domingo, 19 de outubro de 2014

PROVOCAÇÃO - "Opostos Não Se Atraem" - por Tito Oliveira

Por Tito Oliveira - instalação da série Composto De Um Tempo Documentado
- "Gesto Demasiado Humano" - pele de ovelha e vinil adesivo sobre chão -
Portugal - 2013
Antes de começar a introdução do pensamento que apresentarei nas seguintes linhas de escrita quero dizer que tentava encontrar um título para melhor representar o conteúdo do texto.

Como não despertei num dia reluzente, não foi fácil encontrar algo que me satisfizesse.

Então optei por "Opostos Não Se Atraem".

Também acho que soa inadequado, uma vez que beira à inverdade.

Opostos atraem-se sim...

Subitamente!

Quando insinuo tal reflexão, não estou tentando restringir a provocação à relações conjugais, mas relações quaisquer, até mesmo familiares, porque não?!

Se acha imprudência inserir a família enquanto exemplo para o contexto, ou ação supostamente semelhante à heresia, que seja, não tem problema...

Aliás, melhor dizendo, não há problema, sobretudo, porque o que poderia levar o leitor a sentir-se incomodado não é um problema meu, e sim deste que necessitará, para satisfazer-se em sua zona de conforto, alterar o trânsito percorrido por toda história da humanidade até os dias atuais.

Retomando e, já que citei heresia, podemos começar com a religião.

Em grossa alusão, ao recorrermos à história inserida no que denomino de mito bíblico, teríamos, em memória, lá no Êxodo, o registro da bonita relação infanto-juvenil entre dois irmãos herdeiros de um império faraônico, algoz e escravagista por 400 anos.

Até um deles tornar-se consciente a ponto de começar entender que o sustento de sua suntuosa diversão, luxúria, é a exploração dada na desgraça alheia.

Logo, uma discussão a respeito vem à tona, o laço se rompe, a guerra é enunciada.

Se uma criança de raízes judia conhecesse uma criança de raízes nazista em um parque de diversões, ainda que a relação entre estas fluísse na espontaneidade correspondente à bonita e ingênua natureza infantil, seria muito provável que os pais interviriam e não permitiriam que a sensação entre ambas passasse de um momento inconsciente.

Numa relação conjugal, por vez, é possível encontrar uma mulher, ou uma mulher encontrar um homem e, além de atraírem-se fisicamente um pelo outro, também encontram naquele(a) o que não tem em si enquanto mais um ponto atrativo que os façam compartilhar experiências juntos.

Tudo isso é muito excitante e bonito de narrar entre os amigos íntimos e familiares.

Imagina-se, e diz-se, até mesmo sobre a diferença suscitar evolução espiritual em ambos.

É claro que isso é possível.

Porém, é preciso que toda excitação da paixão, da novidade imagética na anatomia que estimula o frisson da química física e o frequente hedonismo perdurem até o estágio onde a fase juvenil dá lugar à fase adulta; onde sonhos são atropelados pela emergência das necessidades; ou, mais importante, até o momento em que são forçados à perguntarem-se se aquilo que nunca tiveram e os atraiu por encontrar no outro(a) é realmente o que desejavam ter em si.

Para tornar a vida proveitosa fazendo o que gosta é necessário, antes, saber sobre o que gosta.

Tal noção impedirá, por exemplo, de envolver-se com alguém habitado numa diferença que o(a) agride e evitará a ilusão.

Expandir o quesito discorrendo sobre o lado banal que apresenta motivos recorrentes na realidade contemporânea e que "justificam" a continuidade de um casal com ideais divergentes, seria igual a mergulhar em um poço de pouca profundidade. Melhor não.

Quanto à política partidária, meus caros, isso é coisa séria, muito séria.

Ela transforma, manipula, usurpa e beneficia a vida de alguns em detrimento da harmonia na vida de outros.

A discussão sobre partidarismo político pode ser muito maior do que, talvez, possamos pensar por aqui. Uma vez esta envolver uma infinitude de hipóteses que implicariam no tenso antagonismo das relações.

No entanto, existe em seu corpo um traço que podemos sintetizar utilizando-o como forma representativa de seu poder na construção e destruição de um estado de coisas.

Ainda que não encontre forma sedutora em meio ao discurso reacionário; ao contrário, já que o apreendo desprezivelmente, posso tentar entender a guerra entre um reacionário perante outro.

Em contrapartida, é difícil, para mim, compreender a guerra construída no discurso reacionário quando este se posta contrário à consciência defensora dos direitos humanos apenas para manter sua torpe necessidade.

