segunda-feira, 20 de outubro de 2014

CINEMA - c r í t i c a / d i c a - "Meu Mestre, Minha Vida" - por Tito Oliveira

O diretor americano John G. Avildsen foi um dos principais responsáveis pelo Prêmio da Academia de 1979 creditado ao clássico "Rocky - Um Lutador".

Eu o cito porque, em 1989, este mesmo diretor foi responsável pela direção do também clássico "Lean On Me", traduzido para o Brasil como "Meu Mestre, Minha Vida", descrevendo; baseado em uma história real e ainda sem abdicar de um caráter então já ultrapassado de narrativa, a realidade de um professor arrogante e pouco ortodoxo que retorna como diretor de uma escola idílica da qual já havia sido demitido.

Joe Clark (Morgan Freeman) teria pela frente o desafio de controlar e fazer desenvolver um antro de abuso de drogas, violência de gangues e desespero social, urbano.

Eventualmente, os métodos por este utilizados possuíam brasão bem-sucedido, porém agredia os paradigmas da norma tradicional pedagógica. O que, por vez, se faz um dos bons pontos de interesse no filme.

Para isso, entra em confronto com os funcionários municipais que, insatisfeitos, ameaçam desfazer todos os seus esforços.

Algumas curiosidades tornaram o filme ainda mais atrativo, pois na realidade Joe Clark havia renunciado ao cargo de diretor da Eastside High Scool logo após seu lançamento.

A partir daí Clark seguiu a carreira de palestrante motivacional.

Tendo sido contratado, em 1995, para dirigir um centro de detenção juvenil em Newark, New Jersey, posição que ocupou até renunciar em 2002.

Durante sua passagem na direção do centro de reabilitação, mais uma vez envolveu-se em fogo cruzado por conta de seus métodos controversos.

O ator Morgan Freeman optou, enquanto pesquisa, por passar um período acompanhando a vida real de Joe Clark para capturar seus ditos e maneirismos.

Além disso, estudantes e professores reais de Eastside High Scool estiveram presentes como figurantes do filme.

Em uma de suas cenas (enquanto segurava um taco de beisebol ), o personagem interpretado por Morgan Freeman diz: "Eles costumavam me chamar de louco Joe. Pois agora poderão me chamar Batman!"....

Coincidentemente, ou não, anos mais tarde Freeman iria interpretar o personagem de Lucius Fox, aliado ao Batman, na trilogia Batman, do bom diretor Christopher Nolan.

"Meu Mestre, Minha Vida" ficou sob intensa crítica devido a especulações que alteraram a realidade da história do diretor Clark.

Um dos exemplos apresenta a subtrama do requisito de proficiência de que um mínimo de 75 % dos alunos tinham que passar no Teste de Competências Básicas, o que, segundo no filme, impediria o que eles denominam de um "Take -Over" do Estado americano. Traduzindo, implicaria no fechamento da instituição de ensino. Uma inverdade.

Outro fato que contrapõe a origem nos desdobramentos reais ocorridos na gestão pedagógica de Clark é que este nunca melhorou os resultados dos testes durante o seu mandato no Eastside.

O filme também peca com os muitos erros de continuidade, traço recorrente nas produções cinematográficas da década de oitenta.

Um deles se dá quando o superintendente está discutindo sobre quem contrataria como diretor e o prefeito pergunta "Qual foi a pontuação do ano passado?".  O Superintendente responde que era " 38% ". Mais tarde, quando Joe Clark já em gestão deixa o palco depois de expulsar os maus alunos, há um gráfico que mostra ter sido a pontuação do ano passado 30%.

Contudo, não se trata de um filme perfeito, ou talvez eu não o recomendasse se não fosse, antes, por ter sido contemplado com a oferenda significada no registro de uma das melhores performances já realizadas por um ator na história do cinema.

Morgan Freeman encarnou o diretor Joe Clark em sua função tão extraordinariamente que não se pode imaginar outro ator em seu lugar.

Ao nos depararmos com o contexto situacional do filme, chegamos a nos perguntar como é possível aquele cara chegar como uma espécie de xerife numa cidade pequena sem a noção de que o velho oste já não mais existe, em contraponto, suscitado por uma avalanche descontrolada na defesa de sua tese, acaba por refletir em nós espectadores a dúvida sobre uma possível reformulação na ideia pedagógica, tanto na escola quanto no próprio lar.

Morgan Freeman, ao hospedar-se no corpo do personagem Clark, se mostra tão exuberante em cena que nos salva da desnecessária convicção sobre as formas permissíveis de amar o mundo. Seja numa capa meramente enfadonha, seja por sua aparente confusão.

Embora, como a crítica americana chegou a salientar, seu estado beire uma espécie de personagem indigesto, Freeman utiliza Clark enquanto forma metafórica para aproximar a humanidade de um, digamos, louvor do perdão em detrimento dos julgamentos perante defeitos comuns do Homem.

Além de Freeman, o elenco do filme também esbanja talento com as presenças de atores como Robert Guillame e Michael Beverly Todd.

Bom filme!

Nenhum comentário:

Postar um comentário