sábado, 18 de outubro de 2014

POUCAS & BOAS - "Segundo Eles, Utopia Não Existe" - por Tito Oliveira

Por Tito Oliveira - instalação da série Composto De Um Tempo Documentado
- "Catarse" - luminárias de cabeceira sobre cama - dimensões variáveis -
Portugal - 2013 
Em meados de 2013 uma notícia assustava, no bom sentido, presumo, quando discorria sobre pouco mais de 300 mil habitantes fazer da Islândia uma ilha que rompe com a convicção taxativa a respeito da utopia ser mero sonho fabuloso.

Sua pequena nação desafiou o imaginário e deu forma tridimensional à democracia.

Não. Não é o cálice de vinho que degustou.

Aliás, vinho não é alucinógeno.

O que você está lendo é a mais pura verdade já comprovada (pesquise sobre).

O motivo, para quem duvida, não tem lá grandes explicações.

Este é, por sinal, muito claro.

O país foi um dos pioneiros na transgressão da crise financeira que balançou a estrutura econômica mundial em 2008.

Estando ausente na lista negra de devedores a maior parte do tempo, em publicações de veículos de comunicação específicos do assunto em questão.

Dizia-se que, por conta disso, coisas pouco comuns se passavam na atmosfera da pequena (grandiosa) nação.

Entre estas, a situação em que seu presidente submeteu a plebiscito sugestões de apoio estatal a bancos fracassados.

George Papandreou, ex-primeiro ministro na Grécia, foi excluído do governo quando esboçou ideia semelhante.

Na Islândia, sua nação não se rogou e disse com transparência o contrário de pagar as dívidas dos bancos falidos.

Foi um bom bocado além, provocou a prisão dos respectivos executivos e levou a julgamento e condenação o primeiro-ministro que geria a ocasião da crise no país.

Contrariando todo resto da Europa, que passava (ou passa) pelo mesmo declínio econômico. Uma vez que seus executivos, responsáveis pelo ocaso da economia mundial, dirigiram-se às suas casas com bolsos estufados de benefícios pessoais (imagino que um brasileiro lendo isso se sinta familiarizado, sem ofensas).

Não obstante, a "pequena" Ilha decidiu idealizar uma reforma em sua constituição.

É claro que não foi, assim, tão fácil. Já que teve que ser submetida ao crivo daqueles lá que compõem o G Não Sei Quantos Mais Estão Por Sair Do Clero. Porém, acabou por ser aprovada.

Esta, não passou por parlamentares ou juristas, ao contrário, sua concepção emergiu de uma reunião entre 25 cidadãos comuns eleitos diretamente ao posto decisivo.

Durante seu desdobramento, qualquer pessoa poderia opinar via redes sociais. Ou enviando sugestões de leis, ou simplesmente questionando projetos já sugeridos.

Membros do Conselho Constitucional tinham suas discussões expostas ao acompanhamento em tempo real no monitor do eleitorado.

A conclusão se deu numa constituição estatizadora de recursos naturais, que dificulta o Estado de manter segredos sobre documentos fundamentais para o desenvolvimento da hegemonia social no país, criando, contudo, o pilar de uma democracia direta. Onde, para mantê-la, basta a aprovação de 10% da população para que uma lei parlamentar se torne objeto de plebiscito.

Por conta de tal subversão constitucional, o país, em meio a toda xenofobia remanescente na Europa; que por vez potencializava todavia mais sua crise, o país cresceu 2,7% em um ano. Em grossa comparação, o Brasil demorou mais de dez anos para crescer menos que isso economicamente.

Bom, não serei aqui desmedido a ponto de concluir o texto sem fazer a mais importante das ressalvas: o maior responsável por tão relevante feito foi uma sociedade educada, esclarecida.

Sem mais.

Nenhum comentário:

Postar um comentário