quarta-feira, 8 de outubro de 2014

CINEMA - c r í t i c a / d i c a - "Gilbert Grape - Aprendiz De Sonhador" - por Tito Oliveira

Gilbert Grape é um longa americano lançado em 15 julho de 1994.

Dirigido pelo sueco Lasse Hallstron (Chocolate, 2000) contou com um elenco emissor de raios luminosos sem a necessidade de maiores adornos.

Johnny Depp, dentre os emissores de raios, estava como sempre foi enquanto ator, fundamental no personagem ao que vestia o corpo, mais uma vez despreocupado com o posto de um grande ator e muito satisfeito por ter se tornado, de fato, um emblema da história do cinema.

Leonardo DiCaprio já se mostrava um coadjuvante luxuoso, extravagante em talento incontestável ao representar um adolescente excepcional com a maestria que em seguidos desafios só fora reafirmada.

Juliette Lewis nunca se arriscou tanto, talvez por limitações reconhecidas, visto demais exposições atuando onde escondeu-se cada vez mais por trás das cercas que acolhiam sua inexpressividade. No entanto foi singelamente fundamental no contexto em questão.

John C. Reilly e Mary Steenburgen são/serão sempre bem-vindos, presumo.

Endora é situada numa região remota dos Estados Unidos, comunidade "jeca", e Gilbert Grape (Johnny Depp) é um adolescente que, desde a morte de seu pai, tornou-se responsável por sustentar sua família. Sua mãe Bonnie (Darlene Cates) sofre de obesidade mórbida como consequência de uma depressão decorrente do suicídio de seu marido e pai de seus filhos, o que fez do caçula Arnie (Leonardo DiCaprio) uma responsabilidade de Grape.

Na família contém mais dois membros, as irmãs Amy (Laura Harrington) e Ellen (Mary Kate Schellhardt), que estão sempre ocupadas com os cuidados domésticos da casa. A convivência em família é envolta ao carinho e à proteção, a despeito de toda dificuldade dia após dia superada.

Grape é amante de Betty (Mary Steenburgen), uma senhora casada, até se apaixonar pela intrigante forasteira Becky (Juliette Lewis).

Ser um "Aprendiz De Sonhador", ao que me consta nesta obra-prima, é equivalente a apreender o estado de sonhador como uma dádiva cedida aos espíritos libertários.

Não que tenha tentando nos dizer, ou mostrar, exatamente, que viver bem é apenas flutuar em meio à divagações do imaginário, mas, ainda mais completo, sua narrativa evoca o desafio de saborear os passeios caminhando firme sobre o solo que nos sustenta.

Sobre a estética do filme não há nada a dizer. Era os anos 90! Onde toda sugestão do cinema americano de produção independente residia na discussão.

O figurino e o comportamento dos personagens descreviam uma população sofrida, excluída, ignorante e carente.

Porém apresentava a beleza do estado simples, que pode ser belo e, muitas vezes, extravagante enquanto posado em encantadora atmosfera bucólica, de extensa vegetação e rios de chuva.

Gilbert Grape não é apenas um romance, mas antes um drama, uma comédia que esbanja sagacidade, um suspense, é múltiplo.

Das mais espirituosas insinuações se nota ao refletir sobre o julgamento. Onde é possível constatar que este não se reduz unicamente ao outro, mas a si mesmo. A preocupação com o pensamento alheio não deve limitar-se a seus sentimentos, mas ao cuidado de quem não encontra-se apto a cuidar-se.

É preciso entender que o caos não traduz o limite, mas a chave da cela que o aprisiona e oferece o recomeço.

Lasse, enquanto diretor, não trouxe à tona uma política redondamente social, por outro lado estimulou a visualização de um suposto tratado filosófico onde a leitura é das mais simples e de largo distanciamento perante o alcance inerte na sobreposição dos valores: beleza está nos olhos de quem a vê.

Talvez discorrer sobre esse filme não seja tão fácil por este ser assim envolventemente simples. Mas posso tentar representar o que tento dizer por meio de uma analogia tão boba quanto o tamanho de sua complexidade.

É como se estivesse numa ocasião qualquer e conhecesse uma garota, e ao estar conversando com ela fala-se sobre cinema, ela cita "Gilbert Grape" com o entusiasmo de uma criança ao narrar a primeira história que seu pai leu para que dormisse; acabando por tirar seu sono, no entanto ressalta o quanto é difícil conversar sobre esse filme devido a dificuldade que é encontrar alguém que o conheça. Então, você, com o entusiasmo de duas crianças, lhe diz que o conhece e que, até encontrá-la, sentia a mesma sensação...

Bom... Melhor parar a analogia por aqui... Vocês já entenderam que "Gilbert Grape" é um filme tão bonito quanto um primeiro encontro amoroso.

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