Quer dizer, se o atual Governo do Brasil tem problemas de postura, contradições e urgência em aperfeiçoar sua gestão sobre isso não restam dúvidas. Porém, é o Governo responsável pelo maior desenvolvimento social na história política do país. Fato.

Se calcularmos o período que se deu na pré e pós-ditadura militar do Brasil, passando pelo voto direto que elegeu Fernando Color de Mello e os dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso somam quase um século de poder e pouco foi realizado em benefício do povo, mas em prol de uma classe liberal restrita e fascista.

Se pensa que estou exagerando em associar comportamento de direita ao fascismo, posso, em minha defesa, argumentar: quantas universidades foram criadas no tão aclamado governo de FHC? Fácil de responder: nenhuma. Ao contrário, seu governo deixou de investir na expansão de escolas federais dessa modalidade de ensino que estimulava a criação de escolas estaduais e comunitárias. 

Quantas universidades foram criadas no governo do PT? Mais fácil ainda de responder: 4 universidades federais novas, transformou outras 6 faculdades em universidades e criou 42 extensões universitárias.

Quanto cresceu o Brasil economicamente quando a direita estava no poder? 0,067% em quase um século?! 

Quanto cresceu o país nas quase duas décadas de governo do PT? 2,5%. Entendendo, sobretudo, que isso era possível com a diminuição da disparidade entre as classes sociais e criou um programa de combate à pobreza extrema.

Ou seja, o que se vê numa sociedade de classe burguesa e conservadora que acredita na direita brasileira é uma explícita ausência de argumentos plausíveis que justifiquem o retorno desta ao poder, contrariando acintosamente o atual Governo que, em contramão, defende igualdade. O que seria isso se não fascismo?!

Eleitores de esquerda reconhecem seus feitos, porém também admitem os absurdos de sua gestão e a necessidade urgente de aperfeiçoamento num possível mandato seguinte. Os de direita não propõem, posicionam-se como paladinos impiedosos quando são apontadas falhas de corrupção e descaso em suas gestões, além de concentrarem-se na exclusiva depreciação de seu oponente, emanando, contudo, raiva desmedida.

Conclusão, numa existência onde as relações se dão em meio ao chão de cedas artificiais, rasgadas e sobrepostas no funeral da honestidade mostrar a epiderme sem maquiagem é ato revolucionário.

Assim sendo aqui se constitui o início da minha revolução.

Aproximar-se de mim é saber que lidará com a verdade da minha essência.

Não sou fragmento de uma vontade obsessiva de aceitação. Ser aceito é importante, mas não suficiente.

Sou, enquanto artista e educador, designado à atenuar as dores do mundo. Portanto não posso submeter a dimensão e beleza do meu sacrifício ao pobre tamanho da mesquinhez.

Não ignorarei aqueles que não me entenderão, não ignoro nada. Uma vez ser a sabedoria adquirida na linha do tempo que vivi capaz de fazer-me compreender a inexistência de perguntas estúpidas.

Entretanto, para que me dispunha à uma relação social amistosa, é preciso que as dúvidas sejam evocadas e esclarecidas até a compreensão mútua. Do contrário não poderei sentir-me bem estando aliado daquele que cuida apenas de mim, mas, amigo estarei daquele que defende as condições básicas de sobrevivência enquanto um direito de todas as crianças, animais, mulheres, homens, idosos, da natureza.

Não poderei ser amigo daquele que se opõe percorrer em busca dos benefícios provocados pelo amor. Este não seria capaz de compreender e aceitar meus gestos.  

O que me trouxe aqui elucidado não foi convicção alguma, mas a sensação que tive ao refugiar-me em meu coração, onde foi possível escutar a canção tocada por notas que descreviam ser a qualidade sempre mais valiosa do que uma quantidade mórbida.

Dilma não é perfeita, seu Governo não é perfeito, mas é o que o Brasil tem de melhor.

E nós, enquanto nação, precisamos continuar sofrendo com a dor da restauração de um curso dado equivocadamente há 500 anos.

Não precisamos do desaforo inerente à uma sociedade pasteurizada, mas composta na peculiaridade de opinião e expressão de cada cidadão.

Precisamos formar pensadores, artistas (de preferência marginais) e nos tornar livres ao menos dentro de nossas casas.

Portanto, é com a convicção que antes dizia ser inexistente no refúgio do meu coração, que digo ser esse sonho possível apenas na esperança de continuidade do atual Governo.

Assim sendo, força Dilminha!

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