segunda-feira, 27 de outubro de 2014

PROVOCAÇÃO - "Diabo Espirituoso" - por Tito Oliveira

Por Tito Oliveira - objeto-instalação da série
Composto De Um Tempo Documentado -
"Embalagem Tetra Pak" -
pote de vidro, boneca de borracha -
água, óleo, pigmento torneira de gás, solda -
17x55cm - Portugal - 2013 
As eleições no Brasil, antes, eram realizadas no dia 15 de novembro, mesmo dia em que se comemora a proclamação da república.

Atualmente esta se dá no mês de celebração à democracia, dia 25 de outubro.

Sendo assim, o país só tem à comemorar.

Comemorar não apenas uma vitória que simboliza a continuidade do Governo Dilma Rousseff, mas, em suma, comemorar um Brasil mais transparente.

Transparência esta que pode parecer inóspita aos que pensam-se inteligentes na afirmação de que, muitas vezes, ser ignorante é igual a sofrer menos.

Bom, se a ignorância nada mais é do que um olhar míope interposto entre o direito de saber e um estado inerte que coíbe a consciente escolha, o que seria tal afirmação se não uma aparente tolice?!

Dispensando a ignorância, que para nada serve, estaremos aptos à analisar toda subjetividade intrínseca na transparência do novo Brasil.

O novo Brasil transparente não é um país sem corrupções, enganações, etc. Aliás, não foi por estar exímio de tal traço que deu-se a continuidade para o atual Governo, uma vez ocorrências de fraudes milionárias habitarem o meio de seu curso.

A transparência que me refiro se dá na insinuação de uma crise inerente ao sentido de democracia.

E foi por este enunciado que fez a oposição perder as eleições para ela própria. Já que não haveriam motivos plausíveis que justificassem o fracasso perante um Governo imperfeito.

Diogo Mainardi, entre tantos outros, é uma das representações deste declínio proclamado numa política de direita que tende negar sua origem tupiniquim.

Este, além de ser comentarista do Manhattan Connection, programa da TV fechada brasileira, é colunista, dizendo-se também escritor e roteirista de cinema.

Não conheço seu trabalho enquanto escritor, menos ainda enquanto roteirista de cinema. No entanto, digamos que, se a arte nos aproxima da visualização habitada no imaginário, o artista, por sua vez, quando não oponente à subversão de um posto negligente, não será capaz de libertá-la do fato que a resume num mero escopo em exposição.

Comentando sobre a vitória de Dilma AQUI, Diogo disse que "... Essa eleição é a prova de que o Brasil ficou no passado", disse também que "... O Nordeste sempre foi retrogrado, sempre foi governista, sempre foi subalterno em relação ao poder; durante a ditadura militar, depois com o reinado do PFL e agora com o PT", concluindo que "É uma região atrasada, pouco educada, pouco instruída e que tem uma grande dificuldade de se modernizar, seja na linguagem etc".

Diogo tem toda razão em apresentar, apadrinhado por uma mídia tendenciosa, seu caráter de preconceito explícito, rancoroso, pois este tem a audiência de metade do país que pensa e sente igualmente.

Ele só esqueceu de certificar-se, na instituição que lhe concedeu o emblema do nível "superior", sobre o real conceito de educação, modernização, submissão, ou de atraso.

Por Tito Oliveira - objeto-instalação da série
Composto De Um Tempo Documentado -
"Embalagem Tetra Pak" -
pote de vidro, boneca de borracha -
água, óleo, pigmento torneira de gás, solda -
17x55cm - Portugal - 2013 - anglo II
Onde nasceu e vive o Diogo?

Na Noruega?

Suíça?

Não?!

Há tá... Nasceu em São Paulo, que não é Dubai, mas só oferece qualidade de vida para empresários donos de helicópteros.

Aqui no Nordeste, como na Europa, não é necessário muito dinheiro para se ter qualidade de vida.

Então vive entre as balas perdidas do Rio de Janeiro?! Que não é Paris, mas oferece o eufemismo da obsessiva necessidade de afirmação.

Entendo. Diogo quer dizer que modernização é igual a pensar como uma anta incoerente.

Já que não há outra forma de raciocínio, resta informar ao Aurélio que ele precisa retificar o grave erro que cometeu quando descreveu o substantivo no dicionário da língua portuguesa.

Não só o fato de saber com exatidão o sentido das palavras tornou mais curto o trajeto até a conclusão de que o Nordeste é retrógrado, para isso, Diogo também teve que nascer e conviver com a tão indiscutível ausência de vanguardismo vigente no Sudeste, que até então manteve-se envolto à mediocridade da repetição. Fazendo-se, contudo, mais um território da geografia que hospeda o generalizado atraso brasileiro.

Demasiado sacrifício e genialidade deu a Diogo o prestigiado posto de comentarista de TV.

Genialidade esta que também o fez consciente de que a Bahia, recinto onde reinou o liberal PFL, não abrange toda região Nordeste, já que é apenas um de seus fragmentos.

Por outro lado, o que é compreensivo, demasiado conhecimento o impediu de recordar a monarquia iniciada nos mandatos estaduais de Mario Covas (PSDB), remanescente na reeleição de Alckmim (PSDB), ambos em São Paulo, coração per capita do país.

Quer dizer, entre as prosas proibidas na cozinha da casa-grande, a nordestina encontra-se à frente, pois tem tido concessão sobre seu pedido de alforria.

Talvez o declínio da instituição de ensino superior mais conceituada da Ibero-America, causado pelo atual governo de São Paulo, que é PSDB, explique o equivocado conceito de educação de Diogo, que não sabe que aqui no Nordeste crianças têm tido pouco tempo para trabalhar em semáforos porque estão matriculadas nas escolas, sendo possível também encontrar mais cortesia nos ônibus coletivos porque seus motoristas estão menos estressados, já que possuem mais esperança em relação a seus futuros por conta do tempo que dedicam estudando em universidades.

Sobre a nossa linguagem, esta é e sempre será a mesma que concebeu artistas habilitados à proporcionar, aos sudestinos superficiais, o status de pseudo-cultos para, assim sendo, serem emergentes aceitos na roda da piada adornada com a inutilidade da luxúria que temem um dia ter que abdicar.

Desta forma, só temos a agradecer ao Diogo por deixar, aos olhos do povo, um Brasil mais transparente.

Pois sendo a democracia um sistema produtor de direitos e, estando pessoas como o Diogo desejando nos privar deste benefício assim, tão explicitamente; nos informando a respeito de sua lamentável intenção, nos dá, simultaneamente, a oportunidade de nos manter atentos e, nas próximas eleições, estimularmos ainda mais a liberdade de ir e vir possível apenas numa democracia todavia mais amadurecida.

Portanto, brindarei ao espirituoso anjo Lúcifer, que por nos mostrar o caráter de pessoas como o Diogo Mainardi, viabiliza, democraticamente, nosso direito de defesa.

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