quinta-feira, 14 de agosto de 2014

POUCAS & BOAS - "A Idade Da Inocência" - por Tito Oliveira

Por Tito Oliveira - da série Escenário Para Perros Y Desmembrados
- S/ Título - nanquim sobre papel vegetal sobreposto -
45x30cm - coleção particular - Barcelona - 2012
Um dos bons sabores de se encontrar após os 30 anos de idade é quando começamos a nos dar conta de que a ansiedade e a vontade da onipresença estão dispersando-se. 

Nada como poder sair apenas quando sentir realmente vontade e não porque está entendiado ou por ser fim de semana. 

É muito bom aceitar o convite do amigo para um drinque, desfrutar de sua companhia, poder recordar dos velhos tempos na adolescência ou na universidade e discutir projetos atuais sem a pressão de ter que conquistar a primeira mulher bela que passará até o banheiro. 

Outro rico sentido do estágio pós-trinta se dá quando surgir, inevitavelmente, a oportunidade de deparar-se com aquela beldade. 

Na ocasião estará garantido que saberá exatamente o que falar, sem pressa alguma e seguro do que, antes, não precisa. 
  
Seria, talvez, menos constrangedor se as fases da vida fossem realmente coesas e bem esclarecidas para os que transitam de duas para três décadas de existência. 

Para ser mais preciso quero dizer que a coesão se daria em realmente amadurecer e desfrutar sem sofrimentos do estado que o torna adulto. Já a confusão, em geral, corresponde aos que pensam que ter uma cabeça jovial é o mesmo que não crescer. 

A incessante competitividade entre os homens brasileiros, por exemplo, é onde quero chegar. Beiram, questionavelmente, ao conflito comum do universo feminino.  

É de aspecto lastimável como o homem brasileiro se porta perante uma mulher que acabara de conhecer: se for do sexo oposto, é preciso comer (vulgarmente escrevendo). 

Muitas vezes, tamanha avidez nada tem a ver com a atração perante o sexo oposto, mas enquanto forma pueril de demonstrar ilusória virilidade ao reino dos "mach(os)istas". 

Certa vez, no velho mundo, ao conversar com uma amiga sul-africana, ouvia desta a pergunta: 

- Você é mesmo brasileiro?!..

E eu a respondi seguidamente de uma pergunta:

- Sim. Porque?!

E ela disse:

- Porque em geral os homens brasileiros não crescem, envelhecem! 

Ou seja, a obsessão de provar algo ao ego reduz em quase nada de sedução para constituir uma incessante e quase que desesperada azaração. 


O fato é que não adianta. Muitos podem pensar que por possuir cada vez mais dinheiro, que ao adquirir cada vez mais músculos, obter os maiores bens, usar as melhores grifes, adotar os mais modernos penteados ou explorar o mais conceituado cirurgião para acrescentar centímetros ao membro composto de nervos será suficiente. Porém, sem atitude será sempre um homem incompleto. E por maior que seja o número de mulheres que comprar com a ilusão, estará sempre com a metade de uma mulher. 

Nada como tornar-se amigo do tempo. 

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