terça-feira, 12 de agosto de 2014

CINEMA - c r í t i c a / a r q u i v o - "Nome Próprio" - por Tito Oliveira

É assustadora a quantidade de cineastas brasileiros que insistem basear-sem em livros para indolentes, interpretam estéticas desenxabidas enquanto arrojadas e, costumeiramente, terminam por desprezar o que poderia vir a ser um bom conteúdo para beirarem o ridículo.

A referência da vez são os livros Máquina de Pinball e Cama de Gato, da escritora e blogueira Clarah Averbuck, adaptados para o filme "Nome Próprio", 2007, do diretor Murilo Salles, que acaba por tornar-se um dos últimos exemplos dessa imaturidade no cinema nacional. 

A impressão que fica, ao ver a suposta obra, é que há aparente indefinição no que pretende-se transmitir. 

As vezes pensamos que nos mostram o comportamento dos jovens das grandes cidades e suas vulnerabilidades perante a dificultosa situação que venham atravessar, em outra a insinuação é que existe uma certa excentricidade em pessoas que exprimem talentos artísticos, sugerindo que esses são incapazes de se impor de maneira civilizada e/ou eloquente em uma esfera social. O que seria taxativo para os novos artistas que habitam o mundo contemporâneo. No entanto, nada fica claro. Também não fica subjetivo ou metafórico, mas, perdido, desconexo. 

O filme é tomado por um diálogo que quando não raso é verborrágico, de pouca solidez. 

A má classificação já é enunciada no que permeia a briga de um jovem casal que emigra para a gigantesca São Paulo. Já na cidade instalados descobrem que estavam enganados em seus ideais utópicos. Logo ignoram o valor da discrição e da cumplicidade em um relacionamento.

O "adultério" de Camila (Leandra Leal) perante seu namorado/marido (Juliano Cazarré) estabelece o fim do alicerce.

A garota de 25 anos é expulsa de sua casa e em seguida apresentada à típica promiscuidade das grandes metrópoles, assumindo seu caráter enfadonho e tornando-se o próprio caos.

É realmente difícil discernirmos algo de errado nesse tipo de narrativa, pois poderíamos imaginar a situação das mais variadas formas possíveis. Após ter visto o filme, não encontrei sentido em um longa percorrer por discussões compostas apenas de xingamentos e exposições de ressentimentos banais. Nada sublimado ou plausível, mas regido em suma pela gratuita explosão da blogueira Camila e seus coadjuvantes, em performances que não descreviam nem o máximo, nem o ínfimo. 

Há quem acredite haver nuances de uma boa fotografia e planos menos convencionais na direção de arte, porém nada além do razoável e repetitivo. 

O fato é que nos restou uma trilha sonora altamente compatível à inconsistência de seus desdobramentos. Ou seja: ultrapassada. 

Uma exploração de nus excessivamente piegas, quase como uma obsessão pela forma física de uma ex-gordinha global para atrair os noveleiros de plantão. 

Também tivemos que aturar, por inúmeras vezes, uma espécie de eufemismo sexual desnecessariamente prolongado. Era como se víssemos um filme pornô estrelado por iniciantes inseguros. Se não bastasse, ainda havia a deficiência técnica da edição, já que estava a ponto de percebermos nitidamente a sombra do câmera em uma das cenas. Notável lacuna de amadorismo. Lastimável! 

Daí por diante nos tornaríamos cúmplices de exemplos da falta do bom senso, do usufruto exagerado das drogas, da trivialidade do que entendemos como poética, da patifaria consentida em comum senso e dos demais adjetivos que couber no acúmulo de alusões irrelevantes.

Desse tipo de calda de dinossauro em movimento giratório e sem conteúdo nossa sociedade já se encontra saturada, presumo. Nos deparamos com isso todo o tempo em nosso cotidiano e não consigo enxergar estimulo algum em tornar esse declínio na condição humana em arte. A menos que possua um objetivo pertinente, sem clichês, provocando reflexões menos rotuladas. Precisamos de algo que nos permita sonhar além de uma realidade medíocre.  

Cheguei a remeter toda esbórnia à delinquência de "Kids"95, do diretor americano Larry Clark, mas seria clara injustiça, pois esse apresentou critério e foi sucinto no que se prestou realizar. 




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