sexta-feira, 1 de agosto de 2014

CINEMA - d i c a & c r í t i ca - "Vicky Cristina Barcelona" - por Tito Oliveira

Entre os altos e baixos de uma década marcada por expressiva transformação sofrida em seu estilo cinematográfico, a hibridez entre as artes plásticas, a fotografia e a disparidade cultural entre Europa e Estados Unidos é corpo para que Woody Allen nos apresente Vicky Cristina Barcelona, uma das expressões cinematográficas que, como as duas que a antecederam (Match Point e Scoop), suscita ainda mais convicção para este autor não atuar em seus filmes e, além disso, o ajudará a consumar sua nova linguagem.

A obra trata de temas que o diretor já visitara em quase todas as suas concepções: a soberania de uma mulher sobre um homem. O que pode dizer respeito a um estigma pessoal que este se encarregará de levar até o fim de seus dias. 

Sua premissa filosófica, no filme em questão, permeia também a inspiração artística que emana vivacidade.  Coeso à sobreposição entre uma personalidade e outra, além do hedonismo sofisticado regido por bons vinhos e belos cenários, recorrentes nas férias de verão das cidades europeias.

A confluência de situações se dá também quando Allen exprime uma espécie de obsessão em abordar a oscilação temperamental e psicológica do Homem (sapien), rompendo, nesse caso em específico, com a característica de unificar o drama e a comédia – ação indiretamente corriqueira entre um filme e outro de sua autoria. 

No entanto, em Vicky Cristina Barcelona, que tem como protagonistas as duas amigas Cristina (Scarlett Johannson) e Vicky (Rebecca Hall), a narrativa nos envolve na dicotomia entre os ideais de duas jovens e belas personagens na busca pelo amor, a harmonia no comportamento e valores.

Vicky é a menina rica e bem comportada, que pesquisa aprofundadamente a cultura catalã para seu mestrado e está noiva de um homem rico, Doug (Chris Messina), membro da alta roda Novaiorquina. No entanto, é também refém de valores absolutistas que a faz desconhecer a verdadeira essência de seus sentimentos. 

Cristina, por sua vez, embora tenha viajado provida da frustração por seu fracasso em conceber um curta-metragem de caráter pífio e ironicamente consistido no amor que nos faz libertários, é mais aberta a novas experiências e se reinventa na viagem à bela cidade espanhola, imergindo em sua nova paixão: o experimento fotográfico.

Para temperar ainda mais tamanho antagonismo entre a filosofia de vida das duas belas e jovens americanas, numa certa noite ambas conhecem, simultaneamente, em um vernissage, o pintor espanhol Juan Antonio (Javier Bardem), que é bom anfitrião, boêmio e um impetuoso galanteador, ainda que estivesse se recuperando da recente e desastrosa separação com sua esposa Maria Elena (Penélope Cruz), mulher estupendamente linda, talentosa e ainda mais sedutora que seu marido, a ponto de fincar violentamente uma faca em seu corpo e não suprimir a paixão que o mesmo desenvolvera por ela, o que despertou grande curiosidade em Cristina para conhecê-la em total intimidade.

Entre seduções, conquistas e decepções se desenrola uma trama inteligentemente hilária, provida de muito requinte e imagens grandiosas com as fotografias produzidas no filme, performances envolventes e que evocam reflexões complexas ao sair do cinema. Com o exemplo: questionarmos  se os valores que estabelecemos como primordiais para um matrimonio são realmente relevantes para atingirmos a felicidade. Ou se ficamos tão bitolados com interferências externas, impostas em suma por “regras” da sociedade em que estamos inseridos, que não enxergamos triste previsibilidade.

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