morte de Charles Foster Kane, então editor da revista New York.
Logo um grupo de repórteres tenta decifrar a última palavra falada por Kane antes de sua morte. Pois o magnata da imprensa havia dito: "Rosebud".
A maestria de Orson Welles adentra o filme conduzida por essa palavra, já que não haveria como saber se Kane estava sozinho no momento em que a pronunciou.
O diretor construiu um jogo de intrigas em decorrência do mistério enunciado já na introdução do filme.
Sabiamente, ultrapassou os olhares dispersos com a apresentação de um minucioso detalhe.
Seria, hipoteticamente, igual a nós, enquanto público, permeando a notícia e fossemos vetados de divulgá-la.
O que, naturalmente, demonstra uma profundidade intrínseca ao filme logo em sua primeira cena.
Como uma ressalva, nos é dito: “Preste atenção em mim o tempo inteiro, porque nada aqui está por acaso, tudo tem seu significado, seu valor”.
Absolutamente, "Cidadão Kane" não deve ser meramente assistido, mas apreendido como o estudo do caso.
Quando não se espera, um carretel avassalador de notícias revela a vida de Kane para a população de massa americana.
Desde então suas recordações são a nós apresentadas enquanto desdobramentos que descrevem a trajetória até a morte.
Em paralelo, a imprensa tenta encontrar pessoas intimas a Kane, ao longo de sua vida, tentando obter informações a partir destes que imprimiriam algum sentido à palavra "Rosebud".
Uma das cenas mais envolventes do filme encontra-se em sua parte inicial, na mansão de Kane, chamada Xanadu.
Nesta existe uma placa que diz: "não invada". Pendurada no portão exterior.
Um tiro perdido surge de um ambiente escuro e sombrio, insinuando que o próximo, talvez, definiria o rumo da vida do Sr. Kane.
Um homem que de tão aficionado por poder fez com que tamanha intensidade o levasse do topo da pirâmide ao fundo do abismo.
É possível, para amantes da sétima arte, perceber a influência de "Cidadão Kane" em muitos filmes contemporâneos, seja por seu estilo de direção ou narrativa. Fato este que imortaliza o extravagante Orson Wells.
Seu trabalho de câmera e iluminação, habitados na regência de uma trilha sonora densa e sugestiva contribuíram para tornar "Cidadão Kane" um dos filmes mais completos da linguagem cinematográfica.
Orson Welles se faz digno de todo mérito creditado a partir da realização desta obra.
O diretor é o personagem e produtor de uma espécie de "One Man Show", ainda muito estimado no contexto contemplativo das salas escurecidas.
Ouso dizer que, enquanto teor artístico e cultural, é um filme necessário em toda avidez intelectual.
A simbologia inerente a "Cidadão Kane" possui dimensão tão vasta que o exime da discussão sobre seu caráter original. Porém é preciso dizer sobre a dificuldade em decodificar tal significância metafórica em meio ao dinamismo de suas diferentes cenas, no entanto de fácil reconhecimento em corpo desbravado na totalidade.
Entre as cenas mais simbólicas está o prenunciamento de quando Kane encontra-se no topo da escada e é informado sobre ter perdido a posição de magnata. Descendo os degraus registrado por um plano sequência de uma câmera que o captura em formato de espiral, aludindo, simultaneamente, o descontrole recorrente em sua vida.
Kane foi majestosamente interpretado por Orson Wells, personagem acintosamente dramático. Em simultâneo, dirigiu com igual maestria seu elenco, onde foi correspondido com a precisão da seleção por este realizada.
Esta obra possui características que deve ser campo de pesquisa para a idealização de todos os demais filmes a serem produzidos. Sua relevância simbólica, a direção de elenco, texto inteligente e envolvente, tomadas de câmera extraordinárias, técnicas de iluminação e sonoplastia justificam a sugestão.
É preciso assistir a este filme ao menos uma vez em tempo de vida, pois tal ação beneficiará o expectador enquanto cúmplice de um dos mais contundentes filmes americanos de todos os tempos.
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